Outro grande nome do Humanismo português foi o de Gil Vicente, primeiro dramaturgo do país. Ele escrevia peças teatrais moralizantes, ou seja, com temas que condenavam comportamentos considerados errôneos e que enalteciam as atitudes consideradas boas pela época.
Os autos eram peças teatrais acerca de temas religiosos e as farsas eram peças cômicas curtas.
O autor usava diversos tipos de personagens, como pobres, ricos, plebeus, nobres... Tudo por meio de alegorias. Ou seja, o personagem Sapateiro, por exemplo, transmitiria todas as características e estereótipos desse tipo de profissão. Os personagens representavam tipos sociais, mostrando as falhas dos indivíduos.
O enredo era construído com muito humor, para que a conscientização fosse passada para as pessoas de uma forma divertida e de fácil identificação.
Uma de suas obras mais famosas é a peça “Auto da Barca do Inferno”, representada pela primeira vez em 1531.
Nele, várias pessoas morreram e, após a morte, se encontram em um porto. Há dois navios em que podem entrar: um vai para o Céu, guiado pelo Anjo; já o outro vai para o Inferno, guiado pelo Demônio, personagem muito irônico.
Imagine-se você nessa situação: em qual navio você gostaria de entrar?
A seguir, um trecho da peça. A leitura pode parecer de difícil compreensão, mas você pode se propor um exercício interessante: ler como se fosse um leitor do século XVI!
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
Aqui, como na obra de Dante Alighieri, vemos uma leitura dos temas religiosos, mas com uma nova abordagem. A de Gil Vicente possui a visão de fazer uma crítica social com o uso do humor.