Rachel de Queiroz (1910-2003) foi uma escritora, jornalista, tradutora e teatróloga cearense, além de ter sido a primeira mulher a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL), na qual ingressou em 1977, e a receber o Prêmio Camões, no ano de 1993. Foi, também, professora de história.
Tamanha é a sua importância para a literatura brasileira, que foi inaugurado, em Quixadá, cidade em que a escritora viveu no estado do Ceará, em 2003, ano de sua morte, o Centro Cultural Rachel de Queiroz.
Sua obra de estreia, intitulada “O Quinze”, publicada no ano de 1930, que retrata a seca que assolou o Nordeste em 1915 e a situação de vida a que estavam submetidos os retirantes nordestinos, foi premiado pela Fundação Graça Aranha.
Na historiografia literária, a obra da autora é classificada como pertencente à segunda geração da prosa modernista. Apesar disso, Rachel de Queiroz ultrapassou a estética proposta pelo denominado "romance de 30", construindo novos caminhos após seus dois romances iniciais.
Influenciada pelas correntes ideológicas do Brasil às vésperas do Estado Novo, percebe-se, em sua obra, a presença do comunismo (stalinista e trotskista) e do integralismo. Embora não seja a temática central, as questões políticas ajudam a compor a atmosfera de seus romances. Mais tarde, a autora variou do socialismo libertário ao conservadorismo, que pode ser verificado, sobretudo, em suas crônicas.
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A prosa da segunda geração modernista faz parte do período que ficou conhecido, também, como "a era do romance brasileiro". Esse romance, por sua vez, chamado de romance de 30, dava ênfase às questões regionalistas e contou com um expressivo grupo de autores nordestinos, os quais se dedicaram a retratar um dos mais graves problemas que assolam a região nordeste: a seca e, por consequência, a vida dos retirantes.
Rachel de Queiroz inclui-se no grupo que traz a seca do Nordeste como tema. A autora explorou este expediente regionalista em seus dois primeiros romances, chamados “O Quinze” e “João Miguel”.
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A produção literária de Rachel de Queiroz passa, inicialmente, pela escrita de dois romances que se classificam tipicamente como romances de 30. Posteriormente, se envolve de forma mais consciente com política.
Primeiro, foi influenciada pelas ideologias correntes da época, como comunismo e integralismo, mas, depois, passou da posição do socialismo libertário a um espírito conservador, que se importava com a preservação do status quo.
Veja, a seguir, em ordem cronológica e de acordo com o gênero literário a que pertencem, suas principais obras.
Ficção:
Teatro:
Crônicas:
A obra “O Quinze” foi publicada no ano de 1930 e é o romance de estreia de Rachel de Queiroz, tendo sido agraciado com prêmio da Fundação Graça Aranha, demonstrando o grande talento da autora desde o início de sua carreira literária.
Esse romance, inclusive em seu título, faz referência à seca ocorrida em 1915, a qual foi muito severa, agravando as já precárias condições de vida do sertanejo nordestino. Seu caráter de fundo realista projetou a autora, ainda em sua estreia, aos altos nichos da literatura nacional, tendo recebido elogios de grandes autores da época, como, por exemplo, Mário de Andrade, um dos maiores nomes do Movimento Modernista brasileiro.
O enredo da obra trata da difícil viagem a que os retirantes nordestinos se submetem em busca de condições de vida mais dignas, em decorrência do problema da seca e da miséria. Nessa obra, o leitor se depara com a luta de Chico Bento e sua família para superar diversos desafios, como fome e sede.
Leia o fragmento de texto para responder a questão a seguir.
Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.
- Mãezinha, cadê a janta?
- Cala a boca, menino! Já vem!
- Vem lá o quê!...
Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos... nem um triste vintém azinhavrado...
Lembrou-se da rede nova, grande e de listras que comprara em Quixadá por conta do vale de Vicente.
Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de fome.
Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo dum velho pau-branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao tempo, porque aqueles cepos apontados para o céu não tinham nada de abrigo.
O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:
- Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito...
Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e um litro de farinha:
- Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu isso, e ainda por cima se fazendo de compadecido...
Faminta, a meninada avançou; e até Mocinha, sempre mais ou menos calada e indiferente, estendeu a mão com avidez.
(QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1979, p. 33).
"O Quinze", romance de estreia de Rachel de Queiroz, publicado em 1930, retrata a intensa seca que marcou o ano de 1915 no sertão cearense. Considerando o fragmento apresentado, é CORRETO afirmar: