Uma das características dessa poética era a caracterização da natureza. Ela é o cenário dos acontecimentos. Como é típico do Romantismo, as imagens da natureza mostram como os personagens se sentem por dentro.
Apesar do Romantismo sugerir uma poesia com liberdade formal, a poesia indianista tinha rigor métrico e rimas.
Os temas mais usados na poesia de Dias são a natureza, a religião e a pátria.
É notável o fato de que algumas poesias usavam uma técnica incrível para aproximar os leitores dos costumes indígenas.
O autor trabalhava nos versos para que seu ritmo fosse parecido com o ritmo dos tambores usados pelos indígenas em suas cerimônias. Isso acontece no poema épico I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias.
I-Juca Pirama
Em fundos vasos d’alvacenta argila
Ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
Reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
Jamais verá!
A dura corda, que lhe enlaça o colo,
Mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
Do que o festim!
Contudo os olhos d’ignóbil pranto
Secos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas
Do coração.
Esse poema conta a história do último índio tupi que foi feito prisioneiro pela tribo dos timbiras. Seu destino já é conhecido: ele sabe que será morto e sua carne será devorada pelos timbiras em um ritual antropofágico.
Há a lenda de que tribos indígenas comiam a carne de seus inimigos acreditando que, ao comer, tomariam para si as qualidades do guerreiro morto, como a força, por exemplo.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Contudo, vendo-se próximo da morte e pensando no pai cego que ficaria sozinho na selva, o guerreiro tupi pede por clemência.
Os timbiras veem esse ato como uma fraqueza e desistem de matá-lo. Eles não querem comer a carne de um guerreiro covarde e adquirir sua fraqueza.
Ao encontrar-se novamente com o pai, ele se envergonha do fato de que o filho pediu por clemência e demonstrou fraqueza. O resultado: ele o renega e o amaldiçoa.
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de via Aimorés.
O guerreiro tupi retorna para a tribo dos timbiras pronto para se entregar para a morte. Nesse momento, entendemos o que significa o título do poema. I-Juca Pirama é uma frase em tupi que, em português, significa “o que é digno de morrer”.
Os timbiras ao vê-lo, percebem que apenas um homem muito corajoso voltaria para aquela situação. O chefe da tribo percebe que ele é corajoso demais para morrer e o liberta novamente.
Nesse poema indianista, vemos que o povo indígena era visto como um povo cheio de virtudes, como força, valentia e honra.