Primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930, Alguma Poesia é uma coletânea poética formada por 49 poemas que foram escritos ao longo da década de 1920.
A obra faz parte do Modernismo brasileiro, sendo o autor representante da Segunda fase do movimento, mas tendo nessa obra inaugural vários ideais da Primeira fase.
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Em Alguma Poesia, os temas giram em torno do autor como indivíduo e suas vivências e sentimentos sobre várias esferas de sua vida cotidiana, como amizades, família, juventude, infância, amores, etc.
Em sua primeira obra, o autor reúne poemas que já tinham sido publicados em revistas, como o caso de “No meio do caminho”, entre outras, marcando o seu início com um certo reconhecimento no universo literário.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Poema: No meio do Caminho; Carlos Drummond de Andrade - Alguma Poesia).
Alguma Poesia possui 49 obras, cujos títulos são:
O autor, na época da obra, ainda era marcado por fortes idealismos, principalmente em relação ao século XX e ao Modernismo. Dessa maneira, Alguma Poesia é carregada de ideias modernistas, marcando o entusiasmo do autor pelo movimento, pelos modernistas e pela novidade do século XX.
Algumas dessas características influências do Modernismo podem ser observadas no tamanho dos poemas, que possuem poucos versos e ocupam no máximo uma página, os mais curtos chamados de poemas-pílulas ou pílulas-poéticas, referenciando também o contexto histórico e a urgência e efusão dos acontecimentos no século XX. Os versos já não possuem necessidade de padrão métrico (versos livres) nem de rimas (versos brancos).
Exemplo:
“Stop.
A vida parou
ou foi um automóvel?”
(Poema: Cota Zero; Carlos Drummond de Andrade - Alguma Poesia)
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Unindo a essas características estruturais, o autor trabalha temas chamados “prosaicos”, temas do cotidiano, considerados banais, mas que ganham importância dentro dos poemas, numa linguagem considerada coloquial, mais simples e próxima da fala, que aproxima o leitor da obra num tom mais irônico e humorístico como forma de causar riso e também de fazer críticas à tradição literária.
O autor também traz para a obra muitos elementos de sua vida pessoal, tocando em temas mais individuais, que se sobrepõem a temas sociais, dos quais ele trabalha mais fortemente em suas próximas obras. Assim, os temas presentes giram em torno do autor Carlos Drummond como indivíduo, falando sobre seus sentimentos, desejos, angústias, frustrações; das amizades e da vida em sua juventude, demonstrando a importância dessas relações e da saudade; de sua família e seus costumes e tradições, retomando diversos momentos; de sua infância, vivida numa cidade pequena de Minas Gerais e de memórias afetivas de sua cidade natal, Itabira; de seus amores vividos na juventude; além de tocar um pouco na temática da política e de sociedade, mas muito breve e timidamente.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais. Nono filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade (1860-1931), em 1910 iniciou seu processo de alfabetização e em 1916 começou a estudar no Colégio Arnaldo, na cidade de Belo Horizonte, em regime de internato.
Dois anos depois, o autor passou a estudar no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo. Ao final de 1919 foi expulso da instituição devido a um desentendimento com o professor de Português. No ano seguinte, o escritor e sua família se mudaram para Belo Horizonte.
Em 1921, Drummond publica alguns textos no Diário de Minas e no ano seguinte vence um concurso literário com o conto “Joaquim do telhado”. Em 1923, Drummond inicia os seus estudos na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Dois anos depois, casa-se com Dolores Dutra de Morais (1899-1994) e forma-se no curso de Farmácia.
Não exercendo a profissão de formação, em 1926, depois de atuar como professor em Itabira, decide voltar a Belo Horizonte, onde começa a trabalhar como redator do Diário de Minas. Dois anos depois, Carlos Drummond de Andrade publica um de seus poemas mais famosos — “No meio do caminho” — na Revista de Antropofagia, o qual foi amplamente criticado por sua estética. Em 1929, abandona seu cargo no Diário de Minas para trabalhar como redator no Minas Gerais.
No ano de 1930, o autor assume o cargo de oficial de gabinete de Gustavo Capanema, secretário do Interior, em Minas Gerais. E em 1935, quando Capanema torna-se ministro da Educação e Saúde Pública, Drummond muda-se para o Rio de Janeiro e ocupa o cargo de chefe de gabinete do novo ministro.
Durante esse período, escreve para os periódicos Revista Acadêmica, Euclides, A Manhã, Correio da Manhã e Folha Carioca. Em 1945, deixa seu cargo de chefia no gabinete ministerial e passa a dirigir o jornal comunista Tribuna Popular por alguns meses. Em seguida, começa a trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).
Em 1949 volta a escrever o Minas Gerais e permanece até o ano de 1953. Em 1962, aposentou-se como chefe de seção da DPHAN e a partir daí continuou a colaborar em periódicos, além de publicar vários livros. O autor faleceu em 17 de agosto de 1987, com 85 anos, no Rio de Janeiro, poucos dias depois da morte de sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.
O título Alguma Poesia dialoga criticamente com o título Poesias (1888), de Olavo Bilac, parnasianista, alvo de críticas dos modernistas.
Através de seus poemas com pitadas de humor e ironia, Drummond traz à sua obra os temas de sua vida, seus sentimentos e vivências, numa linguagem prosaica, que se aproxima do leitor e se distancia do que era considerado tradicional.
Ao dedicar-se ao cotidiano, busca em si e no ambiente que o rodeia as emoções sobre as quais discorre em seus poemas, analisando suas relações pessoais em vários momentos de sua vida, trazendo com elas reflexões que remetem à saudade, ao saudosismo entre outros sentimentos.
Nessa coletânea, alguns poemas são bastante conhecidos e emblemáticos por tratarem de temas como solidão, dificuldades e obstáculos da vida e desilusões amorosas, são eles:
Poema de sete faces
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.[...]”
No meio do caminho
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.[...]
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Há também outros poemas que remetem à vida na infância e da família:
Infância
“Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia
Eu sozinho, menino entre mangueiras
lia história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais. [...]”
Família
“Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo. [...]”
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A obra Alguma poesia, publicada em 1930, marca a estreia de um dos mais emblemáticos escritores da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade. O poema que segue integra a referida obra e serve como base para a questão proposta.
Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
E aprendi nas mesas dos bares
Que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
E todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para uma mulher,
Pensava logo nas estrelas
E outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
Minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
Meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
Satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
Não sou irônico mais não,
Não tenho mais ritmo mais não.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
A construção poética de "Também já fui brasileiro" reflete o(a)