Os vermes formaram um grupo na taxonomia antiga composto por animais invertebrados, de corpo alongado e mole. Essa nomenclatura não é mais utilizada cientificamente e os organismos foram divididos dentro do filo dos platelmintos, nematelmintos e alguns poucos anelídeos (muitos cientistas ainda consideram os anelídeos como vermes, mesmo que estes seres não estejam relacionados a infecções e doenças).
Dentro do Reino Animal, os vermes são os principais organismos que estabelecem relação de parasitismo com outros organismos. Os vermes são erroneamente associados a qualquer organismo rastejante, contudo, atualmente, apenas os constituintes do filo platyhelminthes e nematoda (e anelídeos) são realmente considerados vermes, e as doenças atribuídas a infecções por esses organismos parasitas são chamadas de verminoses.
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Chama-se de parasita todo e qualquer organismo que vive em associação com outro organismo e estabelece um tipo de relação ecológica interespecífica chamada de parasitismo, ou seja, ocorre entre indivíduos de espécies diferentes, e estabelece uma associação entre dois organismos na qual um é beneficiado, enquanto o outro é prejudicado.
Esse tipo de relação é caracterizada por um indivíduo, chamado de parasita, que se aloja próximo ou no interior do corpo de outro organismo, este chamado de hospedeiro. O parasita passa, então, a roubar nutrientes, biomoléculas e até a utilizar a maquinaria metabólica do hospedeiro para suprir as suas necessidades fisiológicas. Dessa forma, o hospedeiro, tendo parte de seus nutrientes e biomoléculas usurpados pelo parasita, passa a ser prejudicado nessa relação.
Quando o endoparasita coloniza o hospedeiro, é dito que houve uma infecção e, caso essa infecção cause sintomas evidentemente prejudiciais, ela passa a ser, então, chamada de doença. O termo patógeno, ou agente etiológico, pode ser empregado para referir-se a todo parasita com capacidade de provocar uma doença.
Nematóides vistos no microscópio
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As verminoses estão relacionadas com o ciclo de vida dos parasitas, também chamado de ciclo evolutivo, que organiza os acontecimentos e as transformações que ocorrem ao longo das suas vidas, compreendendo a colonização de um ou mais hospedeiros, reprodução assexuada e sexuada etc...
Dessa forma, sabendo que o ciclo evolutivo de um parasita está diretamente relacionado com os hospedeiros nos quais ele se aloja, é possível classificar dois tipos de ciclo de vida parasitária:
Os hospedeiros intermediários são os primeiros a servirem de abrigo para o parasita, alojando-o durante a fase inicial da sua vida, muitas vezes no estágio larval, e permitindo o seu desenvolvimento e a sua reprodução assexuada.
Os hospedeiros definitivos são colonizados pelo parasita em sua fase adulta, quando este já realiza reprodução sexuada. É, geralmente, nos hospedeiros definitivos que estão concentrados os maiores prejuízos da relação de parasitismo. É o hospedeiro definitivo que sucumbe às doenças parasitárias.
Os hospedeiros intermediários também podem ser chamados de vetores. Dessa forma, é possível classificar os vetores quanto a sua função servindo de hospedeiro intermediário para o parasita:
A principal forma de transmissão de verminoses é o contato com os vermes, que pode ocorrer por meio da ingestão do parasita presente na água, frutas, verduras e legumes infectados; ou da ingestão de carne infectada, como suínos e bovinos que são hospedeiros intermediários da Tênia; ou, ainda, a partir da penetração direta desses vermes no organismo humano.
A profilaxia é um conjunto de práticas que evita a transmissão de uma doença. No caso das verminoses, o principal fator responsável pela colonização do parasita é o contato com alimentos e água infectados, e essa infecção só é possível devido aos hábitos higiênicos precários de uma população. Por isso, a principal medida profilática é o saneamento básico de qualidade para todos e a conscientização higiênica da população.
Quanto ao tratamento, geralmente são utilizados medicamentos que eliminam o agente etiológico da doença, chamados de antiparasitários. No caso das verminoses, os fármacos chamados de vermífugos matam e eliminam os vermes contidos no organismo. Como as verminoses estão geralmente relacionadas com o sistema digestório, são comuns os casos de desidratação e desnutrição dos pacientes, portanto, medidas de reidratação também são empregadas junto com os vermífugos.
Doença muito comum na América do Sul, principalmente no Brasil, que tem como parasita o platelminto Schistosoma mansoni, o caramujo do gênero Biomphalaria como hospedeiro intermediário e o ser humano como hospedeiro definitivo.
Schistosoma mansoni.
O verme costuma se alojar nas veias do fígado do hospedeiro definitivo, nas quais realizam reprodução sexuada e, posteriormente, produzem ovos que conseguem perfurá-las e cair no sistema digestório, para então serem eliminados nas fezes do hospedeiro.
Uma vez no ambiente, os ovos eclodem, dando origem a estruturas larvais chamadas de miracídios, que irão penetrar nos caramujos, se desenvolver, e realizar reprodução assexuada para formar larvas chamadas cercárias, que são eliminadas pelo caramujo e podem penetrar ativamente a pele do ser humano.
Ciclo de vida do Schistosoma.
A doença pode ser dividida em duas fases:
A profilaxia, isto é, a maneira para evitar a esquistossomose, envolve:
Já o tratamento, envolve o uso de antiparasitários, chamados também de vermífugos, para combater os parasitas que já estão alojados no interior do paciente.
Doenças causadas pelos platelmintos da classe cestoda, popularmente conhecidos como tênias, que têm o ser humano como hospedeiro definitivo, e os bovinos e suínos como hospedeiros intermediários, dependendo da espécie de tênia. A Taenia Saginata se aloja em bovinos e a Taenia solium se aloja em suínos, mas ambas têm o ser humano como hospedeiro definitivo.
Taenia saginata.
A tênia fica alojada no intestino do hospedeiro definitivo, no qual realizam a autofecundação e a posterior liberação de ovos, que podem ser eliminados do hospedeiro através das fezes.
Os ovos, liberados no ambiente, podem ser ingeridos pelos hospedeiros intermediários e, no interior desses organismos, eclodem formando larvas chamadas de cisticercos, que se alojam na musculatura do animal. O ser humano, ao ingerir a carne infectada do hospedeiro intermediário, é infectado pelo parasita.
A diferença entre a teníase e a cisticercose está na forma de transmissão: Quando o cisticerco é ingerido pelo ser humano, ele contrai a tênia. Se o ser humano ingere os ovos da tênia, geralmente através do consumo de frutas, verduras e legumes ou até mesmo água infectada, ele contrai a cisticercose e, neste caso, atua como hospedeiro intermediário.
Ciclo de vida da Taenia.
A teníase pode ser assintomática ou apresentar sintomas relacionados com o sistema digestivo, como diarreia, vômitos, enjôos e até emagrecimento, já que a tênia, por não possuir sistema digestório, se alimenta de partículas de alimentos consumidas pelo ser humano.
A cisticercose, por outro lado, é mais grave. Os ovos podem se alojar em outras regiões do corpo do hospedeiro como no cérebro e na coluna, podendo causar convulsões e paralisias.
Ressonância magnética de um cérebro humano com neurocisticercose. Os glóbulos negros da imagem são os cistos de cisticercos.
A profilaxia envolve:
Doença conhecida popularmente como Amarelão, muito comum nas zonas rurais, causada pelo Nematelminto do gênero Ancylostoma, sendo o Ancylostoma duodenale a principal espécie parasita da doença.
Ancylostoma caninum, uma das espécies causadoras da ancilostomose.
O ciclo de vida do parasita causador da Ancilostomose envolve o ser humano como hospedeiro definitivo e não possui hospedeiro intermediário, apresentando, portanto, ciclo de vida monoxênico.
No interior do intestino, os vermes se reproduzem sexuadamente, gerando ovos que serão eliminados nas fezes do hospedeiro. No solo, esses ovos vão eclodir e se desenvolver em larvas chamadas filarióides, que conseguem penetrar o corpo humano através da pele, atingindo, assim, a corrente sanguínea, e seguindo para os pulmões e o coração. Nos pulmões, elas adentram as traquéias, para serem engolidas e irem para o intestino, onde podem se desenvolver na forma adulta e produzir ovos, que serão novamente liberados no meio ambiente.
A transmissão ocorre através da penetração da larva na pele do hospedeiro, ou através da ingestão da larva na forma de cisto. Os sintomas da ancilostomose podem ir desde inflamações locais (na região de penetração do verme na pele), até lesão pulmonar, cólicas, náuseas e anemia, que se caracteriza como principal sintoma.
Os parasitas da ancilostomose possuem dentículos na região da boca, que rasgam a parede intestinal para que o verme possa sugar o sangue do hospedeiro, causando a anemia. A partir da anemia, a geofagia (vontade de comer terra) é outro sintoma que pode se desenvolver para suprir a carência nutricional de minerais do hospedeiro.
Assim como todas as verminoses, as medidas profiláticas da ancilostomose são:
O tratamento envolve a utilização de antiparasitários (vermífugos) e a educação sanitária para conscientizar as pessoas dos hábitos higiênicos para evitar o contato com o verme.
Doença causada pelo endoparasita nematóide Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido como Lombriga, que apresenta ciclo de vida monoxênico. Nessa doença, o ser humano é o hospedeiro definitivo, e o contágio se dá pela ingestão de alimentos contaminados pelos ovos e larvas do parasita, como verduras e legumes, ou até mesmo pela ingestão de água contaminada.
Ascaris lumbricoides.
No interior do corpo do hospedeiro definitivo, a lombriga se aloja no intestino. Os principais sintomas da doença são: diarréia, obstrução intestinal, vômitos, emagrecimento e até lesões pulmonares (quando ocorre a ingestão de muitos ovos e larvas, que acabam se alojando nos pulmões).
Ciclo de Vida do Ascaris lumbricoides.
O tratamento envolve a utilização de fármacos que matam o verme, como os vermífugos. As principais medidas profiláticas são:
O parasita chamado Enterobius vermiculares, popularmente chamado de oxiúros, se aloja no intestino grosso humano (hospedeiro definitivo) e deposita seus ovos na região anal, provocando coceira que auxilia na liberação desses ovos no ambiente.
A doença é transmitida, portanto, a partir do contato direto entre os ovos do verme liberados no ambiente e o hospedeiro definitivo, e também pode ocorrer através da ingestão de comida e bebida infectada.
O principal sintoma é o prurido anal (coceira na região anal), inflamação, danos na parede intestinal que podem ocasionar náuseas, vômitos e diarréias.
Ciclo de vida do Enterobius vermicularis.
A profilaxia envolve:
O tratamento da oxiurose envolve o consumo de vermífugos, lavagem de roupas íntimas com água quente e troca diária de roupas íntimas, roupas de banho e roupas de cama, para evitar o contato com os ovos liberados nesses locais.
Ovos de Enterobius vermicularis
Doença popularmente conhecida como elefantíase, causada pelo nematoide Wuchereria bancrofti. Tem o ser humano como hospedeiro definitivo e o mosquito do gênero Culex como hospedeiro intermediário - apresentando, portanto, ciclo de vida heteroxênico.
Mosquito Culex, principal vetor da doença no Brasil
O ciclo de vida pode se iniciar com a formação de ovos do verme alojado no sistema linfático do hospedeiro definitivo. Esses ovos eclodem, e as larvas, chamadas microfilárias, migram para a circulação sanguínea. A partir deste momento, ao sugar o sangue do humano infectado para se alimentar, o mosquito do gênero Culex pode ingerir as microfilárias, e então, ao picar outro indivíduo, ele deposita o parasita, que migra para o sistema linfático desse novo hospedeiro, onde se inicia um novo ciclo.
A transmissão ocorre, portanto, através do mosquito hospedeiro intermediário. Os principais sintomas são febre, alergia e obstrução dos vasos linfáticos, quando o verme está adulto, e a formação de edema (inchaço) nas regiões endócrinas, por isso o nome popular de elefantíase.
Edema dos membros inferiores
A profilaxia envolve:
O tratamento é mais difícil e utiliza vermífugos para a morte do parasita. Em alguns estágios mais avançados da doença, pode ser necessária a amputação das regiões inchadas.
Euphorbia mili é uma planta ornamental amplamente disseminada no Brasil e conhecida como coroa-de-cristo. O estudo químico do látex dessa espécie forneceu o mais potente produto natural moluscicida, a miliamina L. (MOREIRA. C. P. s.; ZANI. C. L.; ALVES, T. M. A. Atividade moluscicida do látex de Synadenium carinatum boiss. (Euphorbiaceae) sobre Biomphalaria glabrata e isolamento do constituinte majoritário. Revista Eletrônica de Farmácia. n. 3. 2010 (adaptado).
O uso desse látex em água infestada por hospedeiros intermediários tem potencial para atuar no controle da: