O Inep planeja substituir a testagem presencial de questões por sistemas de inteligência artificial capazes de simular o desempenho de diferentes perfis de estudantes
A proposta surge como resposta aos vazamentos do Enem 2025 que ocorreram justamente durante a aplicação de pré-testes com alunos reais
Após os episódios recentes que envolveram a divulgação antecipada de questões do Enem 2025, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) anunciou que estuda implementar ferramentas de inteligência artificial para otimizar a elaboração do exame.
A declaração foi feita por Manoel Palacios, presidente do órgão, ao G1 nesta segunda-feira (8). Segundo o dirigente, o objetivo é evitar que novos vazamentos se repitam, reduzindo o erro humano envolvido no processo de composição da prova.
Atualmente, as questões do Enem são testadas previamente em exames nacionais antes de integrarem o Banco Nacional de Itens (BNI) — um estoque de questões que podem ser cobradas em exames dirigidos pelo Inep.
Com a nova proposta, as questões passariam a ser avaliadas por ferramentas de IA, capazes de “simular alunos fortes, medianos e fracos respondendo”, o que reduziria os riscos de vazamento e garantiria o sigilo do material.
IA no Enem: o que muda?
A principal motivação para a nova proposta é a segurança. Segundo Palacios, o modelo atual exige uma logística complexa e arriscada.
Para realizar um pré-teste confiável de novas questões, é necessária a participação de cerca de 15 mil estudantes reais. “O principal desafio disso é manter o sigilo do material”, afirmou o presidente ao G1.
A proposta em estudo visa substituir essa testagem em massa por sistemas de IA já desenvolvidos.
Dessa forma, as ferramentas forneceriam os dados estatísticos necessários para calibrar a dificuldade da questão, eliminando a exposição prévia do item a milhares de pessoas.
No entanto, o fator humano não seria totalmente descartado: haveria uma equipe de juízes responsável por “alinhar as máquinas” e garantir a precisão da calibração. “Parece ser o caminho mais produtivo”, avalia Palacios.
O gargalo dos pré-testes e o ‘Caso Edcley’
A urgência na revisão do processo decorre das falhas expostas no Enem 2025. O exame foi marcado pela divulgação antecipada de questões idênticas às da prova oficial em lives, apostilas e grupos de mensagens.
Ao todo, 8 perguntas da aplicação principal e 4 da edição de reaplicação (Grande Belém) já eram de conhecimento público.
O vazamento ocorreu justamente na etapa de pré-testagem, considerada a maior fragilidade do exame.
Atualmente, para que uma questão entre no Banco Nacional de Itens (BNI), ela passa por três fases:
Elaboração: Redação feita por educadores credenciados.
Validação pedagógica: Análise de alinhamento com a matriz de referência.
Pré-testagem: Aplicação em uma população semelhante à do Enem para medir dificuldade, discriminação (capacidade de diferenciar quem sabe de quem não sabe) e a chance de acerto casual (chute).
Foi descoberto que o estudante de medicina Edcley Teixeira identificou que um concurso da Capes — aplicado a alunos do 1º ano da graduação — servia como campo de pré-testes para o Enem.
Segundo as investigações, Edcley pagava estudantes para participarem do concurso, memorizarem os itens e repassarem as informações, montando um banco de questões que era posteriormente comercializado.
Mudança de postura e desafios futuros
A admissão do uso de IA representa uma mudança significativa na postura do Inep.
Palacios reconhece que é preciso alterar as técnicas de formulação. Além da inteligência artificial, o Inep estuda mudar o ambiente onde os pré-testes presenciais ocorrem.
O desafio, segundo o presidente, é encontrar um modelo que garanta o sigilo sem perder a qualidade da calibração estatística. “Se o aluno não receber nenhum benefício, vai faltar ou não se dedicar. Isso compromete as análises de desempenho”, explica Palacios.
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