Campo Geral - Resumo

Campo Geral é uma obra do gênero novela, escrita por Guimarães Rosa, publicada em 1959, fazendo parte da obra Corpo de Baile, e depois, em 1964, no livro Manuelzão e Miguilim. 

Podemos compreender o gênero novela como diferente de um conto, por ser maior, e de um romance, por ser menor. Além disso, nesse gênero, é possível notar que os acontecimentos giram em torno de um núcleo específico, que, no caso de Campo Geral, é a família de Miguilim, um menino de 8 anos.

Complexa e com uma linguagem muito característica do autor, criador de palavras, a obra se passa no sertão mineiro, na região de Mutum. A trama gira em torno do olhar de Miguilim sobre a vida que leva com sua família no Mutum, olhar este fortemente influenciado pela visão dos personagens adultos, mas que, com o passar da história, vai se desenvolvendo e se modificando. Ao mesmo tempo acontece o seu amadurecimento, a partir de episódios que o forçam a deixar de ser uma criança inocente. 

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Porque Miguilim apanhou do pai?   

Miguilim, personagem principal da trama, em certo momento, vê o seu irmão mais velho, Liovaldo, a quem não tinha muito afeto por ser uma pessoa ruim, batendo em Grivo, um menino muito pobre, e em seus dois patos. 

O dia estava muito quente, os patos chiavam com sede, o Grivo esbarrou para escutar a gaitinha de Liovaldo — ele nunca tinha avistado aquilo — e aproveitou, punha os patos para beber água num pocinho sobrado da chuva. Aí o Liovaldo começou a debochar, daí cuspiu no Grivo, deu com o pé nos patos, e deu dois tapas no Grivo. O Grivo ficou com raiva, quis não deixar bater, mas o Liovaldo jogou o Grivo no chão, e ainda bateu mais. O Grivo então começou a chorar, dizendo que o Liovaldo estava judiando dele e da criação que ele ia levando para vender. (Guimarães Rosa, Campo Geral).

O irmão de Liovaldo, então, apesar de ser uma criança doce e sensível, não aguentando mais as atitudes do irmão mais velho e, impulsionado pelo ódio, vai para cima de Liovaldo a fim de defender Grivo e seus animais. Mesmo mais novo, Miguilim bate em Liovaldo como nunca tinha feito antes. O pai, que estava em casa, vê a cena com desaprovação, pois acreditava que por ser menor, Miguilim deveria respeitar o irmão mais velho. Assim, vai ao encontro de Miguilim e o espanca.

Era dia-de-domingo, Pai estava lá, veio correndo. Pegou Miguilim, e o levou para casa, debaixo de pancadas. Levou para o alpendre. Bateu de mão, depois resolveu: tirou a roupa toda de Miguilim e começou a bater com a correia da cintura. Batia e xingava, mordia a ponta da língua, enrolada, se comprazia. Batia tanto, que Mãe, Drelina e a Chica, a Rosa, Tomezinho, e até Vovó Izidra, choravam, pediam que não desse mais, que já chegava. Batia. Batia, mas Miguilim não chorava. Não chorava, porque estava com um pensamento: quando ele crescesse, matava Pai. Estava pensando de que jeito era que ia matar Pai, e então começou a rir. Aí, Pai esbarrou de bater, espantado: como tinha batido na cabeça também, pensou que Miguilim podia estar ficando dôido. (Guimarães Rosa, Campo Geral).

Importante: este é um dos pontos da trama que sinalizam o amadurecimento de Miguilim, pois a sua atitude frente a esses acontecimentos marcam a sua mudança de comportamento.

Qual foi a grande descoberta feita por Miguilim?   

Na trama, os personagens da família de Miguilim não gostam da região onde viviam, considerando o Mutum como um lugar feio e ruim de se viver. A visão do menino é então atravessada pela opinião dos mais velhos e, durante quase toda a trama, Miguilim não expressa sua própria opinião sobre o lugar onde vive. 

Como já sabemos que a obra trata do amadurecimento de Miguilim com o passar do tempo e de suas experiências, ao final da trama o garoto então, pede ao doutor José Lourenço, um homem que aparece no Mutum e descobre que o garoto era míope, os seus óculos emprestados, e, ao sair de casa, descobre, finalmente, que o Mutum era um lugar bonito. 

Esta última cena é uma metáfora que demonstra o amadurecimento de Miguilim, que ao final da trama, enxerga o mundo com os seus próprios olhos. 

O que acontece no final de campo geral?

Ao final da novela Campo Geral, temos muitos acontecimentos que se interpolam e modificam drasticamente a vida de Miguilim, fatos que forçam de maneira bastante dura o amadurecimento do menino. 

O irmão favorito de Miguilim, Dito, que era uma espécie de conselheiro, apesar de ser mais novo, morre de uma infecção causada por um machucado. O seu pai, com remorso de ter espancado o filho e de ter feito outras coisas ruins, tira a sua própria vida. 

A mãe de Miguilim, após a morte do marido, assume então a sua relação com o cunhado, tio Terez. A avó de Miguilim, ao presenciar tudo isso, vai embora de casa. 

Miguilim, com a chegada do Doutor José Lourenço, enxerga o Mutum a partir de sua próṕria perspectiva.   

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Miguilim: protagonista da história, uma criança doce e simples, que traz para a trama o seu olhar sobre os acontecimentos de forma bastante complexa;

Nhá Nina: mãe de Miguilim, não gostava de viver no Mutum e tinha um caso com o irmão de seu marido;

Nhô Bernardo: pai de Miguilim, personagem caracterizado pela dureza e também violência, mas que também se demonstra sensível e arrependido em momentos da trama;

Dito: irmão, melhor amigo e conselheiro de Miguilim;nh

Tio Terez: o tio favorito de Miguilim que, ao contrário do irmão Nhô Bernardo, demonstra-se uma pessoa calma e bondosa. 

Obra que representa a terceira fase do modernismo, com fortes características do regionalismo, ponto primordial em todas as obras de Guimarães Rosa. Outro aspecto relativo a esse momento, é a forma como a questão social é abordada junto da complexidade dos personagens.

A novela não possui capítulos e tem uma linguagem bastante particular, oralizada, que traz elementos regionais e neologismos de forma lírica.

Qual o foco narrativo de Campo Geral?   

Campo Geral é uma novela narrada em 3ª pessoa, porém, toda a história é narrada a partir da perspectiva de Miguilim, uma criança de 8 anos, sensível e inocente, que também é influenciada pela visão dos personagens adultos, que não carregam mais essas características.

A obra foi publicada em 1964, ano em que ocorreu o golpe de Estado que deu início à Ditadura Militar. Apesar desses acontecimentos, a obra, como tem foco no regionalismo, mais precisamente no interior do sertão de Minas Gerais, não aborda essas questões. 

Por prevalecer na obra a construção de um tempo psicológico, em que o espaço do Mutum e história da família de Miguilim são o foco, não há influências externas em seu desenvolvimento, assim, tudo se passa numa espécie de tempo imóvel.

O escritor João Guimarães RosaArquivo / Secretaria de Educação e Cultura de Goiás

Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908 e foi um contista, novelista, romancista, médico e diplomata.  Aos 10 anos o autor se mudou para Belo Horizonte, onde manteve os seus estudos secundários em um colégio alemão. 

Em 1930, aos 22 anos, Rosa formou-se médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais e, antes disso, já havia começado a escrever os seus primeiros contos, tendo a sua estreia em 1929, com a publicação do conto “O mistério de Highmore Hall”, na revista O cruzeiro.

Casou-se com Lígia Cabral Penna, com quem teve duas filhas, no mesmo ano em que terminou sua graduação em medicina. Foi capitão médico, por concurso, da Força Pública do Estado de Minas Gerais e durante os anos de 1934 a 1962, trabalhou como diplomata, representando o Brasil em vários países. 

Em 1946, publicou o seu livro Sagarana, que lhe deu lugar de destaque na literatura brasileira por sua linguagem, estrutura narrativa e riqueza de simbologia, destacando também o regionalismo em sua obra. Em 1956, Guimarães Rosa publica Grande Sertão: Veredas, obra que já foi traduzida para várias línguas. 

Além do prêmio da Academia Brasileira de Letras conferido a Magma, Guimarães Rosa recebeu o Prêmio Filipe d'Oliveira pelo livro Sagarana (1946); Grande sertão: Veredas recebeu o Prêmio Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1956) e o Prêmio Paula Brito (1957); Primeiras estórias recebeu o Prêmio do PEN Clube do Brasil (1963).

O diplomata e escritor foi o Terceiro ocupante da Cadeira 2, eleito em 8 de agosto de 1963, na sucessão de João Neves da Fontoura e recebido pelo Acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 16 de novembro de 1967. Seu falecimento foi no Rio de Janeiro, em 19 de novembro de 1967, vítima de infarto.

A obra Campo Geral narra a história de Miguilim, um garoto de 8 anos que mora no Sertão Mineiro, na região de Mutum. Ele vive junto de seus pais, irmãos, avós, tios, empregados e seus animais de estimação.

Durante a narrativa, há vários acontecimentos que incidem sobre a vida de Miguilim e da família, que são transparecidos pelo olhar do garoto. Seu amadurecimento é o tema central da obra.

Fatos como a saída do Tio Terez de casa por conta da relação que tinha com sua cunhada, a mãe de Miguilim; a morte de Dito, seu irmão favorito; a briga com seu irmão mais velho; a surra que leva de seu pai por conta da briga; e o suicídio de seu pai são fatores que provocam o amadurecimento de Miguilim durante o desenvolvimento da trama. 

Ao final da história, o amadurecimento de Miguilim é demonstrado quando o garoto, em meio a todas as opiniões que atravessavam o seu ponto de vista sobre o lugar onde morava, após emprestar os óculos de Doutor José Lourenço, finalmente descobre que o Mutum é um lugar bonito, ao contrário da opinião de seus familiares.

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