Cruz e Sousa
O autor de “Missal e Broquéis” foi o poeta mais popular do Simbolismo. Tão popular que até ganhou o apelido de “Cisne Negro”.
Cinco anos após a abolição da escravidão, Cruz e Sousa, autor negro e filho de pais que foram escravos, lançava suas obras.
O autor, que conheceu a crueldade e o preconceito da sociedade de perto, passou para o papel toda a sua dor. Seus poemas são marcados por sua profundidade filosófica e por sua angústia metafísica.
Confira o poema “Alucinação”:
Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,
Ondas em convulsões, ondas em rebeldia,
Desespero do Mar, furiosa ventania,
Boca em fel dos tritões engasgada de pragas.
Velhas chagas do sol, ensanguentadas chagas
De ocasos purpurais de atroz melancolia,
Luas tristes, fatais, da atra mudez sombria
Da trágica ruína em vastidões pressagas.
Para onde tudo vai, para onde tudo voa,
Sumido, confundido, esboroado, à-toa,
No caos tremendo e nu dos tempo a rolar?
Que Nirvana genial há de engolir tudo isto —
— Mundos de Inferno e Céu, de Judas e de Cristo,
Luas, chagas do sol e turbilhões do Mar?!
Além disso, algo muito forte em sua temática é o uso da cor branca. Há sempre figuras de névoa, palidez, luar, figuras alvas, neve e lírios em sua poesia. Elas aparecem para mostrar sua busca incessante pela “pureza das Formas etéreas e das Essências das coisas”.
Alphonsus de Guimaraens
Outro autor brasileiro muito famoso nessa estética é Alphonsus de Guimaraens.
O poeta mineiro soube trabalhar muito bem sua adoração pela morte na poética simbolista. A morte de sua noiva Constança o influenciou fortemente, e seu poema mais famoso fala justamente sobre a morte de uma jovem.
Veja “Ismália”:
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
A série “Tudo o que é sólido pode derreter” tem um episódio exclusivo para esse episódio. Está disponível no YouTube: