Luthier: o que é e como se tornar esse profissional
Saiba o que é um luthier, se existe faculdade de luteria e conheça também o mercado de trabalho e salários desta profissão
Peça-chave para que novos sons e canções sejam criadas, o luthier é o responsável por construir, restaurar e fazer a manutenção de instrumentos musicais em madeira.
O profissional trabalha, artesanalmente, na confecção de instrumentos de corda acústicos, como violões, violinos e violas brasileiras, e de eletrificados, a exemplo de guitarras e baixos elétricos. Também pode fabricar instrumentos de sopro e percussão.
Embora ainda seja desconhecida no Brasil, a Luteria, como essa arte e técnica é chamada, é bastante antiga. Conforme registros, o primeiro instrumento musical e, consequentemente, o primeiro luthier surgiram há mais de 30 mil anos. Mas a formação profissional começou a se desenvolver na Europa, na Idade Média, e atingiu o seu auge na Renascença Italiana.
No Brasil, são poucos os cursos que ensinam o ofício. O único superior na área é o Tecnólogo em Luteria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), implantado em 2009, com duração de três anos e em período integral.
Para explicar mais sobre a graduação, as dificuldades e o mercado de trabalho para o luthier, a Revista Quero convidou o coordenador do curso de Luteria da UFPR, Juarez Bergmann Filho. Confira o que ele contou:
1 – Qual é o perfil do aluno de Luteria? É necessário saber tocar instrumentos musicais?
O perfil dos alunos é muito variado. Há desde jovens recém-formados no ensino médio até pessoas mais velhas com carreiras estáveis que procuram o curso em busca de uma atividade manual e gratificante. É importante que ele tenha vontade de trabalhar com as mãos, adore música e seja fascinado pela madeira. Essas são as principais características da atividade. Além disso, é preciso ter paciência e perseverança pela excelência no trabalho manual. Tocar instrumentos não é obrigatório, mas ajuda bastante.
2- Quais são as disciplinas básicas do curso?
Praticamente todas as disciplinas são específicas por terem um conteúdo voltado para a realidade profissional do luthier. No entanto, dentro da grade curricular, além das matérias de Construção de Instrumentos Musicais, há aulas de Educação Musical, Línguas Estrangeiras, História da Arte, Desenho e Acústica.
3 – E quais são as matérias específicas?
As principais são as de Construção e Entalhe (cortar ou esculpir a madeira). São seis disciplinas semestrais, consecutivas e progressivas. Essas são as de maior carga horária no curso e é, portanto, quando o aluno mais se desenvolve, absorve e incorpora gradativamente as técnicas e processos necessários para a fabricação de instrumentos musicais.
Veja a grade curricular completa do curso de Luteria da UFPR
4 – Em geral, as aulas são mais práticas? E como funcionam?
Sim, existem muitas disciplinas práticas. Nelas, os estudantes desenvolvem projetos de acordo com o semestre em que estão matriculados e, basicamente, cumprem toda a carga horária nos ateliês/laboratórios construindo e/ou restaurando instrumentos musicais.
5 – Quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos no curso?
É possível apontar duas dificuldades:
- Uma delas é a falta de habilidade manual para trabalhar com ferramentas e madeiras. Alguns discentes sentem mais dificuldade com os processos e com o uso de ferramentas do que outros. São processos minuciosos que exigem atenção, paciência e cuidado e, por vezes, isso dificulta. Mas com perseverança os alunos e alunas do curso tendem a superar essa barreira;
- A outra é a financeira. Apesar do curso de Luteria da UFPR ser gratuito, há uma necessidade de aquisição de materiais e ferramentas. E os melhores materiais, geralmente, são importados, o que encarece ainda mais. Para discentes com dificuldades financeiras, a universidade oferece uma série de programas institucionais e bolsas para minimizar os impactos financeiros na vida acadêmica.
6 – É preciso fazer estágio e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para se formar?
Formalmente, não é necessário fazer estágio, porém recomendamos para que o discente tenha uma experiência próxima do que ele vai encontrar no mercado de trabalho.
Também não há um TCC específico. Mas cada instrumento musical desenvolvido no curso culmina no que é apresentado na disciplina de Construção e Entalhe VI, do último semestre. Este sim deve englobar todo o conhecimento adquirido no curso e ser o mais detalhado, com excelência em todos os aspectos. Entretanto, não chega a ser um TCC nos modos formais como acontece em outros cursos.
7 – No curso da UFPR, o discente sai qualificado para atender qual mercado de instrumentos?
O aluno pode escolher entre as três linhas principais para se especializar: cordófonos dedilhados (violão e sua família), cordófonos a arco (violino e sua família) ou cordófonos eletrificados (guitarra elétrica e sua família).
8 – O curso de Luteria tem muita procura?
Por ainda ser o único curso superior no Brasil, a procura é grande. Temos alunos de todas as regiões do país. Muitos deles acabam se mudando para Curitiba em busca de suas qualificações.
9 – Onde o luthier pode atuar? E como está o mercado de trabalho para quem cursa Luteria?
O Brasil é um país extremamente musical, portanto mercado não falta. O luthier pode ter seu próprio ateliê, atendendo seus clientes diretamente. Alguns egressos se unem em ateliês comunitários e trabalham com uma clientela maior em conjunto, dividindo despesas e compartilhando experiências. Outros trabalham dando suporte a lojas de instrumentos musicais e/ou escolas de música.
Também há os que incluem o aprendizado da luteria em suas graduações e/ou qualificações passadas. Por exemplo, músicos profissionais que tem seus estúdios e incorporam os serviços de luteria. Designers que inovam os processos de construção. Compositores que constroem seus instrumentos especificamente para atender a necessidades artísticas pessoais. Ou seja, na luteria as possibilidades são inúmeras.
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