Poesia fala apenas sobre o amor? O parnasianismo surge para mostrar que não é bem assim e que a poesia pode falar sobre qualquer tema, desde que sua forma seja bela e perfeita.
Poesia fala apenas sobre o amor? O parnasianismo surge para mostrar que não é bem assim e que a poesia pode falar sobre qualquer tema, desde que sua forma seja bela e perfeita.
Da mesma forma como apresentado no contexto do realismo e do naturalismo, a Revolução Industrial e o advento das descobertas científicas tiveram um grande impacto na literatura.
Os escritores acreditavam que o sentimentalismo da época romântica já não representava o que eles pensavam.
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Em 1866, poetas franceses, como Théophile Gautier e Leconte de Lisle publicaram uma antologia de poemas muito inovadora. Ela se chamava “O Parnaso Contemporâneo” e dizia que a poesia deveria ser mais objetiva, sem toda a sofrência e as lamúrias presentes no romantismo.
Por que sofrer de amor, se os poetas poderiam escrever sobre outras coisas? Os poetas, a partir dessa estética literária, começaram a ter um olhar impessoal sobre os objetos utilizados como temática na poesia.
Essa palavra deu origem ao nome do movimento literário, logo, ela é um ponto vital para sua compreensão.
Parnaso era uma montanha da mitologia grega em que Apolo e as musas, seres que davam inspiração aos artistas, moravam. A escolha desse nome mostra o desejo de resgatar as figuras da Antiguidade clássica e a visão de que a beleza da arte seria alcançada com trabalho minucioso e esforço.
O parnasianismo pregava que a arte não existia para melhorar a sociedade, a moral ou os leitores. Ela existia por si só. Sua finalidade era ela própria.
Surge daí a ideia da arte pela arte. Ou seja, a arte existe apenas por causa de sua própria beleza.
Essa poesia era extremamente descritiva. O metro, o ritmo e a rima eram trabalhados com todo o cuidado do mundo pelos poetas que desejavam chegar a um estado de harmonia perfeita.
Eles tinham uma postura impassível diante das situações, para evitar o sentimentalismo dos românticos. Sabe aquela pessoa blasé, que não demonstra emoções? Eram eles.
Se para encontrar a palavra perfeita fossem necessárias horas, eles não hesitariam em passar horas procurando-a. Esse é o preciosismo.
O contexto histórico colaborava para tais comportamentos. Aquele momento ficou conhecido como a belle époque. Era evidente que as elites tinham um apreço especial pelo luxo e pela vaidade – a classe dominante usava roupas ornamentadas e visitava lugares muito elaborados e iluminados.
As mulheres usavam espartilhos, mangas bufantes e chapéus coloridos, grandes e com plumas; já os homens, cartolas e bengalas.
Havia uma ornamentação nessa época que combinava com a poesia do parnasianismo. Além disso, a elite não queria ler acerca de assuntos profundos, logo, o parnasianismo cai como uma linda luva em suas delicadas mãos, uma vez que os temas eram menos importantes que a forma.
Comumente, os poetas desse movimento eram criticados por estarem “presos em suas torres de marfim, longe da civilização”. Eles já não escreviam sobre os males da sociedade, muitas vezes, a temática do parnasianismo podia ser uma ode a um vaso chinês.
Leia o poema “Vaso chinês” de Alberto de Oliveira:
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármore luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Para entender melhor todo o luxo e rebuscamento da época, um filme que mostra esses detalhes de uma forma muito bonita é o musical “Moulin Rouge” (2001).
O movimento, no nosso país, começou com o livro “Fanfarras de Teófilo Dias”, em 1882. Alguns nomes de destaque foram Raimundo Correia, que ficou muito conhecido por seu poema “As Pombas”, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.
O parnasianismo alcançou verdadeira popularidade com a figura de Olavo Bilac, que chegava a ouvir pessoas declamando seus poemas enquanto passava pelas ruas. Seus sonetos eram muito populares.
O soneto lírico “Via Láctea” mostra como, apesar da repulsa pelos sentimentos, era possível colocar sentimentalismo no parnasianismo.
Bilac, que é o compositor do Hino à Bandeira do Brasil, além de ser muito patriota, é autor das obras do parnasianismo “Poesias” (1888) e “Tarde” (1919).
No poema “Profissão de Fé”, ele conseguiu transmitir com muita fidelidade exatamente o que o parnasianismo pregava. Nele, o poeta trabalha em um poema, procurando rima e ritmo, assim como um ourives trabalha arduamente na criação de uma joia. Ele até mesmo afirma que morreria em prol do estilo.
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
Celebrarei o teu oficio
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
No parnasianismo, a arte não é pensada para a sociedade nem para um bem coletivo ou individual. Ela é pensada apenas como arte, feita apenas porque é bela e perfeita.
Não há espaço para sentimentalismos, apenas para o objetivo e para o resgate da mitologia grega. As rimas, o metro e o ritmo devem ser trabalhados até a exaustão.
Para entender melhor esse período pelo qual o Brasil passava durante o parnasianismo, uma dica é assistir ao filme “O Xangô de Baker Street” (2001), que mostra uma visita de Sherlock Holmes às nossas terras tropicais!
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espirito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.)
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que: