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Pensamento afrocentrado: ancestralidade e identidade negra na educação

Conhecimento Geral - Manual do Enem
Última atualização: 15/7/2025

Introdução

O pensamento afrocentrado é uma proposta teórica, filosófica e política que recoloca a cultura africana no centro da visão de mundo para pessoas negras.

Essa abordagem surge como resposta ao apagamento histórico e ao viés eurocêntrico na educação. Mais que teoria, o afrocentrado valoriza ancestralidade, cultura afro-brasileira e saberes tradicionais.

Na educação, promove práticas antirracistas e currículos mais inclusivos, fortalecendo a identidade negra. Entenda!

Dois músicos africanos tocando tambores, ilustrando culturas africanas que fortalecem o pensamento afrocentrado.

Índice

O que é pensamento afrocentrado e qual sua origem?

O pensamento afrocentrado parte do princípio de que os sujeitos negros precisam se enxergar como protagonistas de sua própria história. Isso significa recentralizar a África como ponto de partida para interpretar a realidade e os processos sociais, culturais e históricos. 

Esse conceito está intimamente ligado à afrocentricidade, termo cunhado pelo intelectual norte-americano Molefi Kete Asante na década de 1980.

Enquanto os modelos ocidentais posicionam o conhecimento europeu como universal, a proposta afrocentrada contesta essa hegemonia e propõe uma decolonialidade do saber, ou seja, a valorização de outras formas de conhecimento, especialmente aquelas que foram historicamente subjugadas pelo colonialismo

Ao colocar a cultura africana no centro das reflexões, o pensamento afrocentrado recupera epistemologias tradicionais, visões de mundo comunitárias e interpretações que respeitam a pluralidade étnica.

Essa abordagem se diferencia de práticas multiculturais superficiais, pois exige uma transformação mais profunda das estruturas educacionais e culturais. 

A ideia central da afrocentricidade não é apenas adicionar a África às narrativas existentes, mas reconstruir essas narrativas a partir da perspectiva africana, respeitando sua complexidade, história e filosofia.

Filosofia de Molefi Kete Asante

Molefi Kete Asante é um dos principais nomes da afrocentricidade. Nascido nos Estados Unidos, ele desenvolveu uma teoria crítica que questiona o eurocentrismo dominante nas ciências humanas e sociais. Sua obra propõe que pessoas negras devem ser vistas como sujeitos centrais de suas próprias narrativas e não como objetos estudados por outros.

A proposta de Asante se alinha às epistemologias do sul, que reivindicam a legitimidade dos saberes produzidos fora do eixo Europa-Estados Unidos. 

Ele defende que a recuperação da memória africana e da cultura ancestral é essencial para fortalecer a autoestima, a cidadania e o empoderamento dos povos afrodescendentes.

Diferença entre afrocentrado e afrocentrismo

Embora relacionados, os termos afrocentrado e afrocentrismo apresentam distinções relevantes. O termo "afrocentrado" refere-se à perspectiva adotada, ou seja, à forma como indivíduos e instituições reposicionam a África como centro interpretativo. 

Já "afrocentrismo" pode ser entendido como o conjunto de doutrinas ou práticas que sustentam essa perspectiva, com implicações políticas, sociais e educacionais.

O pensamento afrocentrado, portanto, ultrapassa uma simples valorização étnica; ele propõe um reposicionamento radical da experiência negra como ponto de partida legítimo para o conhecimento e a ação social.

Por que o pensamento afrocentrado é importante para a identidade negra?

A construção da identidade negra está diretamente ligada ao reconhecimento e à valorização das raízes africanas. 

Em uma sociedade marcada por um racismo estrutural que desvaloriza as culturas negras, o pensamento afrocentrado oferece uma base sólida para o empoderamento negro e a reafirmação da afrodescendência.

Adotar uma perspectiva afrocentrada significa compreender-se como parte de uma história rica, diversa e resistente. Jovens negros que se veem representados nos conteúdos escolares, nas práticas culturais e nas referências simbólicas tendem a desenvolver uma autoestima mais sólida e uma consciência étnico-racial mais crítica.

Além disso, a valorização da ancestralidade atua como um elemento essencial na formação da identidade, proporcionando pertencimento e fortalecendo os vínculos comunitários. 

Em um país como o Brasil, onde a negação da negritude ainda persiste em muitos espaços, o pensamento afrocentrado surge como uma ferramenta fundamental para transformar esse cenário, a partir da educação, da cultura e da convivência social.

Casal negro sorrindo e abraçado em frente a uma parede de tijolos, representando alegria, afeto e valorização da identidade negra em um contexto afrocentrado.

Educação antirracista e currículo afrocentrado

Um dos campos mais relevantes para a aplicação do pensamento afrocentrado é a educação. 

A educação antirracista pressupõe não apenas o combate ao preconceito racial nas escolas, mas também a construção de práticas pedagógicas que valorizem as histórias, culturas e contribuições dos povos africanos e afro-brasileiros.

Nesse contexto, o currículo afrocentrado emerge como uma proposta concreta para promover o protagonismo negro e a história da África nas salas de aula. 

Em vez de um currículo centrado na história europeia, essa abordagem propõe incluir saberes africanos, cosmologias tradicionais, personagens históricos negros e expressões culturais afrodescendentes.

O que é um currículo afrocentrado?

Um currículo afrocentrado é aquele construído a partir de uma perspectiva africana, ou seja, que reconhece a centralidade da cultura, da história e das epistemologias africanas no processo educativo. Isso se reflete tanto na escolha dos conteúdos quanto na metodologia de ensino.

Exemplos incluem o estudo de civilizações africanas como o Império Mali ou o Reino de Axum, o ensino da filosofia africana e a valorização da oralidade, das músicas e das expressões culturais de matriz africana. Além disso, práticas pedagógicas afrocentradas estimulam a escuta, o diálogo, o respeito à ancestralidade e o uso de narrativas que empoderem os estudantes negros.

O papel da Lei 10.639/03 e sua aplicação

A Lei 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas do Brasil. Essa medida é fundamental para viabilizar a implementação de um currículo afrocentrado.

A aplicação dessa lei, no entanto, ainda enfrenta desafios, como a falta de formação docente específica e a escassez de materiais didáticos adequados. O pensamento afrocentrado oferece caminhos para aprofundar essa política educacional, contribuindo para uma prática realmente transformadora e antirracista nas escolas brasileiras.

Afrocentrado no cotidiano: relações, estética e cultura

O pensamento afrocentrado ultrapassa os muros da escola e se manifesta também nas relações interpessoais, na estética negra e nas diversas formas de expressão da cultura afro-brasileira. 

Viver de forma afrocentrada é, em muitos casos, adotar valores como coletividade, ancestralidade e conexão com a espiritualidade africana.

Isso se reflete na forma como indivíduos negros se relacionam entre si, como constroem sua aparência e como celebram sua identidade.

O que é um relacionamento afrocentrado?

Um relacionamento afrocentrado baseia-se em princípios africanos como a valorização da ancestralidade, o respeito mútuo, a coletividade e o cuidado comunitário. É uma proposta que resgata vínculos afetivos a partir de uma visão de mundo que respeita a individualidade, mas também fortalece o pertencimento e o legado ancestral.

Nessas relações, o afeto se entrelaça à resistência, à afirmação identitária e ao compromisso com a valorização da negritude em todos os aspectos da vida.

Estética negra e empoderamento

A estética afrocentrada é outro campo de manifestação do pensamento afrocentrado. O uso de tranças, turbantes, roupas com estampas africanas, pinturas corporais e acessórios inspirados na cultura africana são expressões de uma afirmação identitária e de empoderamento negro.

Mais do que uma escolha estética, esses elementos comunicam resistência, ancestralidade e orgulho racial. Ao adotar uma estética afrocentrada, pessoas negras reconfiguram padrões de beleza e desafiam o racismo estético que ainda persiste na sociedade.

Pensamento afrocentrado como epistemologia do Sul

O pensamento afrocentrado se insere no campo das epistemologias do sul, conceito proposto por Boaventura de Sousa Santos para designar os saberes produzidos a partir de experiências históricas de resistência ao colonialismo. 

Nesse sentido, a afrocentricidade é uma epistemologia que valoriza os saberes tradicionais africanos, as cosmovisões comunitárias e os modos de viver que foram marginalizados pela lógica eurocêntrica.

Essa perspectiva se articula à decolonialidade, que busca desconstruir a dominação ocidental sobre o conhecimento. A valorização da cultura africana e dos saberes não hegemônicos, portanto, não é apenas uma questão de justiça histórica, mas de reconfiguração profunda do modo como compreendemos o mundo e produzimos conhecimento.

Se você deseja aprofundar seus estudos sobre a história da África, educação antirracista e temas ligados à valorização da identidade negra, continue acompanhando os conteúdos do Manual do Enem.

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