Você conhece a expressão “rebelde sem causa”? Os modernista foram rebeldes, mas tiveram uma causa! Eles queriam transgredir e romper com as ideias do passado para fazer uma crítica ao período histórico em que viviam, que passava por guerras e conservadorismo.
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O modernismo visava fazer uma nova forma de arte, completamente diferente da que estava sendo feita no início do século XX.
As pinturas e esculturas, que antes eram realistas e fiéis à realidade, começaram a tomar novas formas, mostrando que a vida poderia ser mostrada de outra forma: parecida com sonhos, em formas geométricas...
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O modernismo no Brasil começou em 1922 com a influência da Semana de Arte Moderna. O evento chocou a sociedade conservadora e elitista e mostrou que a arte estava mudando.
O Brasil passava por um momento complicado: crise, greves, protestos e aumento da inflação. O mundo inteiro estava angustiado devido à Primeira Guerra Mundial.
A saída foi criar um movimento artístico que criticasse esse período e mostrasse à sociedade que havia uma nova saída, uma forma de transgredir essa realidade.
Os modernistas brasileiros já não queriam mais escrever de forma rígida e fixa, eles queriam versos livres na poesia, sem a exigência de métricas e rimas. Até as pontuações foram deixadas de lado.
Veja o poema “Pronominais” de Oswald de Andrade e a forma como ele faz uma crítica bem-humorada da linguagem culta:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Os textos começaram a denotar uma espécie de humor em suas críticas e, muitas vezes, passaram a trabalhar a temática do cotidiano. Por que não escrever sobre mulheres e homens andando na rua indo trabalhar? Por que não escrever sobre os retirantes nordestinos que sofrem devido à miséria e à seca?
A escrita tornou-se livre e deixou espaço para os autores escreverem de forma diferente das quais os leitores estavam acostumados. Clarice Lispector trouxe o fluxo de consciência. Guimarães Rosa começou a inventar novas palavras, os neologismos.
O advento do modernismo esteve intimamente ligado com a Semana de Arte Moderna em 1922. Os idealizadores do movimento, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, tornaram-se escritores notáveis dessa fase.
Eles buscavam uma renovação completa da estética artística e, por causa disso, essa fase ficou conhecida como “fase heróica”.
Essa renovação foi influenciada diretamente pelas vanguardas europeias que também tinham o objetivo de transformar a forma como o mundo via a arte. O cubismo, o surrealismo e o futurismo são exemplos de vanguardas que tiveram forte influência na literatura brasileira.
É uma fase marcada por um nacionalismo muito forte, pela valorização da figura do indígena, por um caráter revolucionário, pela linguagem coloquial e pelo anarquismo.
Oswald de Andrade, nesse período, lança o Manifesto Pau-Brasil que salienta a importância de a poesia brasileira ser exportada, assim como o pau-brasil fora no passado colonial.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho
Uma das características mais importantes é o primitivismo: o sentimento de que o patriotismo seria alcançado pela valorização do passado histórico.
O autor criticava os textos eruditos da burguesia e acreditava no nacionalismo, na originalidade e na linguagem cheia de humor e escrita de forma coloquial, próxima da forma como as pessoas falam no cotidiano.
Outro manifesto lançado pelo autor é o Manifesto Antropofágico, que salientava a importância de não copiar a arte de outros países, mas de assimilar essas características à culturabrasileira.
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Antropofágico é um adjetivo para canibalismo. O canibalismo, em diversas culturas, foi visto como um ato em que se alimentar de outro ser faria com que fosse assimilado suas características positivas, como a coragem, por exemplo. Essa é a ideia que Oswald de Andrade queria trazer para a arte.
A ideia era pegar todas as características culturais europeias que fossem interessantes e assimilar às obras nacionais.
A fase que ficou conhecida como “fase da consolidação” mostra um amadurecimento das ideias da década de 1920.
Em meio ao governo de Vargas, do advento da psicanálise, da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, o período estava mais tenso do que nunca e os escritores passaram a dar ênfase à prosa, com cunho nacionalista e regionalista. A literatura passa a ter uma visão extremamente política, com o objetivo de denunciar as mazelas pelas quais os povos oprimidos passavam.
Os poetas mais famosos são Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles. Na prosa, os nomes mais reconhecidos são Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo e Dyonélio Machado.
Veja um trecho de Vidas secas, romance de Graciliano Ramos que fala sobre a vida de uma família de retirantes:
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
O contexto histórico continua conturbado: o final da Segunda Guerra Mundial deixa sérias consequências e, no Brasil, a sociedade passa pela Ditadura Militar.
A literatura torna-se mais social e humana. Há um retorno ao passado e aos escritos eruditos. Métricas e rimas retornam aos poemas. Os textos tornam-se mais objetivos e há o uso frequente da metalinguagem.
A Geração de 45 possui expoentes famosos na literatura de Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Veja um trecho do romance de estreia de Clarice Lispector, Perto do coração selvagem. Nele, a personagem principal dá vazão ao fluxo de consciência deixando bem elucidado quais são seus questionamentos em relação à existência:
Olho por essa janela e a única verdade, a verdade que eu não poderia dizer àquele homem, abordando-o, sem que ele fugisse de mim, a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais. Lembro-me de um estudo cromático de Bach e perco a inteligência. Ele é frio e puro como gelo, no entanto pode-se dormir sobre ele. Perco a consciência, mas não importa, encontro a maior serenidade na alucinação. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momentoem que tento falar não só não exprimo o que sinto como oque sinto se transforma lentamente no que eu digo.
O modernismo foi o movimento literário predominante por quase um século da história brasileira e sua influência é perceptível até hoje nas obras literárias. A ruptura com o passado deu espaço para pensar no nacionalismo e em um tipo de linguagem mais informal. A transgressão deu espaço para críticas e denúncias da situação vivida por muitos brasileiros na época.
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador