A universidade é um espaço de fundamental importância para o desenvolvimento de vida, uma vez que promove a ampliação do rol de habilidades e competências profissionais e pessoais, assim como uma melhora no funcionamento cognitivo de seus alunos.
O período universitário é marcado por características particulares e se constitui como um momento de transição e mudanças na vida do indivíduo . Com todas as mudanças características dessa etapa, novas demandas são geradas e o sujeito tem que se adaptar a esta nova realidade.
Como consequência, esse processo, por vezes, pode causar estresse e insegurança, impactando diretamente a saúde dos alunos.
Pesquisas apontam que a população universitária está vulnerável ao desenvolvimento de alguns transtornos mentais, como depressão, ansiedade e estresse. Um estudo recente, realizado com estudantes de todo mundo, indica que quase metade destes mostram algum sinal de prejuízo à saúde mental.
De acordo com outro levantamento, realizado em 2016 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), mostra que 30% dos alunos de graduação em instituições federais no Brasil procuraram atendimento psicológico e mais de 10% fizeram uso de algum medicamento psiquiátrico.
Segundo psicólogos, a naturalização de comportamentos abusivos; a excessiva cobrança por resultados; o mercado de trabalho competitivo e a pressão para produzir conteúdo e ter carreira de sucesso são apontadas como causas determinantes para esse cenário.
A prioridade é ser feliz
Pensando na saúde mental de seus alunos, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) se inspirou em uma matéria que já existe há mais de dez anos na Universidade de Harvard e inseriu a disciplina “Felicidade” no curso regular de graduação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC).
Ao contrário do que denota o nome, não se trata de uma disciplina específica para as engenharias, ela é aberta a todos os cursos, inclusive a funcionários. O objetivo é trabalhar o desenvolvimento socioemocional, com base na psicologia positiva e na neurociência, contemplando reflexões filosóficas e com aplicabilidade imediata.
De acordo com Vanessa Rodrigues, estudante de psicologia e quem ministrará as aulas, “a disciplina de Harvard, fornece uma direção muito importante sobre criar um ambiente positivo à nossa volta, buscando satisfação naquilo que exercemos e aplicando diariamente os conhecimentos e ferramentas obtidas com esse conhecimento. Isso melhora de maneira exponencial a rotina diária por meio da performance emocional”.
Contudo, Vanessa ressalta que a disciplina da Unicamp não será uma cópia da de Harvard. “A intenção é trazer, além de alguns dados importantes observados pelo mundo sobre a psicologia positiva, questionamentos e, principalmente, o despertar em cada aluno para a importância da dimensão de um propósito de vida”, destaca.
O curso propõe atuar no desenvolvimento de um conjunto de habilidades humanas importantes na formação individual de cada ser, como: olhar para o futuro sem deixar de viver o presente; envolver pessoas; aprender, entender e melhorar a dinâmica individual e conhecer as descobertas neuroquímicas e de neuroplasticidade do cérebro no recorte das emoções.
Estão programados tópicos como aprendizagem ativa e interdisciplinaridade, o cérebro e a neurociência, a constituição do sujeito, a importância do vínculo social, evolução cognitiva versus emocional, e diferença entre sentimentos e emoções e missão, propósito e amor.
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A importância das relações interpessoais
As emoções têm sido objeto de estudo, debate e de grandes reflexões, tamanho seu impacto na vida humana. Segundo a estudante de psicologia, apesar das escolas ainda privilegiarem o cognitivo, as relações interpessoais se tornaram indispensáveis dentro do escopo das escolas e universidades.
Vanessa ainda diz que a expectativa é de que alunos, de diversas áreas, possam se apropriar de conhecimentos emocionais e com isso, melhorar seu bem-estar e a sua saúde física e mental. Ou seja, “estar mais confiante e amadurecido diante de momentos de crise, ser encorajado a superar obstáculos, controlar sua impulsividade e entender melhor as frustrações. Ambiciosamente desejo que exista um despertar para a grande importância dos relacionamentos interpessoais, para perceber o outro, inverter papéis, entender melhor comportamentos, situações e adversidades que todos vivenciamos”, revela.
Informações
É importante destacar que a aula não é uma clínica nem uma terapia de grupo. “É um grande bate-papo, bem leve, passando pela bioquímica, pelo cérebro, comportamento e entrando no autoconhecimento: como você se identifica como pessoa, como se vê, como vê o outro. A pessoa vai vivendo a vida automaticamente, sem se perguntar se gosta do que faz, do trabalho ou da namorada. São perguntas desconfortáveis que fazem com que se cresça, as respostas vão apontar para o aluno o caminho a trilhar”, enfatiza Vanessa Rodrigues.
Serão abordados os seguintes tópicos na disciplina: aprendizagem ativa e interdisciplinaridade; cérebro e a neurociência; constituição do sujeito; importância do vínculo social; evolução cognitiva versus emocional; diferença entre sentimentos e emoções e missão, propósito e amor.
A matéria é aberta aos alunos da Unicamp de todos os cursos da graduação e pós-graduação, ex-alunos, funcionários da Unicamp e toda a comunidade, inclusive de outras universidades.
Os interessados devem fazer a pré-inscrição por meio do site, que também tem uma ementa resumida da disciplina, que tem carga horária de 60 horas/aula.
A efetivação da matrícula na disciplina EE001 só será válida mediante matrícula através do site da DAC entre os dias 04 e 06 de março. O nome da disciplina no sistema da DAC é EE001 - Ensino de Engenharia Elétrica, pois é uma disciplina de tópicos, onde o conteúdo muda a cada semestre.
Vanessa Rodrigues dos Santos Maria ministrará a disciplina, que tem duração de um semestre (período de 4 de março até o início de julho). As aulas acontecerão sempre às segundas e quartas, das 10h às 12h.
Utilidade pública
Desde 1987, a Unicamp oferece o atendimento psicológico pelo Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica (Sappe), que é individual e busca auxiliar o aluno em seus questionamentos no momento em que esteja passando por algum conflito e necessite de ajuda profissional imediata. A justificativa é de que o estudante ingressa na universidade rodeado de grandes expectativas e também sob muitas pressões, que podem levar a um desfecho negativo.
O ingressante enfrenta problemas diversos: dúvidas quanto ao curso escolhido, a saída de casa e a falta dos velhos amigos numa cidade às vezes desconhecida, mudança de hábitos de sono e de alimentação, a necessidade de gerir sua residência e a própria vida. A fim de zelar para que o percurso do aluno seja o melhor possível, o Sappe mantém equipes de psicólogos e psiquiatras nos campi de Campinas, Limeira e Piracicaba.
