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Fernando Pessoa

Literatura - Manual do Enem
Laisa Ribeiro Publicado por Laisa Ribeiro
 -  Última atualização: 28/7/2022

Índice

Introdução

Astrologia não é uma moda recente. O português Fernando Pessoa, lá no início do século XX, além de ser poeta, filósofo, dramaturgo e adepto de diversas outras profissões, também era astrólogo.

Esse geminiano com ascendente em Escorpião e Lua em Leão tinha um apreço especial pelo ocultismo, conhecimento que ajuda bastante a entender sua literatura e sua grande característica: o uso dos heterônimos.

A astrologia ajuda a pensar no ser humano como um indivíduo complexo com características diferentes dentro de apenas um ser. Essa é basicamente a ideia dos heterônimos.

O que são os heterônimos?

Eles são diferentes dos pseudônimos, em que o escritor é a mesma pessoa, mas escreve com outro nome.

No caso dos heterônimos, além de escrever com outro nome, Fernando Pessoa criava uma outra pessoa, uma outra personalidade e escrevia sob essa perspectiva.

Ele até mesmo criava o mapa astral de cada um, minuciosamente. Naquela época não havia internet, logo, ele fazia o mapa astral na mão, com lápis, compasso e verificando tabelas. Um trabalho árduo, mas que ele fazia com prazer. Em seu espólio foram encontrados mais de 300 mapas astrais.

Cada heterônimo é diferente do autor original. Ele tem uma manifestação artística completamente diferente, mas acaba sendo criado pelo ortônimo, o autor original, que, no caso, é Pessoa.

Faça um exercício para entender melhor: crie uma pessoa completamente diferente de você, com uma personalidade, uma família, uma profissão, e escreva como se fosse ela. Você terá criado um heterônimo.

Três heterônimos mais conhecidos de Pessoa

Os três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa são Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Todos possuem uma história e até mesmo uma data de nascimento e morte. Menos Ricardo Reis que não tem data de falecimento e quiçá pode até estar vivo até hoje.

Brincadeiras à parte, vamos conhecer um pouco mais dessas personalidades que Fernando Pessoa criou para escrever?

Álvaro de Campos

Álvaro de Campos foi o único heterônimo criado por Pessoa que possui diferentes fases poéticas. Ele é um engenheiro português que teve educação inglesa. Sempre se sentiu um estranho no mundo, como se fosse um eterno estrangeiro, não importa onde estivesse.

Ele começa sua obra absolutamente influenciado pelo decadentismo – literatura pessimista e que valorizava a estética do feio – e segue rumo ao simbolismo.

Contudo, logo se encontra no futurismo. O poeta sempre critica a velocidade com a qual a tecnologia faz o mundo funcionar e deixa isso bem nítido em seus poemas. Ele é o autor de “Odes” e “Ultimatum”.

Mapa astral do heterônimo feito pelo próprio Fernando Pessoa, o que mostra o cuidado que ele tinha com suas criações.Mapa astral feito por Fernando Pessoa, mostrando o cuidado que ele tinha

Álvaro de Campos era um ser volátil. Após o futurismo, ele mergulha no pessimismo e entra no niilismo. Toda essa indecisão em escolher apenas um movimento literário é explicada pelo fato de que o moço era libriano.

Sendo um niilista, a vida parece não fazer sentido algum e ele deixa isso bem elucidado no poema “Tabacaria”, um dos poemas mais famosos de Portugal.

Veja os primeiros versos e o vídeo sendo declamado:

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Ricardo Reis

Ricardo Reis era um médico que sabia latim e acreditava na monarquia. Ele representa a Antiguidade Clássica no contexto ocidental. Apreciava a simetria, a harmonia e o bucolismo, ou seja, a vida no campo, procurando os prazeres nas simplicidades da vida, como a gastronomia, um bom vinho e uma linda paisagem da natureza.

Sua obra clássica e extremamente disciplinada (ele era virginiano!) fala sobre a morte com frequência e usa diversas mitologias não relacionadas ao cristianismo.

Fernando Pessoa disse que quando Portugal virou uma República, Reis, que acreditava na monarquia, ficou indignado e se mudou para o Brasil. Por isso, sua data de morte é desconhecida.

Sua presença na literatura portuguesa, contudo, ficou marcada: após a morte de Pessoa, outro grande autor português, José Saramago, continua a contar aos leitores a vida de Reis no romance “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.

Alberto Caeiro

Alberto Caeiro nasceu em Lisboa e viveu toda a sua vida como um camponês, sem estudos formais. Apesar de ter estudado pouco na infância para aprender o básico, ele é considerado o mestre dos heterônimos.

Esse leonino corajoso, que representa o fogo, teve uma vida difícil: perdeu os pais cedo, viveu com a tia-avó uma vida simples e acabou morrendo de tuberculose.

Havia algo de filósofo (apesar de chamar o que escrevia de não-filosofia) e mago nele, ao mesmo tempo. Se você acha que os heterônimos não se conheciam entre si, estava enganado, meu caro. Ricardo Reis considerava Caeiro uma espécie de deus Pã, figura da mitologia grega.

Sobre ele, Pessoa escreveu:

Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça, Caeiro teve essa força.

Não escrevia em prosa, era o único que se dedicava apenas à poesia. Para ele, apenas a poesia poderia apreender a realidade.

Escrevia de forma direta e simples. Em sua simplicidade, paradoxalmente, havia algo de complexo que faz com que o leitor entre em uma reflexão.

O semi-heterônimo, Bernardo Soares

Um quarto heterônimo de grande importância é Bernardo Soares. Por ser muito parecido com o próprio Pessoa – e seus escritos enquanto Fernando – e não ter uma personalidade tão desenvolvida, Soares é chamado de semi-heterônimo. Ele é o autor do “Livro do Desassossego”.

Ele era um ajudante em uma loja de livros em Lisboa e conheceu Fernando Pessoa em uma casa de pasto em que frequentavam – sim, autor e heterônimos podiam se conhecer na imaginação de Fernando Pessoa! Ele criou até mesmo esses encontros em sua mente criativa.

No encontro, Soares entregou o livro para Pessoa, que apesar de ser escrito em fragmentos, é considerado uma das maiores obras da literatura portuguesa. É uma autobiografia sem fatos cheia de dramaticidade e reflexões humanas.

Sobre ele, Pessoa afirma:

Não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade.

Fernando Pessoa como Fernando Pessoa

Como Fernando Pessoa (ele também escrevia como ele mesmo), deixamos aqui um poema que ele escreveu para que você possa perceber como o autor via a profissão de poeta: como alguém que pode fingir, que pode mimetizar...

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama o coração.

O uso dos heterônimos é uma criação inovadora e genial que faz com que Fernando Pessoa torne-se uma figura mítica dentro da literatura.

Jacques Derrida, o filósofo francês, já dizia que, dentro do nome de uma pessoa, é possível distinguir algo de sua personalidade.

Isso é nítido do caso de Fernando Pessoa, que carrega, não apenas no nome, mas dentro de si, várias pessoas. Esse fato apenas multiplicou seus horizontes enquanto escritor e suas diversas visões da literatura.

Exercício de fixação
Passo 1 de 3
ENEM/2004

tirinha do Hagar sobre poema do Fernando Pessoa. Questão Enem 2004

A tirinha “Hagar” estabelece um interessante contraponto com o poema “Eu sou do tamanho do que vejo”, de Alberto Caeiro:

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer

Porque sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

(Alberto Caeiro)

A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente,

A pelo alcance de cada cultura.
B pela capacidade visual do observador.
C pelo senso de humor de cada um.
D pela idade do observador.
E pela altura do ponto de observação.
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