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Carolina Maria de Jesus

Biografias - Manual do Enem
Gabriela Botelho Publicado por Gabriela Botelho
 -  Última atualização: 4/12/2023

Introdução

Carolina Maria de Jesus (1941 - 1977) foi uma escritora brasileira. Negra, moradora da favela do Canindé e catadora de lixo, sua narrativa e olhar crítico nos trás outras possibilidades de leitura do nosso país.

Carolina Maria de Jesus. Sua obra nos permite ver outras perspectivas sobre o Brasil.

Foi o seu livro “Quarto de Despejo: o Diário de uma Favelada” que tornaria Carolina Maria de Jesus conhecida. Nele, a autora conta seu dia a dia vivendo como mulher negra da periferia, sua luta para criar seus filhos e sua paixão pela leitura e pela escrita.

Índice

Trajetória

Maria Carolina de Jesus nasceu em 1941, no interior de Minas Gerais, em uma cidade chamada Sacramento. Sua mãe, lavadeira e analfabeta, vinda de uma família de mais sete irmãos, cuidava da menina sozinha.

Foi uma das freguesas de sua mãe que incentivaria Carolina de Jesus a frequentar a escola. Sua mãe também a estimulou estudar. Aos sete anos, Carolina foi matriculada no colégio Allan Kardec, onde permaneceu durante dois anos.

Durante esses dois anos, ela foi alfabetizada e, mesmo tendo ido à escola por pouco tempo, Carolina de Jesus pegou gosto pela leitura e escrita.

Até os 23 anos, seguiu com sua mãe para diversos lugares, procurando oportunidades de emprego. Trabalhou como lavradora e empregada doméstica.

Com a morte de sua mãe, em 1937, Carolina de Jesus mudou-se para São Paulo e se instalou na favela do Canindé. Ali, Carolina construiria sua própria casa, com papelão e madeira. Teve três filhos de pais diferentes, mas não teve marido. Sempre deixou claro em seus escritos que nunca desejou se casar.

Para sustentar sua família, Carolina de Jesus passaria a coletar papel. Guardava revistas, livros e todo o material que pudesse ser lido e que cruzava seu caminho durante a saga diária de catadora. Também guardava um pouco de papel para que pudesse se dedicar à escrita.

Do Quarto de Despejo para a Casa de Alvenaria

Carolina alimentava um diário, no qual, além de escrever sobre acontecimentos do seu dia a dia, fazia análises políticas e críticas sociais. Eram reflexões poderosas sobre desigualdade e racismo.

Carolina de Jesus sonhava em sair da favela - lugar que ela chamava de “quarto de despejo” - e tinha consigo que conseguiria fazê-lo através de seus escritos, que, um dia, seriam publicados.

Foi em 1958 que Audálio Dantas, jornalista da Folha da Noite, seria encarregado de realizar uma reportagem sobre a favela do Canindé. Chegando lá e, ao explorar o lugar, presenciou uma discussão: Carolina e seus vizinhos discutiam, e ela os ameaçou de colocá-los em seu livro caso continuassem a importuná-la.

Audálio ficou bastante interessado em saber que livro era esse. Ao descobrir o material que Carolina de Jesus tinha produzido, o jornalista foi imediatamente em busca de formas de publicá-lo.

O livro de Carolina, intitulado “Quarto de Despejo: o Diário de uma Favelada”, foi publicado em 1960, tornando-se um sucesso editorial. Foi traduzido para 13 línguas.

Com o sucesso de vendas (o qual dividiu com Audálio), Carolina de Jesus mudou-se da favela do Canindé para uma casa de tijolos, no Alto de Santana. Recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras.

No entanto, Carolina enfrentou muito preconceito no meio intelectual. Muitos escritores, jornalistas e críticos literários não aceitavam que aquela mulher negra e ex-favelada fosse uma escritora reconhecida. 

Carolina de Jesus, no entanto, resistiu ao preconceito e continuou escrevendo.

Depois do sucesso editorial 

Em 1961, Carolina de Jesus publicaria o livro “Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-Favelada”. Este, no entanto, não faria tanto sucesso quanto seu primeiro, mas não se deve ao fato de ter sido ruim ou mal escrito.

Muitos leitores interessaram-se pelo Quarto de Despejo procurando elementos exóticos na narrativa de Carolina de Jesus, embora o livro tivesse um valor literário imenso.

Com isso, Carolina de Jesus foi sendo esquecida pelo mercado editorial. Publicou outros livros, como “Pedaços da Fome” (1963) e “Provérbios” (1965), porém com vendas não significativas. Desse modo, perdeu o sustento pela escrita.

Carolina de Jesus chegou a ser considerada uma ameaça social pela ditadura militar.

Mudou-se para um sítio, no bairro de Parelheiros em São Paulo, onde os filhos puderam ter educação gratuita, enquanto ela cuidava de hortaliças e lia jornal. Esse afastamento contribuiu para seu ostracismo.

Carolina de Jesus morreu em 1977, vítima de insuficiência respiratória.

Exercício de fixação
Passo 1 de 3
UFRJ/2018

“[...] em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos. [...]” “[...] Eu classifico São Paulo assim: o Palácio é a sala de visita, a Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o seu jardim. A favela é o quintal onde jogam os lixos. [...]” “Quando estou na cidade, tenho a impressão que estou na sala de visita, com seus lustres de cristais, seus tapetes de veludo, almofadas de cetim. E quando estou na favela, tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.” “[...] nós somos pobres, viemos para as margens do rio. As margens do rio são os lugares do lixo e dos marginais. Gente da favela é considerada marginal. Não mais se vê os corvos voando às margens dos rios, perto dos lixos. Os homens desempregados substituíram os corvos.” “Os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê o seu povo oprimido.” “O Brasil devia ser dirigido por quem passou fome.” “Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora.” (trechos extraídos do livro Quarto de despejo – diário de uma favelada, 1960, de CAROLINA MARIA DE JESUS).

A primeira edição saiu com 30 mil exemplares. A obra foi reimpressa sete vezes em 1960. No total, vendeu 80 mil exemplares. “Quarto de Despejo” foi traduzido para 14 línguas em 20 países. Carolina de Jesus lançou mais três livros: “Casa de Alvenaria”, “Pedaços de Fome” e “Provérbios”. Postumamente, em 1982, foi lançado na França, “Diário de Bitita”, que chegou ao Brasil pela Nova Fronteira em 1986.

Considerando o conjunto das informações dadas; em relação ao trecho “Os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê o seu povo oprimido”, é correto afirmar que a escritora:

A teme por sua vida, em razão das críticas que faz aos políticos; faz referência aos poetas assassinados por políticos por terem enfrentado a opressão.
B adverte os políticos, frisa sua condição feminina, ressalta a coragem dos poetas e sua ilimitada determinação de lutar contra a opressão, sobretudo a de seus semelhantes sociais.
C destaca sua condição de poeta, denuncia as ameaças de morte recebidas dos políticos, ressalta seu compromisso nacionalista com a liberdade do povo brasileiro.
D relativiza a crítica social que faz em sua obra, ao chamar a atenção dos políticos para o fato de que é poetisa e de que os poetas se aventuram sem limites.
E chama atenção, prioritariamente, para a força social dos poetas e para seu compromisso poético com a luta contra todas as formas de opressão humana.
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