Descrever é o ato de expor as características de um determinado ser: objeto, paisagem, sensação, pessoa etc.
Em um texto, seja ele oral ou escrito, esse processo é feito, principalmente, por meio do uso de:
Além disso, descrições se preocupam apenas em apresentar fatos ou impressões. Logo, geralmente não apresentam uma progressão temporal ou uma delimitação espacial bem definida.
Os textos que utilizam da descrição como principal forma de transmitir sua mensagem são classificados quanto à tipologia textual como textos descritivos.
Entretanto, a maioria dos textos narrativos também utilizam da descrição como forma de fornecer ao leitor ferramentas para construir imagens de cenários, personagens e objetos.
Existem diferentes formas de descrever algo, bem como diversos recursos textuais que podem ser utilizados como forma de tornar uma descrição mais completa e mais alinhada ao propósito em que é empregada.
A seguir, serão expostas algumas dessas formas e recursos.
As características do ser representado pela descrição são apresentadas de forma objetiva, impessoal e sem o uso de metáforas ou outras figuras de linguagem.
Em outras palavras, é uma descrição totalmente fiel à realidade. Seu uso é muito comum em notícias, livros didáticos e textos instrucionais.
Exemplo:
A greve dos caminhoneiros continua nesta terça-feira, 29 de maio, apesar de o presidente Michel Temer ter anunciado a adoção de cinco reivindicações importantes dos manifestantes, como o aumento no desconto por litro de diesel (de 41 centavos para 46 centavos) e o congelamento do valor por 60 dias. Apesar disso, parte dos caminhoneiros continuam mobilizados pelo nono dia, com bloqueios em rodovias de vários Estados e do Distrito Federal. As consequências da greve dos caminhoneiros vão desde hospitais com falta de medicamentos; transplantes de órgãos não realizados; supermercados desabastecidos; postos de combustíveis sem etanol, gasolina e diesel; voos cancelados; aulas da rede pública e privada suspensas; entre outros. (Greve dos caminhoneiros: as últimas notícias da crise dos combustíveis; El País)
A enumeração utilizada para descrever as consequências da greve é totalmente impessoal, comprometida com a verdade dos fatos. Portanto, constitui uma descrição objetiva.
As características do ser em questão são apresentadas de acordo com a ótica do narrador, ou seja, é uma descrição pessoal e subjetiva, repleta de recursos figurativos e sem comprometimento com a realidade. É muito presente em textos literários, em especial na descrição psicológica de personagens.
Exemplo:
A última letra se venceu num dia de inverno. Chovia que era um deus-nos-acuda. De manhã cedinho mandei Casimiro Lopes selar o cavalo, vesti o capote e parti. Duas léguas em quatro horas. O caminho era um atoleiro sem fim. Avistei as chaminés do engenho do Mendonça e a faixa de terra que sempre foi motivo de questão entre ele e Salustiano Padilha. Agora as cercas de Bom-Sucesso iam comendo São Bernardo.
Dirigi-me à casa-grande, que parecia mais velha e mais arruinada debaixo do aguaceiro. Os muçambês não tinham sido cortados. Apeei-me e entrei, batendo os pés com força, as esporas tinindo. Luís Padilha dormia na sala principal, numa rede encardida, insensível à chuva que açoitava as janelas e às goteiras que alagavam o chão. (São Bernardo, Graciliano Ramos)
A descrição do cenário chuvoso, da fachada da casa-grande e da sala principal constituem claros exemplos de descrição subjetiva por parte do narrador-personagem, Paulo Honório.
Consiste no uso das semelhanças do objeto em questão com algum outro objeto para gerar uma compreensão geral de suas características.
Essa comparação pode ser feita de forma indireta (metáfora) ou de forma direta.
Exemplos:
Utilizada como recurso para fazer uma apresentação sequenciada das características de um ser.
Exemplo:
Enquanto caminhava, procurei no horizonte o maior prédio da Universidade. Pelas descrições de Ben, sabia como ele seria: sem características marcantes, cinzento e quadrado como um bloco. Maior do que quatro celeiros empilhados. Sem janelas nem elementos decorativos e com apenas um conjunto de enormes portas de pedra. Dez vezes 10 mil livros. O Arquivo. (O nome do vento, Patrick Rothfuss)
Recurso utilizado para induzir o leitor a criar uma imagem do que está sendo descrito a partir de uma associação com os sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição.
Exemplo:
Ali, estacionado no meio do mato, quase fora do alcance da visão, estava um Audi preto. [...] Collet pôs a mão no capô. Ainda estava morno. Quente, mesmo. (O código Da Vinci, Dan Brown)
O leão
A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que fossem lágrimas.
Observei em volta: somos todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o seu antigo prestígio - as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula. Derreado, não pode sustentar-se em pé.
Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés.
Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos.
– Ele não tem dente?
– Tem sim, não vê? Não tem é força para morder.
Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecido o travo amargoso da derrota. Está velho, artrítico, não se aguenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu.
O leão abriu a bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo. Entre caretas de dor, elevou-se aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé. Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do fordeco antigo.
Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre.
Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):