Você conhece essa obra abaixo, chamada “A Criação de Adão”?
Ela foi feita por Michelangelo, em 1512. Não é um quadro como todos os outros, uma vez que é uma pintura feita em um teto. Mais precisamente: no teto da Capela Sistina, a capela oficial da residência de todos os papas que já passaram pelo Vaticano.
Você percebeu como Adão está relaxado, tranquilo e mal se esforça para tocar na mão da figura que representa Deus? Na verdade, a impressão que temos é que Deus e os anjos é que estão se esforçando para tocar o ser humano.
Essa exaltação do homem é muito frequente no Humanismo, como explicamos a seguir.
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Uma das principais características do movimento literário denominado Humanismo é a passagem do teocentrismo medieval para o antropocentrismo.
Achou as palavras difíceis? Calma que a gente explica!
Teocentrismo é uma ideia que diz que Deus está no centro de tudo. Era muito comum durante a Idade Média, em que a Igreja Católica tinha um poder político muito forte.
Mas e o antropocentrismo? Ele vê que a figura divina já não está no centro de tudo e sim o ser humano!
Entre os séculos XIV e XV, uma mudança muito importante ocorria na Europa: a sociedade começou a se libertar do poder da igreja e focou no ser humano e nos sentimentos terrenos.
O comércio estava progredindo cada vez mais. As pessoas passaram a morar em burgos – cidades que possuíam muralhas ao seu redor para se sentirem mais seguras. Dali, surgiu uma nova classe social: a burguesia.
Os burgueses não tinham nada a ver com a nobreza. Eles eram pessoas que adquiriam dinheiro a partir das atividades mercantis.
Como dissemos, o comércio estava progredindo e, com isso, os burgueses ganhavam cada vez mais dinheiro. Com o dinheiro, também vinha poder político.
Com esse poder, eles começaram a investir em cultura. Muitos burgueses se tornaram mecenas, ou seja, pessoas que investiam dinheiro em artistas e na arte.
O Humanismo surgiu na Itália, berço de intenso movimento cultural, no final da Idade Média. O apogeu desse movimento literário foi durante a época do Renascimento.
O rompimento com o pensamento de que Deus era o centro de tudo fez com que os artistas começassem a se espelhar nas obras da Antiguidade Clássica. Eles começaram a ler Aristótelese Platão e admirar as estátuas feitas com base em deuses pagãos, como Atena, por exemplo.
Havia uma transição entre o mundo medieval e o mundo moderno sendo feita. Logo, o velho e o novo conviviam.
Um exemplo disso é a obra “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Esse poema conta a história de um homem que, vivo, vai para o inferno. Lá, ele é guiado por Virgílio, um poeta clássico. Tudo o que ele anseia é encontrar sua amada Beatriz, que havia morrido.
Pela viagem no inferno, ele conhece vários personagens famosos que morreram e foram para lá, como Cleópatra. Até o demônio ele chega a conhecer. Após o inferno, ele vai para o purgatório e, de lá, vai para o paraíso, onde revê sua amada e conhece Deus e os anjos.
Onde está o velho e o novo nessa obra?
O velho está presente no tema de caráter religioso, como o inferno e o paraíso católicos. Por outro lado, o novo está presente no fato de que Dante está sendo guiado por um poeta que representa a Antiguidade Clássica, que os humanistas admiravam tanto.
Algo que os humanistas também trouxeram da Antiguidade é o uso da razão para analisar sentimentos e comportamentos humanos.
Além disso, havia o auxílio da ciência e, agora, o ser humano era visto como um ser capaz de controlar o seu próprio destino. Todas essas características, mais uma vez, rompiam com os pensamentos religiosos.
O público, como no Trovadorismo, continuava sendo a corte, a nobreza e a aristocracia.
Contudo, as trovas - literatura oral - foram substituídas por uma forma fixa de poesia, chamada soneto - literatura escrita -. Outra diferença com o movimento literário anterior é que o amor passou a ser menos idealizado.
Em Portugal, quem iniciou o Humanismo foi Fernão Lopes, escolhido como cronista-mor do reino em 1434.
Sua função era escrever sobre a vida dos reis portugueses por meio das crônicas, como a “Crônica de el-rei Dom Pedro I” e a “Crônica de el-rei D. Fernando”, por exemplo.
(...) o mui virtuoso Rei de boa memoria D. João, cujo regimento e reinado se segue, houve com o nobre e poderoso rei D. João de Castella, pondo parte de seus bons feitos fóra do louvor, que merecia, e evadindo em alguns outros de guisa que não aconteceram atrevendo-se a publicar esto em vida de taes que lhe foram companheiros bem veadores de todo o contrario.
Outro grande nome do Humanismo português foi o de Gil Vicente, primeiro dramaturgo do país. Ele escrevia peças teatrais moralizantes, ou seja, com temas que condenavam comportamentos considerados errôneos e que enalteciam as atitudes consideradas boas pela época.
Os autos eram peças teatrais acerca de temas religiosos e as farsas eram peças cômicas curtas.
O autor usava diversos tipos de personagens, como pobres, ricos, plebeus, nobres... Tudo por meio de alegorias. Ou seja, o personagem Sapateiro, por exemplo, transmitiria todas as características e estereótipos desse tipo de profissão. Os personagens representavam tipos sociais, mostrando as falhas dos indivíduos.
O enredo era construído com muito humor, para que a conscientização fosse passada para as pessoas de uma forma divertida e de fácil identificação.
Uma de suas obras mais famosas é a peça “Auto da Barca do Inferno”, representada pela primeira vez em 1531.
Nele, várias pessoas morreram e, após a morte, se encontram em um porto. Há dois navios em que podem entrar: um vai para o Céu, guiado pelo Anjo; já o outro vai para o Inferno, guiado pelo Demônio, personagem muito irônico.
Imagine-se você nessa situação: em qual navio você gostaria de entrar?
A seguir, um trecho da peça. A leitura pode parecer de difícil compreensão, mas você pode se propor um exercício interessante: ler como se fosse um leitor do século XVI!
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
Aqui, como na obra de Dante Alighieri, vemos uma leitura dos temas religiosos, mas com uma nova abordagem. A de Gil Vicente possui a visão de fazer uma crítica social com o uso do humor.
A utilização da crítica feita por meio da diversão não parou em Gil Vicente.
Um exemplo está presente no cinema feito por Charlie Chaplin, ator que usou as comédias para criticar a sociedade em que vivia. Em “Tempos Modernos”, ele atua, de uma forma muito engraçada, no papel de um operário, mostrando como a classe proletária era explorada nas fábricas.
O Humanismo mostra como a Literatura consegue demonstrar mudanças tão importantes que aconteceram na sociedade. Ler essas obras permite entender melhor qual era a ideologia daqueles seres humanos, que eram iguais a nós. Todavia, viviam em um período tão diferente!
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Aponte a alternativa correta em relação a Gil Vicente: