Os três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa são Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Todos possuem uma história e até mesmo uma data de nascimento e morte. Menos Ricardo Reis que não tem data de falecimento e quiçá pode até estar vivo até hoje.
Brincadeiras à parte, vamos conhecer um pouco mais dessas personalidades que Fernando Pessoa criou para escrever?
Álvaro de Campos
Álvaro de Campos foi o único heterônimo criado por Pessoa que possui diferentes fases poéticas. Ele é um engenheiro português que teve educação inglesa. Sempre se sentiu um estranho no mundo, como se fosse um eterno estrangeiro, não importa onde estivesse.
Ele começa sua obra absolutamente influenciado pelo decadentismo – literatura pessimista e que valorizava a estética do feio – e segue rumo ao simbolismo.
Contudo, logo se encontra no futurismo. O poeta sempre critica a velocidade com a qual a tecnologia faz o mundo funcionar e deixa isso bem nítido em seus poemas. Ele é o autor de “Odes” e “Ultimatum”.
Mapa astral feito por Fernando Pessoa, mostrando o cuidado que ele tinha
Álvaro de Campos era um ser volátil. Após o futurismo, ele mergulha no pessimismo e entra no niilismo. Toda essa indecisão em escolher apenas um movimento literário é explicada pelo fato de que o moço era libriano.
Sendo um niilista, a vida parece não fazer sentido algum e ele deixa isso bem elucidado no poema “Tabacaria”, um dos poemas mais famosos de Portugal.
Veja os primeiros versos e o vídeo sendo declamado:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Ricardo Reis
Ricardo Reis era um médico que sabia latim e acreditava na monarquia. Ele representa a Antiguidade Clássica no contexto ocidental. Apreciava a simetria, a harmonia e o bucolismo, ou seja, a vida no campo, procurando os prazeres nas simplicidades da vida, como a gastronomia, um bom vinho e uma linda paisagem da natureza.
Sua obra clássica e extremamente disciplinada (ele era virginiano!) fala sobre a morte com frequência e usa diversas mitologias não relacionadas ao cristianismo.
Fernando Pessoa disse que quando Portugal virou uma República, Reis, que acreditava na monarquia, ficou indignado e se mudou para o Brasil. Por isso, sua data de morte é desconhecida.
Sua presença na literatura portuguesa, contudo, ficou marcada: após a morte de Pessoa, outro grande autor português, José Saramago, continua a contar aos leitores a vida de Reis no romance “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.
Alberto Caeiro
Alberto Caeiro nasceu em Lisboa e viveu toda a sua vida como um camponês, sem estudos formais. Apesar de ter estudado pouco na infância para aprender o básico, ele é considerado o mestre dos heterônimos.
Esse leonino corajoso, que representa o fogo, teve uma vida difícil: perdeu os pais cedo, viveu com a tia-avó uma vida simples e acabou morrendo de tuberculose.
Havia algo de filósofo (apesar de chamar o que escrevia de não-filosofia) e mago nele, ao mesmo tempo. Se você acha que os heterônimos não se conheciam entre si, estava enganado, meu caro. Ricardo Reis considerava Caeiro uma espécie de deus Pã, figura da mitologia grega.
Sobre ele, Pessoa escreveu:
Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça, Caeiro teve essa força.
Não escrevia em prosa, era o único que se dedicava apenas à poesia. Para ele, apenas a poesia poderia apreender a realidade.
Escrevia de forma direta e simples. Em sua simplicidade, paradoxalmente, havia algo de complexo que faz com que o leitor entre em uma reflexão.