A versão digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), anunciada nesta quarta-feira (3) pelo Ministério da Educação (MEC), é vista como uma tendência por especialistas de cursos pré-vestibular.
“Nos últimos anos, muitas atividades feitas no papel migraram para o computador. Parece que esse também é o caminho natural de uma avaliação”, disse o coordenador do Sistema de Ensino pH, Fabrício Cortezi.
Segundo o modelo divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o projeto-piloto acontecerá em 2020 para 100 mil candidatos de em todos os estudos brasileiros. A proposta é que tanto as provas objetivas quanto a redação sejam realizadas em uma plataforma oficial do MEC, por meio de computador. A implantação do Enem Digital será progressiva e a previsão é que até 2026 esteja consolidada, com até quatro aplicações anuais.
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Calendário do Enem 2020
Para comentar as mudanças e entender de que forma interferem nos estudos para o exame nos próximos anos, a Revista Quero conversou com Viktor Lemos, coordenador do Curso Anglo; Fabrício Cortezi, coordenador do Sistema de Ensino pH; e Vinicius de Carvalho Haidar, coordenador do Curso Poliedro.
Quais são os impactos das mudanças nos estudos?
De acordo com os coordenadores, como ainda não houve alterações em termos pedagógicos, as novidades anunciadas não mudam a dinâmica de preparação para o exame nos próximos anos.
“Os estudos devem continuar do mesmo jeito. O formato de preparação em que apostamos é absorver os conteúdos e treiná-los com exercícios. Como eu sempre digo, é preciso fazer o básico bem feito, estudar de maneira equilibrada, passando por todas as matérias do ensino médio.” – Vinicius Haidar.
“O candidato tem que estudar e aprender a lidar com os diversos conteúdos cobrados pelo Enem. Mas, pensando que a prova será no computador, provavelmente algumas adaptações deverão ser feitas depois, principalmente para os alunos que buscam carreiras mais concorridas, já que nesses casos são os mínimos detalhes que fazem a diferença.” – Viktor Lemos.
“As aulas, os estudos se mantêm. É importante focar em tudo o que é exigido na Matriz de Referência do Enem, porque isso não se alterou. Mas para quem já busca se adaptar ao novo formato, os simulados online são uma alternativa, pois é muito diferente quando você está com um caderno de prova e quando você olha para um computador.” – Fabrício Cortezi.
E no caso da redação?
“O processo produtivo da redação também não se altera. É necessário que o aluno entenda a estrutura do texto dissertativo-argumentativo e continue praticando. Fazer no computador pode até ajudar na construção, por ser mais ágil e ter a possibilidade de apagar.” – Vinicius Haidar.
“Os alunos escrevem muito no celular e, agora, eles vão escrever oficialmente. Criar um texto. É legal que as pessoas não tenham a percepção que eles vão escrever menos. Talvez, os estudantes acham até mais fácil assim.” – Fabrício Cortezi.
O que pode mudar com a redução de questões?
“Uma prova que cobra 45 questões de uma matéria tem a capacidade de avaliação do candidato muito mais ampla. Consegue, de fato, mensurar as habilidades e competências. Mas não quer dizer que 23 não faça isso. No entanto, acredito que o exame sai perdendo com uma redução drástica. No Enem, essa amplitude de questões é muito boa, pois consegue cobrar do aluno desde interpretações de poema, charge e textos em língua estrangeira, até assuntos sobre conta de luz e filosofia. É uma prova que avalia quase em 360 graus esse estudante.” – Viktor Lemos.
“A quantidade de questões influencia no tempo de prova, na estratégia que o aluno precisa adotar. Mas a abrangência de assuntos cobrados pode ser mantida, pois uma mesma pergunta é capaz de englobar diversos conteúdos, dependendo de como for construída.” – Vinicius Haidar.
Incluir novos formatos de questões é bom para o exame?
Conforme o Inep, o Enem Digital vai permitir a utilização de novos tipos de questões, com vídeos e games, por exemplo.
“Acho fundamental trazer essas questões com mídia. Formar um aluno do ensino médio em pleno século XXI que não dialogue com programação e perguntas muito mais amplas do que simplesmente memorização de fórmulas e conteúdos extremamente técnicos, está ultrapassado.” – Viktor Lemos.
A prova personalizada interfere no acesso às universidades?
Em entrevista coletiva, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que “as provas serão customizadas de acordo com a carreira que o aluno quer escolher”.
Segundo o Inep, o Enem Digital contribui para que as provas sejam adaptadas a partir dos itinerários formativos previstos na reforma do ensino médio.
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Em relação a isso, os coordenadores acreditam que a novidade vai impactar nos estudos para o exame e ainda no acesso às universidades.
“É importante entender que o Enem é uma prova e não um sistema de seleção. O aluno usa a sua nota para tentar entrar numa faculdade no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por exemplo. Mas quem define os critérios para ele concorrer são as próprias universidades. Um exemplo é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para o curso de Medicina. A instituição usa o número total de acertos no Enem e não a TRI, além de não usar a redação. O que estou querendo dizer? Que, na verdade, a determinação da mudança nos estudos dos alunos vai vim das universidades. Será que elas vão permitir que o candidato só faça a prova de um setor do Enem? Talvez elas exijam a nota de todas as matérias.” – Viktor Lemos.
“Com essa personalização, o que pode acontecer é as faculdades adotarem mais uma prova para o acesso aos cursos. Ou podem parar de usar o Enem ou complementá-lo.” – Vinicius Haidar.
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