A presença do Simbolismo em Cecília Meireles está justamente em seu afeto pela poesia intimista. Essa poética valorizava uma jornada do eu lírico rumo a um estado mais introspectivo, solitário, em que ele pudesse olhar para dentro de si e pensar em suas emoções. Esses sentimentos logo seriam traduzidos para os versos de poemas.
Essa jornada rumo ao interior fica bem nítida no poema a seguir de Cecília Meireles:
Lua adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…
A poesia intimista também se preocupava com os conflitos internos do ser humano, envolvendo questões psicológicas e, até mesmo, espirituais e metafísicas.
Por meio de versos extremamente sonoros, o poema entrava em um mundo de sonhos e de sentimentos que apenas a alma humana contém.
A presença da Psicanálise surge em 1920, com a descoberta do inconsciente por Freud. A poesia intimista, que Cecília Meireles tanto admirava e usava, fazia questão de buscar questões presentes no inconsciente humano e usá-los dentro da poética.
Um exemplo disso é o seu poema “Retrato”, em que o eu lírico reflete sobre sua aparência:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?