Uma das primeiras mulheres a se formarem em Psiquiatria no Brasil, Nise da Silveira revolucionou a área. Questionadora de métodos de terapia violentos, Nise da Silveira sempre apostou na observação e atenção cuidadosa dos pacientes.
Pioneira na psicologia de Carl Jung, Nise da Silveira estudou outros métodos terapêuticos, como a utilização de animais para o tratamento de pacientes.
Nise da Silveira nasceu em Maceió, em 1905, filha de Faustino Magalhães, professor de matemática e jornalista, e de Maria Lídia da Silveira, uma pianista.
Nise sempre se dedicou muito aos estudos e, aos 21 anos, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, sendo a única mulher de sua turma.
Silveira casou-se com seu colega de turma na faculdade, Mário Magalhães Silveira. Ambos decidiram não ter filhos, para se dedicarem completamente à carreira.
Após a morte de seus pais, Silveira mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro, no final dos anos 1920. Ali, se envolveria com estudos artísticos e literários voltados para a área médica.
Nesse período, Nise da Silveira terminaria de cursar sua especialização em Psiquiatira, atuando na clínica neurológica de um dos precursores da neurologia no Brasil, Antônio Austregésilo. Em 1933, Silveira foi aprovada em um concurso de Psiquiatria e começaria a trabalhar no Hospital da Praia Vermelha.
Nise da Silveira também era militante pelo Partido Comunista Brasileiro, desde o começo dos anos 1930. Seria expulsa por ser acusada de adotar ideais trotskistas.
Com o advento do Estado novo de Getúlio Vargas, Nise foi presa durante a Intentona Comunista por 18 meses.
Ficou sete anos afastadas do serviço público. Ao voltar a trabalhar no hospital, Nise foi realocada para a seção de Terapia Ocupacional após ter sido expulsa da enfermaria por discordar de métodos de tratamento com choques.
Ali, Nise da Silveira tirou os pacientes de tarefas como limpeza e manutenção e os colocou para fazer atividades artísticas como pintura e modelagem. Nise acreditava na expressão da criatividade e em seu poder curativo.
“O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade.” Com os trabalhos que vinha realizando, Nise da Silveira fundou, em 1956, o Museu de Imagens do Inconsciente.
Isso valorizou seu trabalho e todo o material produzido pelos pacientes, que passou a ser encarado como documentos para estudos diversos. O cineasta Leon Hirszman realizou o documentário "Imagens do Inconsciente", com roteiro de Nise da Silveira. Na obra, ele mostra as obras realizadas pelos pacientes.
Em 1956, Nise fundou A Casa das Palmeiras, um centro de reabilitação para os pacientes que saíssem do hospital psiquiátrico. Como um local intermediário entre a rotina hospitalar e a volta para a sociedade, na Casa das Palmeiras os pacientes podiam se expressar através de desenhos e modelagens, e também cuidar de animais.
Com os trabalhos de seus pacientes, Nise da Silveira pode reparar que mandalas eram figuras frequentemente produzidas, e passou a se aproximar dos estudos de Carl Jung.
Carl Jung foi um psiquiatra suíço que trabalhou com Sigmund Freud. Ambos romperam relações após divergências de ideias. Jung acreditava no peso do trauma sexual na vida de seus pacientes e estudava fenômenos espirituais, algo que Freud era contra.
Jung estudou e aplicou técnicas de estudos dos desenhos e dos sonhos, ambos relacionados ao inconsciente humano, porém distantes das propostas de Freud. Nise seria, então, influenciada por seu trabalho.
Nise passou a trocar correspondências com Carl Jung. Estudou no Instituto Carl Gustav Jung, onde foi orientada por uma psicanalista chamada Marie-Louise von Franz.
Depois desse período, criou o Grupo de Estudos Carl Jung, que presidiu até 1968. Chegou a publicar uma biografia de Jung.
Nise humanizou o tratamento psiquiátrico no Brasil. Faleceu aos 93 anos, em 1999, no Rio de Janeiro.
A psiquiatra brasileira Nise da Silveira: