Em 1928, Drummond publica em uma revista o famoso poema “No meio do caminho”.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma
pedra no meio do caminho
Tinha uma
pedra
No meio
do caminho tinha uma pedra.
Nunca me
esquecerei desse acontecimento
Na vida
de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me
esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma
pedra
Tinha uma
pedra no meio do caminho
No meio
do caminho tinha uma pedra.
Em 1930, seu primeiro livro de poesia é lançado. O título é “Alguma Poesia”. Já na estreia, Drummond eterniza sua obra poética com poemas inesquecíveis.
No poema “Quadrilha”, ele mostra sua visão interessante sobre o amor não correspondido:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Em “Poema de sete faces”, Drummond vai eternizar sua figura como gauche, como alguém que está excluído da narrativa, um outsider. Ele também eterniza a figura do anjo torto que aparece para ditar seu caminho. Esse poema foi referenciado por muitos poetas no futuro.
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.