São muitos os personagens que dão cor às avenidas e divertem os foliões durante o Carnaval. A variedade de fantasias e carros alegóricos é enorme, mas robôs e tecnologia não são tão comuns nessas festas. No desfile de 2020 de São Paulo, a Sociedade Rosas de Ouro vai quebrar essa tendência e colocar um robô para sambar no Anhembi.
Em uma parceria com três grandes universidades da capital - o Centro Universitário FEI, a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Mauá de Tecnologia -, a escola de samba, uma das mais tradicionais de São Paulo, irá abordar a Revolução Industrial 4.0 em seu samba-enredo, chamado "Tempos Modernos".

A letra do samba que ecoará no Sambódromo do Anhembi vai tratar sobre como a tecnologia transforma e vai seguir transformando diversas áreas da sociedade, entre elas, a indústria. Por isso, foram realizadas as parcerias com as universidades e com empresas que trabalham referências de tecnologia.
"Nunca uma escola de samba tinha feito essa parceria tão bacana com essas escolas de engenharia", disse a presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio. "A tecnologia veio para dentro das escolas de samba", contou Angelina durante um dos últimos ensaios da escola para o desfile.
Mesmo cada faculdade sendo responsável pelos projetos próprios, os responsáveis destacam os esforços colaborativos entre as universidades, a escola de samba e empresas, todos trabalhando por um mesmo objetivo: democratizar a revolução 4.0 por meio do desfile da Rosas de Ouro no Carnaval.
O robô da Rosas de Ouro, batizado de "Samba 10", ou ROXP4, vai acompanhar os passistas na avenida e poderá ser visto por realidade virtual. Dois carros alegóricos que estarão no desfile também estarão reproduzidos em 3D com realidade aumentada no aplicativo da Rosas de Ouro, chamado Carnaval 4.0, disponível para iOS e Android.
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Pelo aplicativo, ainda será possível acompanhar a emoção dos passistas de cada ala da escola na avenida e todos os projetos realizados pelas universidades.
Um robô na avenida mistura tecnologia e arte
Colocar um robô para dançar no Carnaval. Esse era um dos desafios que foram colocados para a equipe de estudantes e professores do Centro Universitário FEI, que precisaram aplicar conhecimentos de uma escola de Engenharia dentro de uma escola de samba.
Pode não parecer, mas a mistura faz mais sentido do que é possível imaginar. "Foi muito importante para os nossos alunos que fazem engenharia participarem desse movimento de arte e ver que dá para fazer essa fusão entre as duas coisas", aponta Michele Rodrigues, professora da FEI. "Eles viram que é um projeto de engenharia como qualquer outro."
O robô feito pelo projeto irá acompanhar a bateria da escola dançando e "batendo palmas" e ajudará na entrega de baquetas para os integrantes da ala. "A tecnologia quebra paradigmas em várias partes e vem para acrescentar cultura, mudar cultura e misturar cultura", afirma Wilclefison Marques Lima, desenvolvedor de software formado em Ciências da Computação pela FEI.
Para ele, fazer um robô se movimentar no ritmo do Carnaval foi a parte mais desafiadora. "Foram dois meses aprendendo muito para fazer ele dançar", conta.
O ex-aluno nunca havia se envolvido com a folia, mas essa experiência o fez enxergar a festa de outra maneira. Depois de todo o trabalho, o sentimento é de dever cumprido e empolgação para o desfile. "A motivação do pessoal da bateria me motivou a também estar no desempenho para chegar no dia do desfile e o robô dançar o Carnaval", diz.
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Tecnologia mede a emoção dos passistas na avenida
Cursos de Engenharia e de Design do Instituto Mauá de Tecnologia desenvolveram um medidor que vai monitorar os batimentos cardíacos, queima de calorias e passos dos sambistas. "A gente capta os batimentos por ala, então a gente consegue capturar por ala distribuindo a média da emoção", diz Agda Carvalho, professora de Design na Mauá.
Os integrantes da escola estarão com pulseiras inteligentes que vão medir essas informações e ainda coletar dados sobre o desempenho e saúde dos participantes. Os dados serão transferidos em tempo real e vão monitorar a evolução da escola na avenida, um dos quesitos mais decisivos no desfile.
A inclusão da tecnologia em uma das principais escolas de samba de São Paulo é uma oportunidade para apresentar ao público a necessidade de valorização dessa área no Brasil. Para o professor e pesquisador da Mauá, Ari Costa, usar o Carnaval para popularizar esses conhecimentos é a melhor forma de mostrar isso.
"Se o Brasil, o brasileiro médio, não entender que essa tecnologia tem que ser absorvida rapidamente pra melhorar a competitividade e melhorar as condições da sociedade brasileira, nós vamos continuar sendo um país que não fica próximo dos líderes", conta Ari. "A ideia é que isso apareça para o público e que eles entendam que é isso que precisa ser feito."
Os cursos da Mauá envolvidos no projeto são Engenharia de Produção, Engenharia de Computação, Engenharia Mecânica, Engenharia Eletrônica, Engenharia de Controle e Automação e Design.
Carros alegóricos e samba no Anhembi e no celular
Os carros alegóricos das Rosas de Ouro poderão também ser vistos em realidade aumentada por meio do aplicativo Carnaval 4.0. Em trabalho desenvolvido durante cinco meses, alunos do 3º ao 8º semestre da FEI modelaram carros 3D para que as pessoas possam interagir com ele pelos smartphones.
"Nunca imaginei trabalhar no carnaval com algo tão aplicado, uma referência ao Brasil inteiro", conta Murillo Bouzon, formado em Ciências da Computação na FEI e um dos coordenadores do projeto.

Além disso, quem usa o aplicativo também poderá acompanhar a escola de samba de dentro do sambódromo em vídeo de realidade virtual. O trabalho é feito por professores e estudantes de diversos setores da USP, como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a Escola Politécnica e a Escola de Comunicação e Artes (ECA).
A experiência está sendo incrível, principalmente para os estudantes, que estão encontrando muito espaço para pesquisar, porque isso aqui é uma pesquisa de aplicação", afirma Almir Almas, chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA.
"Eles podem aplicar na prática todas as tecnologias que estão estudando. É ótimo que eles vivenciem a sua pesquisa, a sua ciência fora da universidade", completa Almir.
Samba-Enredo da Rosas de Ouro
A Rosas de Ouro será a última escola da elite a desfilar no Carnaval de São Paulo, no sábado, 22 de fevereiro, com desfile marcado para iniciar às 5h da manhã de domingo.
A escola vai sambar em busca de seu oitavo título da elite do Carnaval paulistano. A última conquista da Rosas foi em 2010, quando desfilaram com o samba-enredo que abordou o cacau e a produção do chocolate.
Tempos Modernos
Eu sei que o tempo voa, e vai voar
Eterna como a rosa, assim será
A nossa relação, não importa a geração
Renascerá!
Sou eu, coração de aço
A cada passo, pronto pra sonhar
Meu mundo desfaço
Feito criança, vou sorrir ou chorar
Saudade do abraço amigo
Não consigo entender
Quem sabe, nas folhas do livro
Encontro o motivo, a luz do saber
O que será? Será…
Quero viver, pra ver
Como vai ser o meu destino?
Se o meu futuro não é o mesmo de um menino
Das mais belas mãos
Revoluções a nos guiar
A inovação vem dessas mentes
O que esperar?
Dona ciência, por favor não leve a mal
Chegou a hora de rasgar o manual
Quero ver minha roseira passar
É tempo de amar, é tempo de amar
Aprender, ensinar
Conectar as emoções, unir os corações
Composição: Rapha SP, Aquiles da Vila, Vaguinho, Fabiano Sorriso, Rafa Crepaldi, Salgado Luz, JC Castilho, Guiga Oliveira, Leandro Flecha e Marcus Boldrini.