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Ultrarromantismo

Literatura - Manual do Enem
Laisa Ribeiro Publicado por Laisa Ribeiro
 -  Última atualização: 28/7/2022

Introdução

Você chegou a participar do movimento emo ou gótico? Se sim, esse é o seu momento. Os ultrarromânticos têm muito em comum com esses estilos! Se você nunca foi dessa turma, talvez você fique com vontade depois de ler esse texto.

O ultrarromantismo foi uma vertente da segunda fase do romantismo. De gótico suave ele não tinha nada, era gótico mesmo: muito apreço pela morte e pelo amor e uma fascinação por lugares sombrios como cemitérios.

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Índice

Características

Além disso, havia uma visão juvenil e pessimista da vida e um eu lírico completamente atormentado pelo que estava acontecendo em sua vida, afinal, ele se sentia completamente inadequado perante à sociedade.

O herói romântico era contra vários valores burgueses, por isso, ele era, comumente, dedicado à honestidade, ao amor e à liberdade. Se fosse preciso se sacrificar e morrer por esses ideais, ele faria.

Muitos escritores ultrarromânticos morriam muito jovens. Casimiro de Abreu, por exemplo, morreu com 21 anos de tuberculose.

Essa estética literária foi influenciada por alguns poetas como Byron e Shelley. Byron escreveu uma obra completamente focada na figura de Don Juan, personagem conquistador que idealizava o amor.

Importante ressaltar que a esposa de Shelley, Mary Shelley, escreveu Frankenstein durante uma visita do casal à casa de Byron.

Essa literatura valorizava uma expressão exagerada, muito subjetivismo usado de maneira pessimista e um desejo de fugir da realidade.

Além disso, havia uma idealização da mulher pálida, virginal e de aspecto etéreo – como se fosse de outro mundo ou do mundo dos sonhos.

Ultrarromantismo no Brasil

No Brasil, os poetas ultrarromânticos, geralmente, eram jovens que saíam da casa dos pais e iam para São Paulo estudar Direito. Eles viviam em repúblicas e tinham uma forte afeição pela vida boêmia – muitas festas e bebidas.

Todavia, o centro urbano da época era Rio de Janeiro. Álvares de Azevedo chegou a escrever uma carta para a mãe dizendo que São Paulo era uma cidade de mortos, em que a vida era um sono perpétuo, sem nada de interessante para fazer e nenhum rosto bonito para admirar.

Os debates acerca do nacionalismo ficaram no Rio de Janeiro. Os jovens residentes de São Paulo se ocupavam em ler os grandes mestres românticos. Logo, a poesia ultrarromântica foi muito mais introspectiva do que engajada em causas nacionais.

Era comum a temática do locus horrendus (lugar horrendo). As poesias eram recheadas com cenários soturnos, sombrios, como cemitérios e praias abandonadas, tudo com muita escuridão.

As forças incontroláveis da natureza – ventos, raios, tempestades – eram imagens comuns nessa poesia e eram como uma metáfora para os sentimentos violentos sentidos pelo eu lírico. A natureza só aparecia de forma positiva em sonhos.

A morte era um tema muito utilizado, afinal, ela era vista para aqueles jovens como algo positivo.

Mas por que? Primeiramente, terminaria com a agonia de viver. O sofrimento e a miséria da vida humana teriam um fim.

Em segundo lugar, a morte colocaria um fim em um problema tido pelos ultrarromânticos: os impulsos sexuais.

Eles idealizavam a amada e o amor como seres de outro mundo, completamente puros e especiais. Por causa disso, o amor nunca poderia ser concretizado, a não ser em sonhos ou, no caso da morte, na vida eterna.

Todavia, eles não deixavam de sentir desejos, o que gerava um sentimento muito forte de culpa e vontade de se destruir.

O sexo é visto como algo errado: os amantes só podem se tocar nos sonhos.

O fascínio por temas como a morte, a escuridão e a doença faz com que muitos desses escritores tenham comportamentos autodestrutivos procurando substâncias que os retirem da realidade, como o ópio, o haxixe e bebidas fortes como o absinto.

Essa vida boêmia fez com que muitos morressem cedo. A tuberculose também atacava muitos indivíduos na época.

Esse comportamento autodestrutivo em um contexto de tédio e depressão foi chamado de “mal do século”.

Você já ouviu Evanescence? Essa banda sintetiza muito bem o que os ultrarromânticos sentiam. Veja o estilo gótico dos integrantes e experimente ouvir a música “Bring me to life”.

Veja como a vocalista Amy Lee tem os cabelos bem escuros e a pele bem pálida. Ela canta sobre a morte, o amor e se veste de forma bem gótica. Ela é uma imagem do que era apreciado em uma mulher no ultrarromantismo.

Por causa do deslumbramento com a morte, o padrão de beleza em relação à mulher muda completamente: agora, a mulher admirada era a pálida, bem magra, com ar etéreo.

Veja um trecho do poema “Pálida imagem” de Álvares de Azevedo:

No delírio da ardente mocidadePor tua imagem pálida vivi!A flor do coração no amor dos anjosOrvalhei-a por ti!O expirar de teu canto lamentosoSobre teus lábios que o palor cobria,Minhas noites de lágrimas ardentesE de sonhos enchia!Foi por ti que eu pensei que a vida inteiraNão valia uma lágrima... sequer,Senão num beijo trêmulo de noite...Num olhar de mulher!Mesmo nas horas de um amor insano,Quando em meus braços outro seio ardia,A tua imagem pálida passandoA minh'alma perdia.Sempre e sempre teu rosto! as negras tranças,Tua alma nos teus olhos se expandindo!E o colo de cetim que pulsa e gemeE teus lábios sorrindo!

A poesia tinha liberdade formal, um tom pessimista, muitos substantivos e adjetivos relacionados à palidez em relação às mulheres e uma musicalidade muito forte.

Um exemplo é o poema “A valsa” de Casimiro de Abreu. Veja um trecho:

A valsa

Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranqüila,Serena,Sem penaDe mim!Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!…

Casimiro de Abreu

Ele foi o poeta mais lido e declamado no movimento. A musicalidade de seus poemas, como o presente em “A valsa”, ajudava na memorização.

O autor também escreveu sobre a natureza, a saudade e o desejo, mas sem o sentimento de culpa tão presente nessa estética.

Além disso, ele também falava sobre atitudes do cotidiano, como dançar, por exemplo. Ele até mesmo usava uma linguagem mais próxima do cotidiano, uma linguagem coloquial.

Seu olhar ingênuo sobre o amor fez com que ele não vinculasse a figura da mulher às associações com a morte, como a palidez.

Uma característica marcante de sua obra foi o saudosismo, principalmente da infância. Ele via esse período com idealização, como uma época cheia de perfeição, inocência e ingenuidade, que nunca mais voltaria.

Veja os primeiros versos do poema “Meus oito anos”:

Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!

Ele também seguiu um caminho mais nacionalista, idealizando a pátria brasileira, como no poema “Minha terra”. Veja alguns versos:

Todos cantam sua terra,Também vou cantar a minha,Nas débeis cordas da liraHei de fazê-la rainha;— Hei de dar-lhe a realezaNesse trono de belezaEm que a mão da naturezaEsmerou-se em quanto tinha.

Álvares de Azevedo

Lembra-se daqueles impulsos sexuais que os ultrarromânticos tanto reprimiam? A psicanálise, anos mais tarde, diria que isso não é algo bom.

Afinal, o desejo não satisfeito dava um sentimento de frustração, o que gerou um efeito de constante tensão erótica nos poemas de Azevedo.

Ele também falou sobre o amor e seus sofrimentos, todavia, de dois pontos de vista diferentes: um mais sério e o outro mais irônico – ele foi o primeiro a trazer a ironia para esse campo.

Em sua obra “Lira dos vinte anos”, ele consegue unir essas duas visões. A primeira e a terceira parte da obra abordam o lado que idealiza o amor, com muito sentimentalismo, vendo-o possível apenas em sonho.

Contudo, a segunda parte é muito irônica. Os obstáculos enfrentados pelos amantes passam a ser outros, com muito mais humor: como o fato de ter que ganhar dinheiro para cortejar a dama e comprar um presente para agradá-la.

Seu romance “Noite na taverna” é bem mais gótico. Nele, vários jovens encontram-se curtindo a vida boêmia em uma taverna na escuridão da noite. Em certo momento, as mulheres que estavam bêbadas caem de sono em cima das mesas. Os jovens percebem que elas parecem cadáveres e, a partir disso, começam a contar sobre suas aventuras amorosas.

Eles falam sobre o desejo carnal como uma fonte de perigo e a lição que fica é a de que o amor verdadeiro só pode ser vivenciado em sonhos ou após a morte.

A peça “Macário” escrita pelo autor mostra o personagem, que dá título à obra, que diz ser o próprio Satã. Essa obra mostra o apreço de Azevedo por temas satânicos, o que corrobora com a posição do ultrarromantismo que tinha um fascínio pela morte e pelo sombrio.

Dicas culturais

Para conhecer mais o movimento, uma boa dica é assistir ao filme “Don Juan DeMarco”, de 1994, que mostra a vida desse personagem histórico que vê o amor como algo perfeito, cheio de sofrimento e de maneira bem sentimental. No filme, Don Juan está vivo no século XX e precisa fazer psicanálise para entender seus sentimentos.

Já dizia Cazuza em sua canção: “Exagerado, jogado aos seus pés, eu sou mesmo exagerado”. Essa é a visão do amor ultrarromântico, arrebatado por tantos sentimentos e com uma visão bem pessimista da vida. Eles bem que adorariam ouvir NX Zero naquela época, não é mesmo?

Exercício de fixação
Passo 1 de 3
ENEM/2010

Soneto 

Já da morte o palor me cobre o rosto, 

Nos lábios meus o alento desfalece,

Surda agonia o coração fenece,

E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto

Tento o sono reter!… já esmorece

O corpo exausto que o repouso esquece…

Eis o estado em que a mágoa me tem posto! 

O adeus, o teu adeus, minha saudade,

Fazem que insano do viver me prive

E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!

Volve ao amante os olhos por piedade,

Olhos por quem viveu quem já não vive!

(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração do romantismo, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é

A a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.
B a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
C o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
D o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
E o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
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