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Arcadismo

Literatura - Manual do Enem
Laisa Ribeiro Publicado por Laisa Ribeiro
 -  Última atualização: 28/7/2022

Índice

Introdução

Se você fosse fazer um teste do BuzzFeed e descobrisse que você gosta mais do campo do que da cidade, você acharia estranho? Para o arcadismo, este resultado estaria corretíssimo!

No século XVIII, a Europa já dera adeus às culpas religiosas sentidas pelo movimento barroco. Agora, o continente entrava em uma época ditada pela influência da razão e da ciência.

Afinal, Isaac Newton acabara de descobrir a gravidade e outros fenômenos, a partir da observação da natureza. Você conhece a história de que Newton descobriu a força gravitacional porque ele estava descansando embaixo de uma macieira e uma maçã caiu em sua cabeça?

O ser humano passar a ter o desejo de compreender, sozinho, sem intervenção divina, os fenômenos naturais e como eles ocorrem. Ele passa a ser o dono de seu próprio destino novamente.

Essa época ficou conhecida como o século das luzes. A razão e a ciência são as luzes que guiam a humanidade ao futuro, distanciando-se da obscuridade da ignorância.

É como no Mito da Caverna de Platão, em que os humanos viviam em uma escura caverna, mas quando adquirem a luz, saem da caverna e veem a luz do mundo.

Dessas ideias, surge o iluminismo, um conjunto de tendências filosóficas, ideológicas e científicas desenvolvidas no século XVIII e que buscavam o conhecimento.

O que o iluminismo mais admirava? Três coisas! A razão, a natureza e a verdade.

A natureza é a única das três que realmente pode ser vista pelos olhos humanos, logo, ela é vista como a concretização do que é belo. O belo, aqui, é alcançado pela harmonia e pelo equilíbrio. A natureza foi considerada tão perfeita que deveria ser imitada!

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Mas quando surge o arcadismo dentro do iluminismo?

Na Grécia Antiga, havia o mito de um local chamado Arcádia. Esse local era quase místico: em cima de uma montanha, os pastores viviam tranquilamente e seu trabalho era associado à poesia. Era como um paraíso.

As Arcádias surgiram no século das luzes usando da inspiração clássica. Elas eram academias de poetas que se reuniam para restaurar justamente o estilo dos poetas clássico-renascentistas e combater o rebuscamento excessivo do movimento barroco.

Nessas academias, surgiu uma estética literárias: o arcadismo, cuja característica principal era a idealização da vida no campo.

Você já assistiu ao filme “Maria Antonieta”, de 2006? Nele, conhecemos a história da rainha francesa e sua vida em uma corte luxuosa, cheia de ostentação. Todavia, há um momento em que ela se retira para sua casa de campo. Ali, naquelas sequências, temos um momento do arcadismo em um filme!

Dos vestidos exuberantes, Maria Antonieta passa a usar simples vestidos brancos. Ela começa a levar uma vida tranquila, junto aos animais, com sua filha e suas damas de companhia. Elas liam livros, descansavam próximas ao rio... Exatamente o que o arcadismo queria passar por meio de palavras!

Entrada da casa de campo de Maria AntonietaEntrada da casa de campo de Maria Antonieta

Devido ao desejo de recuperar autores clássicos, o arcadismo também ficou conhecido como neoclassicismo.

6 frases em latim ficaram bem conhecidas como as principais ideologias do arcadismo

Fugere urbem (fuga da cidade)

Mostra o desejo de sair da civilização da cidade e ir para a pureza do campo.

Aurea mediocritas (mediocridade áurea, dourada)

É a valorização pelas coisas simples da vida, do cotidiano. Tudo apreciado com razão e bom senso.

Locus amoenus (lugar ameno)

Apreço por um lugar tranquilo e agradável, onde o amor possa ser desfrutado próximo à natureza.

Inutilia truncat (cortar o inútil)

Eles valorizavam a simplicidade e eram contrários às ideias de rebuscamentos excessivos do barroco.

Carpe diem (colher o dia)

Frase muito famosa de Horácio, usada até hoje em filmes como “Sociedade dos Poetas Mortos”. Diante da passagem do tempo, ele nos traz velhice, fragilidade e morte, logo, é importante aproveitar o momento presente, ou seja, colher o dia, como se ele fosse uma flor.

Esses itens encontram-se sempre em um ambiente bucólico: muitos campos verdes, muito gado e ovelhinhas tranquilas, sol, calmaria, muitas aves cantando e muitas árvores.

Esse lugar acolhedor e natural foi usado para divulgar as ideias que o arcadismo queria passar acerca de uma sociedade mais justa e igualitária.

Longe das cidades, longe da nobreza e da sua ostentação, seria possível encontrar paz e igualdade. Nos campos, a vida dos pastores é simples, mas é bela.

Os poemas do arcadismo queriam fazer uma mudança social. Havia o objetivo de mudar a ideologia dominante na elite.

Voltaire, um importante filósofo, por exemplo, fazia sátiras para criticar a hipocrisia, a intolerância e a tirania da Igreja.

Com essas ideias mais igualitárias, o arcadismo é a primeira escola a não ficar apenas na nobreza. Ela foi a primeira a permitir que a classe burguesa também fosse escritora.

Como a circulação das obras aumenta, o povo começa a ter acesso e aprecia o arcadismo por sua linguagem mais simples, se comparada com a utilizada pelo barroco. A poesia, a partir daquele momento, começa a circular por lugares públicos.

Arcadismo no Brasil

Nesse período da história, o Brasil passava por uma mudança muito importante na economia.

A cana-de-açúcar, que fora tão explorada, deu lugar ao ouro, que fora descoberto em Minas Gerais, mais precisamente em Vila Rica, atual Ouro Preto.

Apesar da maior parte do ouro ir para Portugal, o pouco que ficava por aqui foi o bastante para desenvolver uma produção cultural na área do arcadismo.

Influenciado pela independência dos EUA, pela opressão administrativa portuguesa, pelo ocasional declínio do ouro e pelas ideias dos filósofos do século das luzes, um movimento iniciou-se no Brasil: Inconfidência Mineira buscava aindependência do Brasil.

Muitos autores brasileiros do arcadismo também ansiavam por uma sociedade mais justa e se uniram ao movimento, como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

Cláudio Manoel da Costa

Esse foi o escritor que iniciou o arcadismo no Brasil, com “Obras”, em 1768. Sua especialidade estava nos sonetos amorosos.

Também escreveu um poema épico, inspirado em Minas Gerais, mais especificamente em Vila Rica. Claramente inspirado por Camões, ele também comparava as mulheres à natureza, no melhor estilo do arcadismo. Os olhos da amada eram como estrelas.

Tomás Antônio Gonzaga

Além de escritor do arcadismo, foi um dos líderes do movimento inconfidente e escreveu o primeiro best-seller brasileiro: “Marília de Dirceu”. Nele, havia diversos poemas escritos para sua amada, representada pela figura de Marília.

Ele era a figura do pastor apaixonado. Com uma literatura singela, usava imagens de campos, gados e ovelhas.

“Marília de Dirceu” é uma obra separada em duas partes: na primeira, há um tom otimista, em que o eu lírico descreve a amada e a vida que eles terão juntos.

Já a segunda, escrita durante a sua prisão por motivos políticos, é melancólica e cheia de saudade, antecipando o romantismo.

Parte I, Lira I

“Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces, que são cor de neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!”

Parte II, Lira I

“Nesta cruel masmorra tenebrosa

Ainda vendo estou teus olhos belos,

A testa formosa,

Os dentes nevados,

Os negros cabelos.

Vejo, Marília, sim, e vejo ainda

A chusma dos Cupidos, que pendentes

Dessa boca linda,

Nos ares espalham

Suspiros ardentes”

Dica Cultural

Ficou interessado em conhecer um pouco mais sobre esse movimento que buscava a igualdade e a vida campestre? Uma boca dica é assistir ao filme nacional “Os Inconfidentes”, de 1972, disponível no YouTube.

Deu até uma vontade de se mudar e ir morar no campo, não é mesmo? Esse é o arcadismo.

Exercício de fixação
Passo 1 de 3
ENEM/2008

Torno a ver-vos, ó montes; o destino (verso 1)

Aqui me torna a pôr nestes outeiros, 

Onde um tempo os gabões deixei grosseiros 

Pelo traje da Corte, rico e fino. (verso 4)

Aqui estou entre Almendro, entre Corino, 

Os meus fiéis, meus doces companheiros, 

Vendo correr os míseros vaqueiros (verso 7)

Atrás de seu cansado desatino.

Se o bem desta choupana pode tanto, 

Que chega a ter mais preço, e mais valia (verso 10)

Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,

Aqui descanse a louca fantasia, 

E o que até agora se tornava em pranto (verso 13)

Se converta em afetos de alegria. 

(Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)

Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o

momento histórico de sua produção.

A Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.
B A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
C O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.
D A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
E A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
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