Chernobyl: tudo o que você precisa saber sobre o maior acidente nuclear da história
Série da HBO trouxe de volta à tona a história do maior acidente nuclear da história; saiba tudo sobre esse desastre
Você já ouviu falar em Chernobyl? E desta vez não estamos falando da minissérie da HBO que conquistou milhares de “fãs”, mas sim da maior fatalidade nuclear da história.
Entretanto, para você que acompanhou os cinco episódios da série ou quer aprender o que aconteceu naquele fatídico 26 de abril de 1986, a Revista Quero fez um compilado de tudo o que você precisa saber sobre o acidente nuclear de Chernobyl. Confira!
O que aconteceu em Chernobyl?
Localizada na antiga República Socialista Soviética da Ucrânia, a cidade de Chernobyl, em meados dos anos 70, foi o local escolhido pela União Soviética para a implementação da Usina Nuclear V. I. Lenin, criada para ofertar energia elétrica para a região.
Entretanto, tudo mudou na madrugada de 26 de abril de 1986. Neste dia, para uma manutenção de rotina, os sistemas de segurança e o nivelador de energia do reator nuclear n°4 foram desligados e, para aproveitar a oportunidade, os operário da usina decidiram realizar um teste de capacidade, ou seja, eles queriam descobrir quanto tempo o reator conseguiria operar em segurança sem uma fonte de energia externa, até que os geradores reservas entrassem em ação.
Devido a uma instabilidade da potência do reator, a temperatura do núcleo chegou a 2000°C e, já que os sistemas de segurança estavam desligados, não foi possível controlar a situação em tempo.
Esse erro no sistema, que durou apenas alguns segundos, gerou uma nuvem de vapor muito forte, que resultou numa explosão tão forte que destruiu o teto daquele reator, que pesava cerca de mil toneladas. Isso causou um incêndio dos componentes químicos, que só foi controlado nove dias depois da detonação do núcleo.
Com a exposição e a explosão do reator, jatos de compostos radioativos foram lançados para a atmosfera, que alcançaram diversas partes da Europa e da própria União Soviética.
Após meses de trabalho para contenção da radioatividade, mais de meio milhão de pessoas trabalharam no local para descontaminar a região em volta da usina, uma espécie de sarcófago foi construído ao redor daquele reator, enterrando 200 toneladas de cúrio, 30 toneladas de pó contaminado por radioatividade e 16 toneladas de urânio e plutônio.
Em 2017, após a constatação de que radiação estava vazando da estrutura criada 30 anos antes, o governo ucraniano instalou reforços para conter qualquer tipo de vazamento.
Curiosidade: apesar do desastre, o reator nº 3 da Usina de Chernobyl continuou a funcionar até o dia 15 de dezembro de 2000, quando foi desligado em uma cerimônia oficial.
Quantas pessoas morreram em Chernobyl?
Até hoje, os dados sobre o número de mortes devido a esse acidente nuclear são inconclusivos. Nos três primeiros meses após o desastre, foram registradas 31 mortes por exposição aos compostos. Porém, 237 pessoas sofreram de síndrome aguda da radiação (SAR), sendo que diversas morreram anos após a explosão do reator.
A estimativa é que entre quatro mil e cinco milhões de pessoas foram atingidas pelos resquícios radioativos e desenvolveram doenças causadas pelo contato.
Qual foi o impacto ambiental em Chernobyl?
Você sabia que foi graças à natureza que outros países da Europa desconfiaram sobre o vazamento de material radioativo? Antes disso, a alta cúpula soviética mantinha em segredo a explosão do reator n° 4, até mesmo por não compreender o tamanho do desastre.
Em 28 de abril, quase dois dias após o acidente, trabalhadores de uma usina nuclear na Suécia, a mais de 1.100 km de distância do foco da explosão, encontraram partículas radioativas em suas roupas. Após certificar que as usinas do país estavam seguras, autoridades suecas começaram a sua busca pela fonte de radioatividade. Isso aconteceu porque, com explosão e o incêndio na usina, um tipo de cinza nuclear foi dispersada pelo ar e, devido à sua leveza, conseguiu “viajar” para alguns países da Europa.
Já no local, a radioatividade de Chernobyl contaminou o solo e os animais que estavam naquela área. Para se ter uma dimensão da fatalidade, os dez quilômetros quadrados próximos à usina ficaram conhecidos como “Floresta Vermelha”, já que a vegetação naquela região ficou dessa cor antes de morrer devido os altos níveis de radiação.
Além disso, os animais que sobreviveram à radiação tiveram filhotes com mutações genéticas como, por exemplo, o dipigo, uma malformação que resulta no desenvolvimento de duas bacias e quatro membros inferiores.
Como está Chernobyl hoje em dia?
Chernobyl e Pripyat, cidade ao lado que foi desenvolvida para acolher a família de trabalhadores da usina, permanecerão inabitáveis por cerca de 20 mil anos, quando o nível de radiação será extinto.
Por enquanto, ambas são consideradas cidades fantasmas e continuam com áreas de alta concentração de radioatividade. Entretanto, há alguns anos, a região foi aberta para turismo. Assim, curiosos podem, com a companhia de um guia turístico, conhecer o cenário do maior acidente nuclear da história.
Em 2018, o youtuber Felipe Castanhari, do canal Nostalgia, teve a chance de visitar o local e mostrar como estão os destroços das cidades:
Chernobyl brasileira: o caso do césio-137
Enquanto a União Soviética tentava estancar as consequências de Chernobyl, o Brasil sofria com o seu primeiro acidente nuclear que, curiosamente, não aconteceu nas duas usinas nucleares brasileiras, mas sim em ferro-velho em Goiânia (GO).
Curiosidade: o caso do césio-137 em Goiânia é o maior acidente nuclear da história que aconteceu fora de uma usina. Na Escala Internacional de Acidentes Nucleares, foi classificado como nível 5 (acidente com risco fora da localização), numa escala de zero a sete, sendo que sete é o nível de mais alto de risco.
Tudo começou em setembro de 1987, quando dois catadores de sucata encontraram um aparelho de radioterapia abandonado em um prédio pertencente ao estado e, ao desmontar a estrutura, encontraram chumbo e mais uma cápsula com césio-137.
Alguns dias depois, os homens venderam para Devair Ferreira, dono de um ferro velho, o material, que começou a brilhar e chamar sua atenção. Ao encontrar o pó que emitia um brilho azul, Devair mostrou sua descoberta para familiares e amigos, o que iniciou uma grande contaminação pela substância.
Algum tempo após o contato com o material, as pessoas começaram a desenvolver os sintomas do contágio como, por exemplo, náuseas, vômitos e diarreia. Ao serem encaminhados para hospitais, médicos e enfermeiros não conseguiram descobrir o que era aquela doença, prescrevendo remédios de infecção.
A descoberta da radiação só foi feita porque Maria Gabriela, esposa de Devair, que já estava com os sintomas, recordou do pó brilhante e levou até a Vigilância Sanitária da cidade. Foi apenas em 29 de setembro que o alerta de infecção por radioatividade foi emitido. O material foi encontrado pelos catadores de sucata em 13 de setembro.
Após a emissão do aviso, mais de 110 mil pessoas passaram por avaliação na época. Logo após o acidente, foram registradas quatro mortes, entre elas a de Maria Gabriela e de uma criança de seis anos, além de duas mortes posteriores de pessoas diretamente envolvidas no desastre.
Entretanto, a Associação Vítimas do Césio 137 afirma que até 2012 mais de 100 pessoas morreram em decorrência da contaminação e cerca de 1600 sofreram consequências da contaminação.
“Se não tomarmos cuidado, este acidente pode acontecer em qualquer outra parte do mundo. As autoridades ainda não entenderam o perigo de deixar essas coisas à solta de qualquer forma”, apontou Odesson Alves Ferreira, um dos sobreviventes do acidente ao Mais Goiás.
Para diminuir o risco de contágio, dezenas de casas daquela região foram demolidas e enterradas, além veículos, pavimentos, animais e árvores que foram identificadas como radioativas. Trinta anos após o acidente, a casa de Devair continua sendo um terreno inabitado e abandonado como uma lembrança dos riscos da radiação.