Livro publicado em 2014, Olhos d’água, da autora Conceição Evaristo, é uma coleção de 15 contos que abordam diversas temáticas sociais, existenciais e emocionais como racismo, violências e amores.
A autora produz narrativas de mulheres, em sua maioria, e homens afrobrasileiros que apresentam situações e lugares marcados pela violência e ao mesmo tempo pela resistência, que narram as suas vivências e experiências a partir dessa perspectiva social, de sujeitos marginalizados e discriminados em vários âmbitos. Mas não só isso: a escritora produz um olhar sobre a identidade e ancestralidade dessas personagens, marcando também o protagonismos desses sujeitos.
Conceição Evaristo traz em sua escrita a noção de “escrevivência”, criada por ela. O termo significa expressar as experiências de vida e vivências sociais daqueles que passam por essas experiências, dando a ver uma multiplicidade de características às personagens que narram suas visões de mundo numa perspectiva de quem vive à margem da sociedade e que, mesmo com todos os empecilhos, não permitem serem apagados da história.
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Maria da Conceição Evaristo de Brito, linguista e escritora brasileira, nasceu em Belo Horizonte, em 1946. Graduou-se em Letras pela UFRJ, além de ser Mestra em Literatura Brasileira pela PUC - Rio, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011).
Ativista dos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil, publicou pela primeira vez seus contos e poemas em 1990, nos Cadernos Negros, série literária independente do coletivo cultural Quilombhoje, que publica textos afro-brasileiros. Suas publicações também se expandem por países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.
A autora de Olhos d’água, além de escrever poesias e contos, publicou os romances Ponciá Vicêncio (2003) e Becos da memória (2006), ambos muitos elogiados pela crítica e incluídos em listas de vestibulares, ambos que também trazem consigo a questão de gênero, pois, como pode ser observado em suas obras, esse é um dos temas centrais, assim como a questão racial e social das personagens.
Em 2014, Conceição Evaristo publica Olhos d’água, uma seleção de vários contos, muitos deles publicados na série Cadernos Negros, que aborda a temática de gênero, racial e social. A obra em questão foi finalista do Prêmio Jabuti, na categoria “Contos e Crônicas”.
Sua obra mais recente é do ano de 2016, nomeada História de leves enganos e parecenças. Em 2017, o Itaú Cultural de São Paulo produziu a Ocupação Conceição Evaristo apresentando aspectos da vida e da literatura da escritora. Em 2018, a autora recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra.
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Olhos d’água, Duzu-Querença, Luamanda, Lumbiá, Di Lixão, são alguns dos títulos dos 15 contos que compõem o livro Olhos d'água, de Conceição Evaristo. Neles e nos tantos outros, a autora aborda questões que perpassam a vivência de personagens negros marginalizados e violentados pela sociedade.
“Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe.” (trecho de Olhos d’água).
Em sua grande maioria as personagens dos contos são mulheres; outra característica encontrada com regularidade é muitas delas serem mães. Entretanto, na obra aparecem protagonistas homens, filhas, avós, que retratam em suas vidas temas sociais, sexuais, emocionais, todos eles atravessados por suas narrativas complexas e bastante densas, marcadas por uma condição racial.
“Davenga mordeu o lábio, contendo o riso. Olhou o político bem no fundo dos olhos, mandou então que ele tirasse a roupa e foi recolhendo tudo.
— Não, doutor, a cueca não! Sua cueca não! Sei lá se o senhor tem alguma doença ou se tá com o cu sujo!”.
(trecho do conto Ana Davenga).
Histórias de realidades brasileiras, em grande parte de mulheres negras, em quase todos os títulos temos o nome das personagens principais dos contos. Apesar de não serem histórias superficiais e virem bastante carregadas de violências e absurdos vividos cotidianamente por esses grupos, Evaristo também traz em alguns momentos humor, e, para além disso, muito afeto.
“Um dia, aos treze anos, a cama do gozo foi arrumada em pleno terreno baldio. A lua espiava no céu denunciando com a sua luz um corpo confuso de uma quase menina, de uma quase mulher. Corpo-coração espetado por um falo, também estreante. Um menino que se fazia homem ali, a inaugurar em Luamanda o primeiro jorro, fora de suas próprias masturbantes mãos. E ambos se lambuzavam festivamente um no corpo do outro. Luamanda chorando de prazer. O gozo-dor entre as suas pernas lacrimevaginava no falo intumescido do macho menino, em sua vez primeira no corpo de uma mulher. O amor é terremoto?” (trecho do conto Luamanda).
A riqueza da obra está justamente na maneira em que a autora se aprofunda na pluralidade de temas e sentimentos que constituem a condição humana. A sexualidade também é abordada e não só de maneira heteronormativa, um ponto bastante sensível e que muitas vezes é apagado em meio às outras problemáticas relacionadas a sujeitos marginalizados.
A prosa de Conceição Evaristo é guiada por uma linguagem poética, marca da autora, assim como os neologismos, que fazem parte de seu estilo. A esse modo de narrar dos personagens e de contar suas histórias e visões de mundo, a autora dá o nome de “escrevivências”, que marca a realidade, a vivência daquelas pessoas contada a partir da escrita.
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Sobre o conto de título homônimo ao livro Olhos D’água, de Conceição Evaristo, só NÃO podemos afirmar que: