Murilo Mendes (1901-1975) é um poeta e prosador brasileiro pertencente à segunda geração modernista. Sua obra foi marcada de maneira expressiva pelo Surrealismo, o que o tornou um expoente dessa estética no cenário nacional.
Sua trajetória literária filia-se ao Modernismo ao passo que, em seu início, o autor se alia ao Movimento Antropofágico, importante para o primeiro tempo modernista, que buscava uma maior ligação com as raízes culturais brasileiras em detrimento dos padrões internacionais impostos.
Sua ligação com o movimento modernista ficou clara, também, em sua participação em revistas ligadas a essa estética, como a “Terra Roxa e Outras Terras” e “Antropofagia”.
Já com seu primeiro livro publicado, que recebeu o nome de “Poemas”, Murilo Mendes foi agraciado com o Prêmio Graça Aranha, reconhecendo o mérito de sua produção poética.
A partir de 1953, Murilo Mendes passou a viver na Europa, e, a partir de 1957, em Roma, onde atuava como professor de Literatura Brasileira.
Seu livro “Poemas” foi marcado pela influência do movimento modernista da época. Na obra, Murilo Mendes abordava temas como o nacionalismo, o folclore nacional e utilizando recursos como a presença da linguagem coloquial, do humor e da paródia.
Além disso, é possível notar em suas obras a influência das vanguardas europeias do período. A estética que mais se destaca na obra de Murilo Mendes, nesse sentido, é a surrealista, na medida em que figuras do inconsciente, e que remetem a um ilogismo, aparecem, sobretudo em seus versos.
Murilo Mendes escreveu obras em prosa e em poesia. Nessas obras, destacaram-se as influências das vanguardas europeias da época, como cubismo e surrealismo, principalmente. A construção de imagens ilógicas, contrariando o senso, também é característica de sua produção. Abaixo, segue a cronologia das principais publicações do escritor.
Um dos principais recursos de construção textual utilizados por Murilo Mendes foi a paródia, que já era bastante retomada pelos poetas da primeira geração modernista. Entre as obras parodiadas pelo poeta, estão, por exemplo, a Carta do Descobrimento, de Pero Vaz de Caminha, e a Canção do exílio, do poeta romântico Gonçalves Dias.
Veja abaixo o poema original de Gonçalves Dias e, posteriormente, a paródia feita pelo poeta modernista.
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias)
Canção do exílio (paródia)
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
(Murilo Mendes)
O uso de estruturas sintáticas paralelas ao poema original ajuda a construir a relação intertextual de paródia entre os poemas. Além disso, pode-se dizer que a paródia de Murilo Mendes apresenta uma postura mais crítica do que a encontrada no poema original, que idealiza a pátria, ao passo que o modernista criticava a influência estrangeira nos elementos apresentados em seus versos, apontando para a necessidade de valorização daquilo que é genuinamente nacional.
O sistema de oposições utilizado por Murilo Mendes, como em “nossas frutas mais gostosas/mas custam cem mil réis a dúzia” também colabora para construir o tom paródico em relação ao cenário ideal construído no poema original.
Em relação ao Modernismo, Murilo Mendes: