O poema é um gênero literário existente desde a Grécia Antiga e que perdura até os dias de hoje. Na Grécia, os três gêneros literários principais (lírico, dramático e épico) eram escritos na forma de poema, por isso essa forma de escrita era muito utilizada o tempo todo.
A palavra “poema” em si vem do grego “poein”, que significa “fazer, compor”. Porém, com o passar do tempo, a narrativa foi tomando espaço no campo literário, e o poema ficou mais relacionado ao gênero lírico. Assim, o poema é conhecido por ser um gênero muito subjetivo, por despertar múltiplas interpretações e por utilizar uma linguagem poética, geralmente recheada de figuras de linguagem diferentes.
O poema é caracterizado por ser escrito com versos e estrofes. Cada estrofe é formada por um tanto de versos, podendo ter mais ou menos versos de acordo com o tipo de poema.
Além disso, há elementos nos poemas que podem ser usados ou não, sendo eles: a rima e a métrica.
A rima é a semelhança de sons nas palavras do poema, geralmente utilizada no final dos versos (mas pode aparecer no meio também, caracterizando o que chamamos de rima interna). Os versos que não possuem rimas num poema são chamados de versos brancos.
Além da rima, temos a métrica, que é o número de sílabas poéticas presentes em cada verso do poema. Essas sílabas poéticas são contadas de modo diferente das sílabas que aprendemos nas aulas de português, pois levam em conta a sonoridade das palavras, já que os poemas foram feitos originalmente para serem lidos em voz alta. O ato de separar as sílabas poéticas é chamado de escansão, e vários poemas de forma fixa se usam da métrica, enquanto os versos que não a possuem são chamados de versos livres.
Os objetivos do poema são muito variados, e suas formas também. Existem poemas que fazem críticas sociais, que mostram a beleza da vida, que falam da própria escrita de um poema, que falam sobre sentimentos, que exploram um efeito no leitor, etc.
Além disso, há vários tipos de poemas diferentes. Temos os poemas fixos, que possuem uma forma mais certinha, enquanto há outros tipos de poemas mais livres, que possuem formas mais flexíveis, como os poemas concretistas, por exemplo, que se utilizam de desenhos e jogos de palavras.
Outra coisa muito importante num poema é a presença do eu lírico. Esse tal de eu lírico nada mais é do que um tipo de “narrador” do poema, ou seja, aquele que apresenta ao leitor tudo o que sente, o que vê, o que ouve, etc.
O eu lírico é muito importante num poema, pois ele é a ponte entre o autor e o leitor. É ele que transmite todos os sentimentos presentes no poema, e que apresenta ao leitor seus pensamentos e/ou suas críticas.
Agora que você sabe um pouco mais sobre o que é e o que caracteriza um poema, é importante sabermos alguns tipos de poemas de forma fixa, pois eles são muito importantes e conhecidos no campo literário. Assim, vamos ver alguns dos principais poemas de forma fixa, acompanhados de alguns exemplos:
O soneto é um tipo de poema que é composto por 14 versos, divididos em quatro estrofes. As estrofes são divididas em dois quartetos (estrofes com quatro versos) e dois tercetos (estrofes com três versos). Abaixo, temos um soneto muito famoso, escrito por Luís de Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
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É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
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É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
A trova (também chamada de quadra) é um tipo de poema que é escrito em uma estrofe, composta de quatro versos heptassílabos (de sete sílabas poéticas cada). Abaixo, vamos ver uma trova escrita por Olavo Bilac:
O amor que a teu lado levas
a que lugar te conduz,
que entras coberto de trevas
e sais coberto de luz?
Originada na França do século XIV, a balada é um poema composto por três oitavas (estrofe de oito versos) e uma quadra ou quintilha (estrofe de quatro ou cinco versos), geralmente de versos octossílabos ( com oito sílabas poéticas). Como exemplo, temos uma balada de Olavo Bilac:
Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhão:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
Não ias só: grande era o bando...
Mas entre todas te escolhi:
Minha alma foi-te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.
.
Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botão!
Inda, ao lembrá-lo, a mágoa abrando.
Esqueço o mal que vem em ti,
E, o meu rancor estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi.
A sextina é um poema composto por seis estrofes de seis versos cada (sextilha) e uma estrofe de três versos (terceto). Abaixo, temos como exemplo uma sextina escrita por Luís de Camões:
Foge-me, pouco a pouco, a curta vida,
Se por acaso é verdade que inda vivo;
Vai-se-me o breve tempo de entre os olhos;
Choro pelo passado; e, enquanto falo,
Se me passam os dias passo a passo.
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena.
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Que maneira tão áspera de pena!
Pois nunca uma hora viu tão longa vida
Em que posso do mal mover-se um passo.
Que mais me monta ser morto que vivo?
Pera que choro, enfim? Pera que falo,
Se lograr-me não pude de meus olhos?
.
Ó fermosos gentis e claros olhos,
Cuja ausência me move a tanta pena
Quanta se não compreende enquanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
De vós me inda inflamasse o raio vivo,
Por bem teria tudo quanto passo.
.
Mas bem sei que primeiro o extremo passo
Me há-de vir a cerrar os tristes olhos,
Que amor me mostre aqueles por que vivo.
.
Testemunhas serão a tinta e pena
Que escreverão de tão molesta vida
O menos que passei, e o mais que falo.
.
Oh! que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
Vejo tão triste género de vida
Que, se lhe não valerem tanto os olhos,
Não posso imaginar qual seja a pena
Que traslade esta pena com que vivo.
.
Na alma tenho contino um fogo vivo,
Que, se não respirasse no que falo,
Estaria já feita cinza a pena;
Mas, sobre a maior dor que sofro e passo
Me temperam as lágrimas dos olhos;
Com que, fugindo, não se acaba a vida.
.
Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
Vejo sem olhos, e sem língua falo;
E juntamente passo glória e pena.
O haicai (também chamado de haiku) é um tipo de poema originário do Japão. Ele é formado por três versos, o primeiro com cinco sílabas poéticas, o segundo com sete, e o terceiro com cinco novamente. Vamos ver um exemplo de haicai escrito por Paulo Leminski:
Viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
Leia estes poemas:
Texto 1
AUTO-RETRATO
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
(Manuel Bandeira. "Poesia completa e prosa". Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)
Texto 2
POEMA DE SETE FACES
Quando eu nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. (....)
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é o meu coração.
(Carlos Drummond de Andrade. "Obra completa". Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 53.)
Esses poemas têm em comum o fato de: