Em sua juventude, Gregório de Matos escreveu muitos poemas satíricos e eróticos, o que gerou muito escândalo na sociedade baiana.
Além disso, ele também desafiou os poderes divinos. Todavia, após a maturidade, perto de sua morte, ele passou a escrever poemas sacros, ou seja, de cunho religioso.
Esses poemas falavam sobre o pecado e a fragilidade humana. Seus sonetos mostravam um certo temor pela morte e pela condenação eterna que o ser humano poderia sofrer no inferno, local apontado em seu próprio apelido.
Na poesia sacra de Gregório de Matos surge o fusionismo: o eu lírico, vendo que será acolhido pela misericórdia divina, quer se unir, quer fundir-se, ao Cristo crucificado. Quer que ser humano e Jesus sejam um só.
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.