O linguista Roman Jackobson foi o estudioso responsável por desenvolver a teoria segundo a qual existem seis funções da linguagem. Essa teoria se baseia na ideia de que os atos de linguagem podem ser divididos em seis componentes: o emissor, o receptor, a mensagem, o contexto, o canal e o código.
Cada um desses componentes se refere a uma determinada função da linguagem, de acordo com seus objetivos e características. Assim, ao focar em um desses componentes, um texto se aproxima mais da função da linguagem ao qual esse componente se relaciona. É válido ressaltar que, em um texto, diferentes funções da linguagem podem estar presentes, mas, de acordo com o objetivo da produção, é possível identificar qual das funções é predominante.
A função poética, por sua vez, é aquela cujo foco está centralizado na própria mensagem. Por isso, a estrutura utilizada para a construção da mensagem, bem como os recursos estilísticos (de som e de sentido, por exemplo) são elementos importantes para caracterizar essa função, que pode ser percebida, por exemplo, em poemas e letras de música.
O primeiro elemento que pode ser entendido como característico da função poética é a valorização do texto no que se refere a sua elaboração. Isso se reflete, por exemplo, no tipo de vocabulário utilizado e nos procedimentos de construção de ideias que são mobilizados.
Em relação ao tipo de linguagem presente em um texto no qual predomina a função poética, é possível encontrar uso de termos em seu sentido conotativo, ou seja, no sentido figurado.
Além disso, o autor do texto pode fazer combinações inusitadas de palavras, chegando até mesmo a criar novas palavras, os chamados neologismos. Um autor que utilizou esse recurso em ampla escala foi o autor brasileiro Guimarães Rosa.
No que se refere à construção das ideias, a função poética é caracterizada pelo uso de figuras da linguagem, tais como metáforas, metonímias, hipérboles, aliteração, entre outras.
O uso das figuras de linguagem contribui para a elaboração de novos sentidos das palavras, que é um recurso bastante presente em textos em que a função poética predomina, como no caso dos poemas e das músicas.
Como já foi dito anteriormente, a função poética se faz presente, principalmente, em poemas e em letras de música.
Veja, a seguir, um poema de autoria de Camões:
“Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Perceba que a preocupação central do poema é a própria mensagem, o que pode ser observado pelo cuidado com a seleção do léxico. Além disso, é importante destacar o cuidado com as rimas nos finais dos versos, a preocupação formal (com a métrica, por exemplo), entre outros elementos que compõem a estética do texto.
No soneto de Camões, também é possível destacar o uso de figuras de linguagem, como as metáforas, como ocorre no primeiro verso (“Amor é um fogo que arde sem se ver”), e as antíteses, a exemplo do contraste que pode ser visto no segundo verso (“É ferida que dói, e não se sente”).
A função poética não se limita, necessariamente, a poemas e letras de música. Ela pode aparecer, também, em outros tipos de texto, como em publicidades. Além disso, é possível que ela apareça aliada à outra função da linguagem, como a emotiva e a conativa.
JAKOBSON, Roman. 1960. Lingüística e poética. In: _____ . Lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1991
“Funções da Linguagem - Metalinguagem, Fática e Poética [Prof Noslen]”, canal “ Professor Noslen”
PORÉM IGUALMENTE
É uma santa. Diziam os vizinhos. E D. Eulália apanhando.
É um anjo. Diziam os parentes. E D. Eulália sangrando.
Porém igualmente se surpreenderam na noite em que, mais bêbado que de costume, o marido, depois de surrá-la, jogou-a pela janela, e D. Eulália rompeu em asas o voo de sua trajetória.
COLASANTI, Marina. Um espinho de Marfim & outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1999. p. 44.
O único recurso da função poética que NÃO está presente no texto é: