Quando você abre a página do Netflix, a razão diz que você deveria escolher um documentário acerca de algum assunto do vestibular, certo?
Mas, às vezes, deixamos as emoções tomarem conta e só queremos assistir alguma comédia romântica que faça descer algumas lágrimas dos nossos olhos.
Se sentiu culpado por ter cedido a esse sentimento? Calma, saiba que essa foi uma atitude que combina muito com a escola literária do romantismo!
No século XIX, o iluminismo deu lugar a uma série de transformações sociais e econômicas lideradas pela classe burguesa ocorridas durante a Revolução Francesa e a posterior Revolução Industrial.
Com isso, a classe burguesa ganhou poder político e procurou na arte uma estética literária com a qual se identificar: assim surge o romantismo.
O romantismo é o movimento literário das idealizações, do arrebatamento, das emoções. Ele quer mostrar a força dos sentimentos em detrimento do uso da razão, tão apreciado durante o arcadismo.
Os românticos já não querem imitar os autores clássicos, eles querem originalidade. As ideias são passadas com subjetividade, tudo a partir do ponto de vista do “eu” – do indivíduo.
O elogio da beleza clássica perfeita é substituído pelo elogio pelo esforço individual, a sinceridade e o trabalho – valores burgueses, já que essa era uma classe social que ganhou dinheiro nas atividades do comércio.
No romantismo, o herói do livro precisava ser honrado, trabalhador, sincero e heroico. Ele teria que passar por alguns obstáculos para atingir seu objetivo, afinal, o sacrifício e o esforço eram extremamente valorizados.
As histórias de amor, principalmente as que enviam vários conflitos e impossibilidades de se concretizar, ficaram famosas. O sentimento puro do amor mostrava que ele tinha o poder de transformar os seres humanos.
Um livro muito famoso dessa época é O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Ele conta a história de Catherine e Heathcliff, dois jovens que foram criados juntos, se apaixonaram, mas nunca puderam ficar juntos. É uma história trágica e infeliz em que nem mesmo a morte acaba com o amor.
Os ventos citados no título mostram como o clima tempestuoso da paisagem do romance é uma metáforapara os sentimentos tristes dos próprios personagens. Não é à toa que esse livro é lido pela personagem Bella Swan da saga Crepúsculo.
Nessa época, ser escritor se torna uma profissão. Muitos usavam a escrita para sobreviver. A circulação das obras começara a aumentar e, na imprensa, surgem os folhetins.
Você já assistiu a uma novela? A ideia do folhetim é muito parecida: há muitos personagens e muitos acontecimentos pitorescos.
Sabe aquele momento em que a novela acaba bem no momento em que a sogra da mocinha vai descobrir que ela é, na verdade, um robô?
Essa era uma técnica narrativa que já era usada pelos folhetins – o gancho, que consiste em acabar com um pedaço da narrativa em um momento de suspense para que leitor e espectador volte para assistir ou ler a próxima edição.
Muitos autores escreveram folhetins como Balzac, Camilo Castelo Branco e José de Alencar. O folhetim mais famoso foi O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, que conta a história de um homem preso injustamente que volta, anos mais tarde, rico e pronto para se vingar.
Reconheceu o enredo? A novela O Outro Lado do Paraíso se inspirou nessa obra para criar a personagem Clara e sua famosa frase “Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta!”.
Nesse período também surge a grande representatividade feminina na leitura. As leitoras do romantismo eram muitas e os escritores sabiam disso!
Por isso, foram criadas obras que que poderiam agradar esse público, com amores impossíveis e idealizados.
Esses romances acabavam sendo uma forma de divulgar o valor burguês de a família era a base da sociedade e que a mulher precisava aceitar o seu “papel” nessa estrutura.
Aqueles memes sobre alguns tweets em que a cantora Lana Del Rey diz que gostaria de estar morta combina muito com o romantismo, uma vez que, nesse movimento, a fuga da realidade é cultuada e ela pode ser atingida por meio da morte.
Morrer torna-se uma imagem muito perigosa de que este ato seria um alívio para os males do mundo e uma possibilidade de se encontrar com o parceiro amado, em uma relação cheia de obstáculos que não pode se concretizar na vida real.
O romantismo tem uma linguagem mais direta, passional, que valoriza a imagem dos sonhos e do passado histórico. A Idade Média surge como cenário para diversas obras como um período de atos heroicos e sentimentos.
Há uma linguagem com liberdade formal, sem esquemas rigorosos e rimas na poesia. Os escritores usavam muitos adjetivos e muitos sinais, como interrogação, exclamação e reticências para enfatizar os sentimentos dos personagens para os leitores.
Uma das características mais importantes desse movimento era o nacionalismo. Em um momento em que o indivíduo se libertava da corte e se tornava cidadão de uma pátria, surgia a necessidade de criar símbolos nacionais.
O nacionalismo falava sobre um sentimento de amor em relação a uma terra ou cultura compartilhada por um grupo de indivíduos.
Por exemplo, qual brasileiro não tem um sentimento especial de nacionalismo quando vê o Neymar jogar ou com os seus maravilhosos tweets como “To chegando com o refri, rapaziada!”.
Três países tiveram importante papel na formação de três correntes românticas: Alemanha, Inglaterra e França.
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A Alemanha foi o país fundador do nacionalismo na literatura romântica. Os alemães criaram o conceito de alma do povo. Cada povo é singular e pode expressar suas crenças na arte.
Goethe foi um grande expoente – ele escreveu sobre seu país de forma idealizada, exaltando seu lado positivo.
A partir desse nacionalismo, surge o conceito de romance histórico, que influenciou escritores de outros países, como Walter Scott.
A influência continua até hoje. Romances históricos fazem sucesso até hoje. Um exemplo é o livro O duque e eu de Júlia Quinn.
Esse sentimento de paixão pela pátria veio em um momento muito propício para o Brasil: o país acabara de passar pela Proclamação da Independência e precisava criar símbolos nacionais.
A solução foi escrever romances nacionalistas românticos, como O guarani, de José de Alencar, que exalta a figura do indígena e da natureza brasileira.
No país inglês surge uma fascinação por obras que se passam em países exóticos e desconhecidos. Eles eram pitorescos, singulares e tinham um apreço especial pela morte, o sombrio, o sobrenatural.
Esse foi o resgate do gótico medieval, com uma forte expressão da melancolia, explorando locais como cemitérios e ruínas.
Exemplos muito conhecidos são os romances O médico e o monstro e Frankenstein. Os filmes de terror que conhecemos hoje começaram com adaptações, nos anos 1920 e 1930, de obras como essas.
Há inúmeras adaptações para quem quer adentrar esse mundo: uma dica é assistir ao Frankenstein de 1994.
Nada mais natural que essa necessidade de explorar os problemas da sociedade surgisse no país em que ocorreu a Revolução Francesa, com as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.
Victor Hugo foi o maior exemplo dessa época. Ele escreveu obras que reverberam até os dias de hoje. O corcunda de Notre Dame e Os miseráveis são romances que exploram a luta das minorias por respeito e melhores condições de vida.
Alexandre Dumas também foi um grande nome desse momento no país.
O Romantismo no Brasil teve como maior exemplo o escritor José de Alencar, que dividiu sua obra em três fases. A primeira, indianista, focava em romances com forte teor nacionalista em que ele dava ênfase às figuras do indígenas e da natureza. A segunda fase, com os romances urbanos, focou nas personagens femininas e nos centros urbanos, onde havia a denúncia de uma sociedade hipócrita. A terceira fase foi a regionalista em que Alencar escreveu sobre o interior do país e idealizou a figura do sertanejo, que tornou-se um herói para o escritor.
Ainda somos muito influenciados pelas ideias românticas. Nossa ideia de amor ainda é construída com base nos amores idealizados e impossíveis daquela época.
O apreço pelo sombrio e pelo sobrenatural ainda está presente nas séries que vemos na Netflix, como The Vampire Diaries.
Quer continuar estudando esse movimento no mundo do cinema? Você encontrará muitas opções diferentes!
Se gostar de musicais, uma boa pedida é o musical Os miseráveis, de 2012. Mas se estiver com vontade de ver um pouco mais de sangue, experimente assistir à adaptação de Drácula de 1992. Você não se arrependerá de se render a esses sentimentos!
Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indómito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.
GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a