O que dizem os especialistas
De acordo com os especialistas ouvidos pela a Revista Quero, essa proposta é reflexo da crise de gestão no Inep e mostra o descaso com a educação brasileira.
Segundo Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV, infelizmente trata-se de uma proposta ruim.
“Imaginar que um banco de questões, que demandava um planejamento que não foi feito pela direção atual do Inep, em que se possam repetir perguntas já demonstra a falta de cuidado que a atual gestão”, afirmou a diretora.
Para Francisco Carlos D’Emílio, mestre em Políticas Públicas de Ensino e consultor da Fundação FAT, o documento mostra um despreparo da gestão e é desrespeitoso com os alunos que se preparam para ingressar no ensino superior.
“Provas com questões repetidas comprovam o imenso descaso com o maior evento da Educação do País. Mostra ainda total desprezo do gestor da educação com a geração que se dedica para esta prova. É apenas mais um sinal de desdém e de falta de atenção com os estudantes, que investem tempo e, no final, são obrigados a decidir sua carreira em uma prova desrespeitada e desrespeitosa”, comentou.
Costin aponta ainda os pontos negativos da repetição de questões no Enem 2022:
“O problema de responder questões é que de uma certa maneira piora ainda mais as oportunidades dos alunos que estão em situação de vulnerabilidade, porque aqueles que têm acesso a cursinhos e à internet, acabam tendo acesso às questões de anos anteriores”.
Na visão de Fernando Santos, especialista em avaliações do Poliedro Sistema de Ensino, essa proposta demanda a atenção da sociedade e de gestores públicos.
“Pode-se colocar em risco as recentes reformaseducacionais, como a implementação da BNCC e do Novo Ensino Médio, e iniciar umacompetição desenfreada nos estudantes de 2ª e 3ª séries e Pré-vestibulares em 2022, porterem de decorar questões das aplicações anteriores do Enem, em vez de focar em realmenteaprender conceitos e desenvolver habilidades que serão avaliadas no exame”.
Santos afirma que alguns exames utilizam reaproveita os itens, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), porém não há divulgação da prova, somente ocorre a publicidade de alguns itens que deixam de fazer parte do banco gerador deprovas.
“Quando se cogita reaproveitar itens de provas que já foram aplicadas, não só acredibilidade do Exame pode ser abalada, mas também a eficácia em estimar a proficiência dosestudantes”, comenta.
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Novo Enem
No dia 17 de março, o ex-Ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o secretário de Educação Básica do MEC, Mauro Rabelo, apresentaram o Novo Enem, resultado de uma reestruturação no exame com base no Novo Ensino Médio, implantado neste ano pelo MEC.
O Novo Enem acontecerá em dois dias, com questões objetivas e discursivas. No primeiro dia os estudantes terão que responder questões de formação básica geral e desenvolver uma redação, já no segundo dia, os participantes do exame deverão responder questões de conhecimentos específicos, relacionadas ao curso pretendido.
O objetivo do MEC é que o novo exame seja aplicado a partir de 2024 para os candidatos que já concluíram o Ensino Médio.
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Crise no MEC
O Ministério da Educação (MEC) passa por um momento de crise. Nesta segunda-feira (28), Milton Ribeiro, que assumia o ministério, foi exonerado do cargo após a divulgação de um áudio em que afirmava favorecer o repasse de verbas a pastores indicados por Bolsonaro.
Milton Ribeiro foi o quarto ministro da educação do governo Bolsonaro e sua gestão foi marcada por polêmicas. Em uma de suas declarações, o ex-ministro defendeu que as universidades deveriam ser “para poucos”.
Agora, quem assume a pasta é o ex-secretário executivo do MEC, Victor Godoy Veiga.
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