A pasta de dente é um item de uso diário, indispensável para a maioria dos brasileiros (conhecidos pelo cuidado com a higiene pessoal). Por ser um hábito, a maioria das pessoas não param para pensar o que tem na composição do creme dental.
Considerando boa parte da sociedade como leiga em odontologia, não é comum questionarmos quais são os cuidados que precisamos ter em relação aos produtos comprados, confiando nas orientações dos dentistas e até da internet.
Especialmente em relação às crianças escovando os dentes, o caso recente da pasta Colgate, que foi suspensa pela Anvisa, acende um novo alerta para as famílias, gerando ainda mais dúvidas sobre segurança e composição.
Então, se você é mãe, pai ou um jovem que quer cuidar melhor dos dentes, trouxemos neste artigo respostas para as dúvidas mais comuns de um jeito simples, direto e confiável!
Para isso, contamos com a participação especial do dentista Lucas Inácio, que é formado em Odontologia pela Universidade Estadual de Joinville, Especialista em Ortodontia pela IOA Joinville e Mestre em Harmonização Orofacial pela São Leopoldo Mandic (Campinas).
Atualmente, ele atua como cirurgião-dentista e é o Responsável Técnico da Clínica Monet, além de lecionar em odontologia há mais de 7 anos como Professor e Gestor na Rede IOA (Instituto Orofacial das Américas), a maior escola de pós-graduação em odontologia do Brasil.
Neste artigo você irá ver:
Por se tratar de um produto usado na boca, a idade em que uma criança pode usar “pasta de dente normal” é a preocupação real de muitos responsáveis. Considerando o desenvolvimento de cada criança, essa idade pode variar!
“A introdução da pasta de dente com flúor deve ocorrer desde a erupção do primeiro dente decíduo, independentemente da idade”, informa o dentista. Ou seja, assim que nascer o dentinho do bebê.
A “pasta de dente normal”, que costuma conter fluoreto de sódio (ou outro), apesar de poder ser usada, precisa de supervisão dos adultos, principalmente no início das crianças escovando os dentes sozinhas. Por isso, o especialista alerta:
A recomendação atual da Associação Brasileira de Odontopediatria (ABO) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é utilizar pasta fluoretada com concentração mínima de 1000 ppm de flúor, inclusive em crianças menores de 3 anos, com a devida orientação quanto à quantidade – o equivalente a um grão de arroz cru
Um ponto importante é sempre consultar um dentista e perguntar sobre a melhor composição do produto para a faixa etária e desenvolvimento da criança e até do adulto. Questões como sensibilidade podem mudar completamente as recomendações, por exemplo.
O começo do uso de pasta de dente está diretamente relacionado ao nascimento dos dentes. Antes disso, porém, os pais podem limpar a gengiva do bebê com uma fraldinha ou gaze molhada apenas. Lucas Inácio reforça:
O uso da pasta dental deve iniciar assim que irromper o primeiro dente na cavidade oral, normalmente por volta dos 6 meses de idade. Essa conduta é essencial para estabelecer o hábito de higiene oral precoce e para garantir a exposição tópica ao flúor desde os primeiros meses de vida, prevenindo o desenvolvimento de lesões cariosas
Junto com o crescimento da criança, a quantidade de pasta também irá aumentar. No entanto, atenção! Essa fase de transição exige cuidado dos pais para as crianças escovando os dentes corretamente.
No dia 27 de março de 2025, o creme dental “Colgate Total Clean Mint” foi suspenso pela Anvisa após algumas pessoas terem reações ao uso, como:
A suspensão trouxe como suspeito o ingrediente “fluoreto de estanho”, que é um tipo de flúor com ação antibacteriana, mas pode causar sensibilidade em algumas pessoas, e faz parte da formulação do produto.
O ocorrido Colgate Anvisa ainda está em andamento, mas já gerou alerta e reforçou a importância de acompanhar a composição dos cremes dentais. No momento (28/03/2025) a empresa conseguiu recorrer a suspensão.
A maioria das pastas de dente conhecidas costumam ter fluoreto, principalmente o fluoreto de sódio. Na formulação do produto, ele entra como o responsável por deixar o dente mais forte e ajudar na prevenção das cáries.
“As pastas dentais que contêm fluoreto são aquelas que apresentam na composição fluoreto de sódio (NaF), monofluorfosfato de sódio (MFP) ou fluoreto estanhoso (SnF₂)”, conta o dentista.
Das marcas populares presentes nos mercados, alguns exemplos de creme dental com fluoreto são:
“A grande maioria das pastas dentais comercializadas contém uma dessas formas de flúor, com concentrações que variam entre 1000 e 1500 ppm para uso adulto”, continua Lucas. “No entanto, é fundamental verificar no rótulo a concentração exata e a forma química do fluoreto presente”, completa.
Apesar do ocorrido recente, é importante garantir que a pasta tenha esse ingrediente, pois ele é fundamental para a saúde bucal, pois, mesmo com as crianças escovando os dentes corretamente, a pasta de dente tem várias funções.
Mesmo que a maioria das pastas contenham fluoreto, nem todas usam o de estanho, como a que foi suspensa pela Anvisa.
O fluoreto de estanho é um tipo de flúor que tem ação antibacteriana e ajuda no combate às bactérias que causam gengivite, por exemplo. Contudo, nem todas as pessoas se dão bem com ele, assim como vários outros componentes de produtos de higiene.
Por isso, o recomendado é sempre ficar atento a possíveis sinais adversos e reações ao uso de algum produto, por exemplo:
O caso da Colgate Anvisa chamou a atenção justamente para esse detalhe. Um produto do dia a dia, que, no entanto, surpreendeu com efeitos colaterais em algumas pessoas, mas não todas. Então, é importante se atentar ao seu próprio organismo e usar produtos certificados.
Porém, Lucas Inácio dá um alerta sobre possível “reação” após escovar os dentes: “o uso contínuo de pastas dentais com alta abrasividade ou com ingredientes irritantes também podem causar desgaste do esmalte, retração gengival ou sensibilidade dentinária, especialmente em pacientes com escovação agressiva”.
Esse é o tipo de flúor mais comum nas pastas. “O fluoreto de sódio atua como um agente anticariogênico, promovendo a remineralização do esmalte dentário e inibindo a desmineralização provocada pelos ácidos oriundos do metabolismo bacteriano”, informa Lucas Inácio.
“Além disso, ele interfere no metabolismo das bactérias cariogênicas, especialmente o Streptococcus mutans, reduzindo a produção de ácido e o acúmulo de biofilme dental”, completa.
Ou seja, fluoreto de sódio serve para:
Usado na quantidade certa e desde cedo, com supervisão dos pais nas crianças escovando os dentes, ele é considerado seguro e eficaz.
A diferença entre flúor e fluoreto, apesar de muito comuns e presentes na vida das pessoas desde a infância, não é tão conhecida! Porém, apesar de ser uma confusão frequente, é uma diferenciação simples, explica o cirurgião-dentista:
Flúor é o elemento químico em seu estado gasoso, altamente reativo e não encontrado livre na natureza devido à sua instabilidade”. Já o fluoreto é o íon do flúor (F⁻), uma forma estável que se combina com outros elementos, como sódio ou estanho, formando compostos utilizados de forma segura em produtos odontológicos
Então:
Essa é, então, uma questão química! “Portanto, nas pastas dentais, o termo correto é “fluoreto”, pois é esta a forma ativa que exerce os efeitos benéficos na prevenção da cárie”, finaliza Lucas.
Os alunos podem e até devem escovar os dentes na escola, já que é uma prática saudável e altamente recomendada. A prática pode vir após o lanche ou o almoço, por exemplo. A escovação no colégio ajuda a criar uma rotina de cuidados com a saúde bucal e reforça bons hábitos para a criança.
Além disso, muitos programas de saúde pública incentivam a escovação nas escolas. Algumas vezes, ocorre, inclusive, a distribuição de kits com escova e creme dental (geralmente com fluoreto de sódio).
Em relação ao uso de pasta de dente, o dentista só reforça que:
O que pode representar risco à saúde é o uso excessivo ou inadequado, como a ingestão recorrente e em grandes quantidades por crianças pequenas, o que pode levar à fluorose dentária — uma alteração no esmalte causada pela ingestão crônica de flúor durante a formação dos dentes
Então, as crianças escovando os dentes na escola é, também, importante nas fases em que estão aprendendo sobre higiene pessoal e saúde, podendo fazer toda a diferença na prevenção de cáries.
Para realizar uma boa e correta escovação nas escolas, é importante seguir alguns cuidados básicos, como:
O momento da escovação, inclusive, pode ser aproveitado por professores e agentes de saúde para ensinar diversas coisas relacionadas à saúde bucal, como a importância de escovar os dentes e o papel de cada item (pasta, escova, fio dental…).
O creme dental da Colgate que a Anvisa proibiu foi o “Total Clean Mint”. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária suspendeu a venda temporariamente após consumidores relatarem reações adversas ao usarem o produto.
A presença do fluoreto de estanho, suspeito pelas reações, está sendo investigada. Por isso, a Anvisa recomendou que o produto não seja consumido até obterem os resultados das investigações.
No entanto, a Colgate afirmou ter entrado com um recurso, que resultou na suspensão da interdição. Até nova posição, fica a critério do consumidor e dos estabelecimentos ter medidas preventivas até que se confirme a segurança do produto.
O episódio reforça a importância de sempre estar atento aos rótulos dos produtos, principalmente para quem tem sensibilidade ou crianças. Porém, não deve ser algo que desincentive a prática da escovação.
“De modo geral, as pastas dentais, especialmente aquelas com flúor, são seguras, eficazes e fundamentais na prevenção da cárie dentária, desde que utilizadas de forma adequada e conforme a faixa etária”, ressalta o professor de odontologia.
“Portanto, a pasta de dente não faz mal quando usada corretamente — respeitando a quantidade recomendada, a técnica de escovação e a indicação profissional de qual tipo de dentifrício é mais apropriado para cada caso”, conclui o especialista.
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