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Cordel

Literatura - Manual do Enem
Alanis Zambrini Publicado por Alanis Zambrini
 -  Última atualização: 27/9/2022

Índice

Introdução

O cordel, também chamado de literatura de cordel, é um gênero literário relacionado à cultura popular brasileira, mais especificamente a da região nordeste do Brasil. O gênero é grande destaque principalmente em Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará.

O cordel vem ganhando maior atenção desde o século XX, e, recentemente, foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro. Além disso, o gênero influenciou diversos escritores importantes, como Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.

Muito popular, o cordel é um tipo de literatura muito acessível, principalmente pelo baixo custo de sua produção. Assim, muitas pessoas buscam-no para aprenderem a ler ou para serem inseridas no mundo da literatura, fazendo com que o cordel seja um grande instrumento de combate ao analfabetismo e à falta de informação.

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Origem

O cordel tem origem no Renascimento, quando se inicia a impressão de relatos tradicionalmente orais feitos pelos trovadores medievais. Seu nome está ligado à forma como os folhetos eram vendidos em Portugal, pois eram pendurados em cordões para serem expostos aos compradores.

Quando os portugueses colonizaram o Brasil, trouxeram para cá a literatura de cordel, e já na metade do século XIX, os folhetos brasileiros começaram a ser impressos, passando a se popularizar por todo o país.

Características do cordel

O cordel tem como principal característica o uso de uma linguagem ligada à oralidade (geralmente com muitos regionalismos, já que o cordel é uma tradição literária regional), além da presença de diversos elementos da cultura brasileira. Seus textos sempre buscam informar e divertir os leitores ao mesmo tempo.

O gênero é geralmente apresentado na forma de folhetos, pequenos livros que podem ou não estar pendurados por barbantes ou cordas, sendo vendidos em várias feiras ou exposições culturais, geralmente divulgados por meio dos próprios cordelistas (escritores dos cordéis), que recitam os poemas ao som de algum instrumento musical. Além disso, os folhetos podem vir acompanhados de xilogravuras, que ilustram as histórias do cordel.

Em relação ao modo como é escrito, o cordel é feito em versospodendo ter rimas ou métrica, de modo a se parecer um pouco com o gênero poema. Porém, ele se afasta da literatura tradicional, pois se utiliza de uma linguagem popular, coloquial e regional.

Os temas dos cordéis são bem variados, podendo incluir fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, etc. Os assuntos mais populares que já circularam no Brasil foram as aventuras do cangaceiro Lampião e o suicídio de Getúlio Vargas. Também podem trazer consigo um tom de crítica social, com textos que tratam sobre temas políticos, contando com a opinião do autor.

Cordel VS Repente

Por conta da oralidade presente no cordel, muitas pessoas acabam confundindo-o com o repente. Apesar de algumas semelhanças, os dois gêneros são bem diferentes um do outro.

repente é uma manifestação popular composta por uma poesia falada e improvisada, geralmente acompanhada por algum instrumento musical.

Já o cordel é um texto, na forma de versos, expresso em folhetos e com traços de oralidade em sua linguagem.

Não tem mais como confundir, não é?

Exemplo de cordel

Abaixo, vamos ver um exemplo de cordel, para que possamos nos familiarizar melhor com o gênero. É claro que, aqui, só poderemos ter acesso ao texto, mas não é por isso que as outras características visuais ou materiais do cordel devam ser ignoradas.

A chegada de Lampião no céu

Autor: Guaipuan Vieira

Foi numa Semana Santa
Tava o céu em oração
São Pedro estava na porta
Refazendo anotação
Daqueles santos faltosos
Quando chegou Lampião.

Pedro pulou da cadeira
Do susto que recebeu
Puxou as cordas do sino
Bem forte nele bateu
Uma legião de santos
Ao seu lado apareceu.

São Jorge chegou na frente
Com sua lança afiada
Lampião baixou os óculos
Vendo aquilo deu risada
Pedro disse: Jorge expulse
Ele da santa morada.

E tocou Jorge a corneta
Chamando sua guarnição
Numa corrente de força
Cada santo em oração
Pra que o santo Pai Celeste
Não ouvisse a confusão.

O pilotão apressado
Ligeiro marcou presença
Pedro disse a Lampião:
Eu lhe peço com licença
Saia já da porta santa
Ou haverá desavença.
Lampião lhe respondeu:
Mas que santo é o senhor?
Não aprendeu com Jesus
Excluir ódio e rancor?...
Trago paz nesta missão
Não precisa ter temor.

Disse Pedro isso é blasfêmia
É bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro
Esse povo é impiedoso
Não ganharão o perdão
Do santo Pai Poderoso
Inda mais tem sua má fama
Vez por outra comentada
Quando há um julgamento
Duma alma tão penada
Porque fora violenta
Em sua vida é baseada.

- Sei que sou um pecador
O meu erro reconheço
Mas eu vivo injustiçado
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças
Que só me causam tropeço.

Mas isso não faz sentido
Falou São Pedro irritado
Por uma tribuna livre
Você aqui foi julgado
E o nosso Onipotente
Deu seu caso encerrado.
- Como fazem julgamento
Sem o réu estar presente?
Sem ouvir sua defesa?
Isso é muito deprimente
Você Pedro está mentindo
Disso nunca esteve ausente.

Sobre o batente da porta
Pedro bateu seu cajado
De raiva deu um suspiro
E falou muito exaltado:
Te excomungo Virgulino
Cangaceiro endiabrado.

Houve um grande rebuliço
Naquele exato momento
São Jorge e seus guerreiros
Cada qual mais violento
Gritaram pega o jagunço
Ele aqui não tem talento.

Lampião vendo o afronto
Naquela santa morada
Disse: Deus não está sabendo
Do que há na santarada
Bateu mão no velho rifle
Deu pra cima uma rajada.

O pipocado de bala
Vomitado pelo cano
Clareou toda a fachada
Do reino do Soberano
A guarnição assombrada
Fez Pedro mudar de plano.
Em um quarto bem acústico
Nosso Senhor repousava
O silêncio era profundo
Que nada estranho notava
Sem dúvida o Pai Celeste
Um cansaço demonstrava.

Pedro já desesperado
Ligeiro chamou São João
Lhe disse sobressaltado:
Vá chamar Cícero Romão
Pra acalmar seu afilhado
Que só causa confusão.

Resmungando bem baixinho
Pra raiva poder conter
Falou para Santo Antônio:
Não posso compreender
Este padre não é santo
O que aqui veio fazer?!

Disse Antônio: fale baixo
De José é convidado
Ele aqui ganhou adeptos
Por ser um padre adorado
No Nordeste brasileiro
Onde é “santificado”.

Padre Cícero experiente
Recolheu-se ao aposento
Fingindo não saber nada
Um plano traçava atento
Pra salvar seu afilhado
Daquele acontecimento.
-Logo João bateu na porta
Lhe transmitindo o recado
Cícero disse: vá na frente
Fique despreocupado
Diga a Pedro que se acalme
Isso já será sanado.

Alguns minutos o padre
Com uma Bíblia na mão
Ao ver Pedro lhe indagou:
O que há para aflição?
Quem lá fora tenta entrar
E também um ser cristão,

São Pedro disse: absurdo
Que terminou de falar
Mas Cícero foi taxativo:
Vim a confusão sanar
Só escute o réu primeiro
Antes de você julgar.

Não precisa ele entrar
Nesta sagrada mansão
O receba na guarita
Onde fica a guarnição
Com certeza há muitos anos
Nos busca aproximação.
Vou abrir esta exceção
Falou Pedro insatisfeito
O nosso reino sagrado
Merece muito respeito
Virou-se para São Paulo:
Vá buscar este sujeito.

Lampião tirou o chapéu
Descalço também ficou
Avistando o seu padrinho
Aos seus pés se ajoelhou
O encontro foi marcante
De emoção Pedro chorou
Ao ver Pedro transformado
Levantou-se e foi dizendo:
Sou um homem injustiçado
E por isso estou sofrendo
Circula em torno de mim
Só mesmo o lado ruim
Como herói não estão me vendo.

Sou o Capitão Virgulino
Guerrilheiro do sertão
Defendi o nordestino
Da mais terrível aflição
Por culpa duma polícia
Que promovia malícia
Extorquindo o cidadão.

Por um cruel fazendeiro
Foi meu pai assassinado
Tomaram dele o dinheiro
De duro serviço honrado
Ao vingar a sua morte
O destino em má sorte
Da “lei” me fez um soldado.

Mas o que devo a visita.
Pedro fez indagação
Lampião sem bater vista:
Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Mandar chuva pro meu povo
Você só manda trovão

Pedro disse: é malcriado
Nem o diabo lhe aceitou
Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
Volte lá pro seu Nordeste
Que só o cabra da peste
Com você se acostumou.

FIM
Exercício de fixação
Passo 1 de 3
Unespar/2015

As gravuras talhadas em madeira (imburana, cedro ou pinho) possibilitaram aos artistas populares o domínio de todo o processo de edição dos folhetos. Os desenhos acompanham o conteúdo do folheto. A simplicidade das formas, as cores chapadas, a presença de motivos, paisagens e personagens nordestinas, transportam os leitores para o mundo da fantasia, imprimindo aos reis e rainhas, criaturas fantásticas e sobrenaturais, características que se aproximam do universo de experiências dos leitores.

(MARINHO, Ana Cristina; PINHEIRO, Hélder. O Cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez. 2012, 47-47).

De acordo com a Xilogravura, isto é, gravura talhada em madeira assinale a alternativa correta:

A Esta arte, o cordel, não se configura como literatura, pois trata-se de uma manifestação oral;
B O cordel, arte em xilogravura, não se configura como expressão literária;
C A arte da xilogravura antecipa a escrita literária e, ainda, faz parte do conjunto que se denomina de literatura de cordel;
D A arte pode ser encantadora, faz parte da cultura popular nordestina, mas não se reconhece como arte literária;
E Nenhuma das alternativas.
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