O polissíndeto é uma dentre as figuras de linguagem existentes na língua portuguesa. Em relação à classificação, o polissíndeto é considerado uma figura de construção, já que aparece no modo como os períodos se constroem.
Nesse sentido, o uso dessa figura de linguagem aparece para conferir uma maior expressividade à linguagem, independente de ser na linguagem oral ou na linguagem escrita.
Ele consiste, basicamente, na repetição deliberada de um elemento (uma conjunção, por exemplo) com o intuito de promover ênfase, intensificação, destaque.
A caracterização dessa figura de linguagem já está presente desde a sua própria nomenclatura. O termo polissíndeto é de origem grega (o termo original é polysýndeton), formado pela junção de poly, que significa muitos, vários, e sýndeo, verbo que significa unir, juntar, ligar. Portanto, o significado desse termo originalmente já diz respeito a diversas ligações/uniões.
Apesar de parecer uma definição bastante simples, é necessário, além de saber que o polissíndeto se constitui a partir do uso repetitivo e excessivo de algumas conjunções entre períodos, por exemplo, lembrar-se de um conceito referente à organização das orações e que diz respeito ao período composto.
Quando um período é composto por coordenação, as orações que o formam podem ser classificadas como sindéticas ou como assindéticas. As orações sindéticas são aquelas cuja conexão é realizada pelo uso de um conectivo (como uma conjunção), enquanto as assindéticas são marcadas pela ausência desse conectivo.
Sabendo disso, é possível, além de entender um dos contextos de uso do polissíndeto, identificar sua figura de linguagem oposta: o assíndeto.
Assim, se o polissíndeto é marcado pelo uso repetitivo de conjunções, o assíndeto representa exatamente o contrário: trata-se de uma figura de linguagem caracterizada pela ausência de conjunções, o que resulta, portanto, no uso de orações coordenadas assindéticas.
Veja, a seguir, a diferença entre frases em que há o uso do polissíndeto e do assíndeto:
Na frase I, é possível notar o uso excessivo da conjunção aditiva “e”, visto que ela aparece sete vezes. Essa repetição proposital, a que damos o nome de polissíndeto, pode ter efeitos e objetivos diversos, como, por exemplo, marcar progressão, gradação, intensidade, entre outras possibilidades.
Já na frase II, as orações existentes são separadas apenas pelo uso de vírgulas, sem a ocorrência de quaisquer conjunções. Dessa forma, tais orações são classificadas como orações coordenadas assindéticas, marcadas pelo assíndeto, isto é, pela não aparição de conjunções entre as orações que compõem o período.
Como dito anteriormente, o uso do polissíndeto pode ter diferentes objetivos, alcançando efeitos diversos de acordo com o contexto. Essa figura de linguagem pode ser utilizada para denotar gradação, intensidade, ênfase, entre outras.
Veja, abaixo, alguns exemplos de uso de polissíndeto em letras de músicas e também em textos literários de diversos autores:
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval
(Podres poderes – Caetano Veloso)
(Sereia – Lulu Santos)
(Euclides da Cunha)
e as crianças das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
(Manuel Bandeira)
(Fernando Pessoa)
– Otto Lara Resende
BECHARA, Evanildo. Gramática Fácil da Língua Portuguesa – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TERRA, Ernani. Minigramática.São Paulo: Scipione, 2007.
Vídeos
“Figuras de Linguagem - Mais Fáceis do que Nunca: POLISSÍNDETO”, Canal “Ulisses Mrf”
O Guardador de Rebanhos
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
(CAEIRO, Alberto. In: Obra poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1972. p. 215)
“E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio de minha aldeia.”
Na estrofe transcrita aparece uma figura de construção reconhecida como: