7 relatos que mostram como é ser LGBTQ+ na faculdade
Para a comunidade LGBTQ+, o lema "resistir para existir" ainda é válido e necessário. Veja é como fazer parte dessa minoria no mundo universitário
Você sabia que no dia 28 de junho é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+? Essa data foi criada em homenagem às pessoas que resistiram e protestaram contra a perseguição policial no bar Stonewall Inn, em Nova York, nos Estados Unidos.
A Revolta de Stonewall aconteceu em 1969 mas, apesar dos avanços e do aumento da aceitação, ainda há muito preconceito e violência rodeando a comunidade LGBTQ+. O Grupo Gay da Bahia desenvolveu o estudo “Mortes violentas da população LGBT no Brasil” e apontou alguns dados alarmantes:
- A cada 20 horas um LGBT morre de forma violenta, vítima da LGBTfobia, o que faz do Brasil o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.
- Segundo agências internacionais de direitos humanos, matam-se muitíssimo mais homossexuais e transexuais no Brasil do que nos 13 países do Oriente e África onde há pena de morte contra os LGBT.
- 420 LGBT+ foram vítimas no Brasil de morte violenta, delas: 76% homicídios e 24% suicídios, 45% gays, 77% com até 40 anos, 58% brancos, predominam profissionais do setor terciário e prestação de serviços, 29% mortos com armas de fogo, 49% na rua, apenas 6% dos criminosos identificados.
- 45% das vítimas fatais em 2018 eram gays, 39% transsexuais, 12% lésbicas, 1,9% bissexuais.
- Na maioria dos casos, a causa mortis é por arma de fogo (29,5%).
Curiosidade: Por que usar o termo “orgulho“? Antônimo de “vergonha“, palavra que foi utilizada para oprimir e humilhar a comunidade LGBTQ+, essa é uma forma de afirmar a existência e a resistência dessas pessoas, que lutam pelos seus direitos e por um tratamento igualitário.
Por isso, apesar dos avanços, o lema “resistir para existir” ainda é válido e necessário. E como é fazer parte dessa minoria no mundo universitário? Será que o ambiente acadêmico é mais aberto ou fechado a essa comunidade?
A Revista Quero conversou com pessoas que se descobriram ser resistência dentro da universidade e relataram situações, positivas e negativas, sobre como é ser LGBTQ+ durante a faculdade**. O nomes foram trocados a fim de garantir a privacidade das fontes. Confira:
1 – Intimidação para “não manchar” o nome da turma.
“Quando entrei na faculdade estava no armário e um menino, sem saber, me falou que precisávamos descobrir quem eram os viados da turma pra já chegar intimidando e deixar a galera na ‘miúda’, para a ‘turma não ficar com fama'”.
– Laura, 24 anos
2 – Abandono e desconfiança.
“Eu tinha muitas amigas. Quando souberam que eu ficava com meninas, algumas se afastaram. Era bem perceptível o medo que minhas ‘amigas’ passaram a ter de ficar sozinhas comigo. Na mesma época, eu me assumi pra minha família. Somando os transtornos, eu abandonei o curso”.
– Mariana, 29 anos
3 – Eu sou quem eu sou.
“Eu sempre tive um sentimento diferente por meninas, porém nunca tinha acontecido nada. Já na faculdade, eu vivenciei diversas situações que abriram a minha cabeça e que, sem dúvidas, me mudaram muito.
Lá, eu vivenciei as minhas primeiras experiências com mulheres e descobri que eu gostava realmente de meninos e meninas com uma certa preferência por mulheres. O ambiente universitário foi muito tranquilo em relação à minha sexualidade e sempre estive à vontade para ser quem eu sou.
A faculdade mudou minha mente em relação às minhas vontades, ajudou a aceitar o que e como eu sou, e a ser feliz, seja com uma garota ou um garoto. Aliás, é um alívio poder ser você e beijar quem você quiser, rs.”
– Aline, 24 anos
4 – Apoio e fortalecimento de amizades.
“Eu sempre tive receio de transparecer que era gay na época da faculdade. Porém, meus amigos, que estavam comigo no dia a dia, já sabiam disso devido ao famoso “gaydar”, Então, quando eu assumi, eles soltaram um “E?!“, com isso a conexão que criamos foi ainda maior.
Me senti acolhido e apoiado por todos. Claro que ainda rolavam uns olhares estranhos, ainda mais dos caras mais ‘machões’ de outros cursos, que sempre me olhavam feio por ser gay e por estar cercado de meninas. Porém, quando tive o apoio dos meus amigos, isso se tornou algo com que eu não me importava mais. Afinal, eu tinha meus amigos comigo, que eram (e ainda são) as pessoas mais importantes pra mim.”
– Ricardo, 34 anos.
5 – Compreensão e aceitação.
“A principal mudança dessa descoberta foi no sentido de compreender como minha existência nesse ambiente se construía. No início, quando eu comecei a me entender enquanto mulher bissexual, me sentia completamente perdida. Eu buscava falar com outras pessoas LGBTQ+ e elas aparentavam entender sua sexualidade completamente e lidavam de uma forma muito natural.
Isso fazia com que me sentisse, de certa de forma, infantilizada. Nesse sentido, minha relação com o meio universitário mudou nos primeiros meses da graduação, porque eu comecei a direcionar uma parte do meu tempo a entender essas questões pelas quais eu estava passando.”
– Beth, 20 anos
6 – A universidade foi o meu ambiente seguro para me aceitar.
“Eu não diria que me ‘descobri’ gay na faculdade – afinal, eu já sabia por dentro que era gay -, mas sim me permiti viver como eu era de verdade nela. Principalmente porque a universidade está ligada com os primeiros momentos da vida adulta, quando temos independência e liberdade para os nossos atos.
Pelo menos na minha universidade e curso
[Jornalismo e depois História], por seu caráter mais plural, não havia um bullying com quem era LGBTQ+, como havia na escola. Isso ajudou a tirar a vergonha de me assumir. Nos primeiros meses de aula, pude vivenciar uma ótima recepção por parte dos meus colegas de sala. Demorei um pouco para poder me relacionar com outros garotos com medo do que poderia acontecer, mas quando percebi que era um ambiente seguro, fiquei tranquilo e me permiti.A preocupação com a segurança minha e de outros LGBTQ+, entretanto, é contínua. Afinal, nem todos os espaços são abertos e inclusivos. É muito gratificante ver quando as organizações de festas promovem tendas de apoio, combatem e repudiam completamente os casos de LGBTfobia”.
– Joaquim, 25 anos
7 – Foi na faculdade que eu me descobri.
“A primeira vez que eu fiquei com um menino foi durante uma festa universitária. Até então, eu nunca tinha tido esse tipo de experiência. Para mim, o marcante, além do fato em si, foi que meus amigos aceitaram facilmente quem eu era e não me julgaram. Eu me senti muito privilegiado por isso, no meu ciclo de amizades, apenas um ou dois não quiseram manter a amizade, mas foi por outros motivos que não a minha sexualidade.
Além disso, foi na faculdade que eu conheci meu primeiro namorado e foi naquele ambiente que eu assumi meu relacionamento. Nós nos conhecemos no primeiro dia de aula e nos demos muito bem, tanto que o pedi em namoro e, por isso, contei para os meus pais que eu era gay e que estava namorando, que após o momento de estranhamento, me aceitaram.
Eu entrei na faculdade em 2015, tendo a certeza de que eu era heterossexual, mas descobri que eu me reprimia por preconceitos impostos pela sociedade. Quatro anos depois, eu sou outra pessoa e feliz com quem eu sou.”
– Pedro, 22 anos
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* LGBTQ+: lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers. O sinal + denota tudo no espectro do gênero e sexualidade que as letras não descrevem.
** Os relatos foram editados por questões de clareza e/ou tamanho.