No Brasil, os poetas ultrarromânticos, geralmente, eram jovens que saíam da casa dos pais e iam para São Paulo estudar Direito. Eles viviam em repúblicas e tinham uma forte afeição pela vida boêmia – muitas festas e bebidas.
Todavia, o centro urbano da época era Rio de Janeiro. Álvares de Azevedo chegou a escrever uma carta para a mãe dizendo que São Paulo era uma cidade de mortos, em que a vida era um sono perpétuo, sem nada de interessante para fazer e nenhum rosto bonito para admirar.
Os debates acerca do nacionalismo ficaram no Rio de Janeiro. Os jovens residentes de São Paulo se ocupavam em ler os grandes mestres românticos. Logo, a poesia ultrarromântica foi muito mais introspectiva do que engajada em causas nacionais.
Era comum a temática do locus horrendus (lugar horrendo). As poesias eram recheadas com cenários soturnos, sombrios, como cemitérios e praias abandonadas, tudo com muita escuridão.
As forças incontroláveis da natureza – ventos, raios, tempestades – eram imagens comuns nessa poesia e eram como uma metáfora para os sentimentos violentos sentidos pelo eu lírico. A natureza só aparecia de forma positiva em sonhos.
A morte era um tema muito utilizado, afinal, ela era vista para aqueles jovens como algo positivo.
Mas por que? Primeiramente, terminaria com a agonia de viver. O sofrimento e a miséria da vida humana teriam um fim.
Em segundo lugar, a morte colocaria um fim em um problema tido pelos ultrarromânticos: os impulsos sexuais.
Eles idealizavam a amada e o amor como seres de outro mundo, completamente puros e especiais. Por causa disso, o amor nunca poderia ser concretizado, a não ser em sonhos ou, no caso da morte, na vida eterna.
Todavia, eles não deixavam de sentir desejos, o que gerava um sentimento muito forte de culpa e vontade de se destruir.
O sexo é visto como algo errado: os amantes só podem se tocar nos sonhos.
O fascínio por temas como a morte, a escuridão e a doença faz com que muitos desses escritores tenham comportamentos autodestrutivos procurando substâncias que os retirem da realidade, como o ópio, o haxixe e bebidas fortes como o absinto.
Essa vida boêmia fez com que muitos morressem cedo. A tuberculose também atacava muitos indivíduos na época.
Esse comportamento autodestrutivo em um contexto de tédio e depressão foi chamado de “mal do século”.
Você já ouviu Evanescence? Essa banda sintetiza muito bem o que os ultrarromânticos sentiam. Veja o estilo gótico dos integrantes e experimente ouvir a música “Bring me to life”.
Veja como a vocalista Amy Lee tem os cabelos bem escuros e a pele bem pálida. Ela canta sobre a morte, o amor e se veste de forma bem gótica. Ela é uma imagem do que era apreciado em uma mulher no ultrarromantismo.
Por causa do deslumbramento com a morte, o padrão de beleza em relação à mulher muda completamente: agora, a mulher admirada era a pálida, bem magra, com ar etéreo.
Veja um trecho do poema “Pálida imagem” de Álvares de Azevedo:
No delírio da ardente mocidadePor tua imagem pálida vivi!A flor do coração no amor dos anjosOrvalhei-a por ti!O expirar de teu canto lamentosoSobre teus lábios que o palor cobria,Minhas noites de lágrimas ardentesE de sonhos enchia!Foi por ti que eu pensei que a vida inteiraNão valia uma lágrima... sequer,Senão num beijo trêmulo de noite...Num olhar de mulher!Mesmo nas horas de um amor insano,Quando em meus braços outro seio ardia,A tua imagem pálida passandoA minh'alma perdia.Sempre e sempre teu rosto! as negras tranças,Tua alma nos teus olhos se expandindo!E o colo de cetim que pulsa e gemeE teus lábios sorrindo!
A poesia tinha liberdade formal, um tom pessimista, muitos substantivos e adjetivos relacionados à palidez em relação às mulheres e uma musicalidade muito forte.
Um exemplo é o poema “A valsa” de Casimiro de Abreu. Veja um trecho:
A valsa
Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranqüila,Serena,Sem penaDe mim!Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!…