“Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra.”
Conhece esses versos? Eles são considerados um dos mais bonitos e importantes da literatura brasileira e fazem parte de Morte e vida Severina, do poeta João Cabral de Melo Neto.
Morte e vida Severina foi a obra-prima de João Cabral de Melo Neto, escrita entre 1954 a 1955. Criada como um poema dramático, a obra pode ser encenada; inclusive o objetivo do autor era que sua encenação ocorresse durante o período do Natal, como um auto de teor regionalista, uma vez que fala sobre os problemas pelos quais o Nordeste brasileiro passava.
A obra foi traduzida para diversos idiomas e consagrou João Cabral de Melo Neto. Além disso, ela foi adaptada para a televisão, para o cinema, para o teatro e até em forma de animação.
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Morte e vida Severina mostra ao leitor o personagem Severino, um retirante nordestino. Perceba como o título coloca a palavra “morte” antes de “vida”, mostrando como é mais fácil morrer do que viver na miséria em que ele vivia.
O enredo mostra Severino deixando o sertão rumo ao litoral, em busca de uma vida melhor. No caminho, ele vai encontrando outros moradores do sertão nordestino que, como ele, também estão sofrendo diante do esquecimento que o local recebe do Estado e das autoridades, principalmente a população pobre.
O poeta mostra e critica diversas situações, como as injustiças do povo, o solo rachado e a forma como os latifundiários mandam matar os sertanejos.Severino percebe que a Morte é a única que lucra naquele lugar.
Pensando em se suicidar no Rio Capibaribe, ele é impedido pelo carpinteiro José, que lhe conta que seu filho está nascendo. Aqui, começam as referências bíblicas e o motivo pelo qual a peça é tão propícia a ser encenada durante o Natal.
O verso a seguir mostra como todos no sertão compartilham a mesma sina, a mesma situação e, às vezes, até o mesmo nome:
"O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias."
"E foi morrida essa morte,
irmãos das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?"
Em uma importante cena, uma das personagens comenta sobre a diferença da morte matada e da morte morrida. Naquele contexto, a morte matada significaria um assassinato, uma morte por revólver. Aqui, o poeta faz uma crítica às diversas formas como as pessoas pobres do sertão nordestino são assassinadas por latifundiários ricos e pela violência.
A morte morrida seria a morte natural, ocorrida até mesmo por causa da fome, uma vez que a miséria é uma realidade implacável no sertão. Sem o auxílio do Estado, muitos muitos morriam precocemente nessa situação. O autor chega a dizer que até mesmo os que não nasceram já sofriam com a fome.
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João foi o poeta mais importante da geração de 45. Influenciado por Drummond e Murilo Mendes, logo achou sua voz única. Devido à sua formação de engenheiro, colocou toda a precisão de um estudante de exatas em sua poesia. Sua obra era seca e objetiva. Não havia floreios, apenas o que precisava ser dito.
Pernambucano, ele conhecia muito bem os problemas pelos quais o Nordeste brasileiro passava e dedicou diversos livros a falar sobre a miséria e a opressão as quais os moradores do local vivenciavam.
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Morte e vida Severina se mostra extremamente importante e, infelizmente, muito atual, quando se pensa na forma como o Estado ainda mantém diversas regiões do país em estado de esquecimento e negligência. Por meio dos versos objetivos e extremamente ritmados, o leitor tem uma experiência única ao ler o poema dramático de João Cabral de Melo Neto.
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Morte e vida Severina
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento).
Nesse fragmento, parte de um auto de Natal, o poeta retrata uma situação marcada pela: