O pensamento de Michel Foucault não se desenvolveu de forma linear, mas em diferentes fases, que o próprio autor chamou de “projetos de pesquisa”. Cada etapa representou um olhar distinto sobre as relações entre saber, poder e subjetividade.
Essas correntes ajudam a compreender como Foucault construiu uma crítica às instituições modernas e à forma como elas moldam indivíduos e populações.
Sua obra é, ao mesmo tempo, teórica e crítica, apontando para os mecanismos de controle social que operam de forma invisível, mas constante, no cotidiano.
Arqueologia do saber
Na fase arqueológica, Foucault analisou como o conhecimento é produzido e legitimado em diferentes períodos históricos. O objetivo era investigar as “regras do discurso”, ou seja, os critérios que definem o que pode ser dito, estudado ou reconhecido como verdade.
Obras como As Palavras e as Coisas e A Arqueologia do Saber mostram como discursos científicos, médicos e jurídicos criaram sistemas de verdade que influenciaram a organização da sociedade.
Genealogia do poder
Inspirado em Nietzsche, Foucault passou a investigar a história das instituições e dos mecanismos de poder. Essa corrente, chamada de genealógica, revela que o poder não é apenas repressivo, mas produtivo, pois cria normas, subjetividades e modos de vida.
Em Vigiar e Punir, o autor descreve o poder disciplinar, que controla corpos por meio da vigilância e da disciplina. O panóptico, metáfora de uma vigilância constante e invisível, é um dos exemplos mais conhecidos dessa análise crítica.
Biopoder e biopolítica
Com o avanço da modernidade, o poder expandiu-se do controle individual para a gestão de populações. Surge o conceito de biopoder, que regula aspectos como saúde, natalidade, mortalidade e segurança.
Essa forma de poder articula estatísticas, políticas públicas e práticas sociais voltadas à vida biológica. Nos volumes seguintes da História da Sexualidade, Foucault mostra como o biopoder está ligado à normalização de condutas e à administração da vida coletiva.
Ética e cuidado de si
Na última fase de sua obra, Foucault voltou-se para a questão da subjetividade e da ética. Ele estudou como os indivíduos constroem sua identidade e exercem liberdade através de práticas de autogoverno.
Essa reflexão aparece em A Hermenêutica do Sujeito e O Governo de Si e dos Outros, onde o filósofo analisa o “cuidado de si” como uma forma de resistência às estruturas de poder e como possibilidade de criar novas formas de existência.