Você já se deparou com a palavra vintage? Ou já percebeu como, na moda, muitas roupas e acessórios que seus pais usavam voltaram a ser tendência? Um exemplo são as chockers, uma gargantilha que foi muito usada na década de 1990 e que voltou a ser o acessório preferido mais de vinte anos depois.
Mas o que isso tem a ver com Classicismo? São exemplos de uma característica da sociedade que está presente no movimento literário: o apreço às obras do passado e seu retorno.
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O Classicismo foi uma escola literária que teve seu apogeu durante o Renascimento - cujo berço foi a Itália -, época que marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. Foi um período de intenso renascimento filosófico, político, cultural e artístico.
A sociedade já não queria seguir o teocentrismo medieval. Os artistas acreditavam no antropocentrismo, ou seja, que o ser humano é o centro de tudo. Essa era uma ideia muito utilizada pelos pensadores da Antiguidade Clássica, como Aristóteles, Platão e vários outros nomes que você deve ter ouvido nas aulas de filosofia.
Esse é um ponto importante: da leitura de obras filosóficas, tornou-se popular o uso da razão nas obras do Classicismo. Os artistas passaram a tentar explicar sentimentos humanos, como o amor, por meio de pensamentos racionais.
Um exemplo disso é o filme “Para sempre Cinderela”, de 1998, que se passa durante o Renascimento. Nele, ainda há a história romântica do encontro entre Cinderela e o príncipe, mas a fada madrinha já não é mais uma senhora com poderes mágicos, e sim o próprio Leonardo da Vinci, pintor do Classicismo, que estava passando por ali com seus quadros e resolve ajudar a moça. É o uso da razão em meio a um contexto sentimental e mágico.
O Classicismo ficou marcado como um movimento que utilizava as ideias da Antiguidade acerca do equilíbrio e da harmonia das formas. Perceba como a estátua abaixo é toda simétrica. Esse é o ideal apolíneo da Antiguidade, resgatado pelo Renascimento.
Na arte, artistas como Michelangelo e Leonardo da Vinci traziam o antropocentrismo para suas obras. Mostravam como o ser humano - e não uma divindade etérea e autoritária - era o parâmetro para a perfeição.
Eles seguiam a ideia aristotélica de mimese: imitação do ser humano e mimetização dessa figura nas obras artísticas.
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Na Idade Média, os seres humanos eram mostrados como seres que passavam por diversos sofrimentos e dores. Eram imagens que estavam sempre ajoelhadas, pedindo perdão perante uma divindade.
O Classicismo rompe com esse padrão e busca mostrar a felicidade terrena dos seres humanos e como eles podem alcançá-la por meio do esforço individual – uma ideia que vinha diretamente da burguesia, classe social que emergia através do ganho de dinheiro e poder político com as atividades mercantis.
Este movimento foi, comumente, feito por jovens, filhos de comerciantes – burgueses –, patrocinados por mecenas, burgueses ricos e poderosos que patrocinavam a arte.
Também foram resgatadas as figuras dos deuses pagãos, adorados pelos gregos e romanos, mas vistos como pecado pela Igreja medieval.
Uma das obras mais famosas é “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli, que mostra a chegada de Afrodite ao mundo, junto com seres místicos, como as ninfas.
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Alguns autores marcantes do período Classicista são:
É nessa época que surge o dramaturgo inglês Shakespeare, com obras que reverberam até hoje. Quem não conhece a história trágica do casal Romeu e Julieta? O autor também usou figuras pagãs em suas obras: a comédia “Sonhos de uma Noite de Verão” traz a presença de diversas fadas, elfos e seres místicos.
Na literatura, uma das formas mais populares era o soneto. Petrarca, um poeta italiano, deu início ao doce estilo novo, uma forma que rompia com a medida velha (versos com sete sílabas) e escrevia com esse estilo novo: a medida nova (versos com dez sílabas). O estilo era doce, uma vez que os versos com dez sílabas eram considerados muito mais musicais e agradáveis do que os da medida velha.
Em Portugal, o grande nome do Classicismo foi o de Luís de Camões. O poeta abraçou o conceito do antropocentrismo e de que o ser humano era capaz de explorar e conhecer novo horizontes, sem a necessidade de receber conhecimentos de uma força divina.
Ele sintetizou esse pensamento na obra épica “Os lusíadas”. O poema conta a história do povo português que saiu nas Grandes Navegações, com Vasco da Gama, rumo às Índias. A obra imortaliza e engrandece o povo português – apesar do país já se encontrar em decadência quando a obra foi escrita –, mimetizando obras da Antiguidade, como os poemas épicos homéricos, a Ilíada e a Odisseia, que contam a história do povo grego que saía aos mares para conhecer novos lugares e lutar, em guerras, pela honra de seu povo.
Essa mimese é uma das características marcantes do Classicismo, de retorno às obras antigas. Camões também escrevia poemas líricos. Seus sonetos acerca do amor - e do sofrimento que vem com ele - são muito famosos. Você já ouviu o verso “Amor é fogo que arde sem se ver”? É dele. Ele tem uma visão do neoplatonismo – um amor ideal, que exalta espiritualmente o ser humano.
Outra grande figura portuguesa é Francisco de Sá Miranda que, influenciado por Petrarca – aquele senhor do doce estilo novo –, fazia poemas acerca das vantagens da vida rústica e da liberdade individual. Além disso, ele também criticava a ambição e a corrupção moral.
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Quer conhecer mais sobre essa época? Uma boa dica é assistir ao filme “Elizabeth”, de 1998, que conta a história do reinado dessa rainha tão importante da história da Inglaterra. Experimente se imaginar como um dramaturgo inglês, escrevendo sonetos classicistas na corte elisabetana.
Assim, até dá vontade de voltar no tempo para pintar uns quadros renascentistas, não é mesmo? Mas não se preocupe! Isso é o que o classicismo faz mesmo... Dá uma vontade de voltar ao clássico.
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A questão seguinte baseia-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
Mas um velho, de aspeito venerando, (= aspecto)
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
“Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Dura inquietação d’alma e da vida
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!”
Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida como O Velho do Restelo. Nela, o velho