Você já teve a ideia de fazer um poema sobre o porquinho-da-índia que você ganhou quando tinha 6 anos? Tarde demais... Manuel Bandeira já escreveu esse poema!
Você já teve a ideia de fazer um poema sobre o porquinho-da-índia que você ganhou quando tinha 6 anos? Tarde demais... Manuel Bandeira já escreveu esse poema!
Ele foi um escritor pernambucano – mas que se mudou para o Rio de Janeiro ainda criança – da primeira fase da geração modernista. Também foi crítico de arte, historiador literário, professor e tradutor.
Ele é visto como o grande influenciador dos artistas que criaram o movimento moderno no Brasil, afinal, ele já estava criando poemas com liberdade formal e versos livres.
Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 13 de abril de 1886. Filho de um advogado e de uma professora de piano, desde cedo teve contato com a arte. Aos 10 anos de idade, Manuel perdeu o pai e foi obrigado a se mudar para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, o poeta teve contato com a cultura local, o que lhe permitiu desenvolver o seu talento para a literatura. Durante a infância, Manuel já se destacava como poeta, escrevendo poemas e compondo músicas.
Estudou direito, mas nunca exerceu a profissão. Seus estudos se concentraram na literatura, filosofia e história, e foi influenciado pelas ideias de Nietzsche, Freud e Marx. Ele também foi professor de literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu estilo poético era marcado por imagens ricas e metáforas, além de uma profunda reflexão sobre a vida.
Manuel Bandeira foi um poeta brasileiro reconhecido internacionalmente. Sua carreira iniciou-se em 1917, com a publicação do seu primeiro livro , "A Cinza das Horas". A partir de então, ele publicou inúmeros livros de poesia, além de diversos ensaios e crônicas. Seu trabalho foi amplamente reconhecido, tendo sido premiado com o Prêmio Machado de Assis, a Medalha de Ouro da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio Camões. Ao longo de sua carreira, Manuel Bandeira foi considerado um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
A carreira de Manuel Bandeira ficou marcada por seus problemas de saúde. Quando ainda era um jovem cursando a faculdade de arquitetura, em 1903, o autor descobriu que tinha tuberculose. Sua vida voltou-se para a cura da doença. Com isso, ele começa a se dedicar à literatura e muito do sofrimento sentido pela doença se transformou em poemas.
O estilo poético é uma forma de escrita que usa recursos como rima, assonância, aliteração, metáforas e outros para criar efeitos poéticos. É usado para expressar sentimentos e emoções, e para conectar profundamente com o leitor. Por meio de seu uso, os poetas também podem explorar novos temas e ideias de forma criativa. O estilo poético é uma forma de arte que permite que os escritores se expressam de maneiras únicas e inspiradoras.
As Características Literárias são influenciadas por diversos fatores. A cultura do autor, suas experiências, seu contexto histórico e social, bem como a língua em que escrevem, são fatores que influenciam o estilo literário. Além disso, outros escritores e obras também são uma grande fonte de influência, seja intencional ou não. Os escritores podem absorver técnicas de outros autores, assim como temas, estruturas, personagens e narrativas. A influência literária é uma parte importante do processo criativo.
Os principais temas literários são aqueles que abordam o comportamento humano, o amor, a guerra, a religião, a política, a ficção, a fantasia, a realidade, a natureza, a filosofia, a história e a ciência. Esses temas são amplamente abordados em diferentes gêneros literários, como poesia, contos, romances, ensaios, peças de teatro, biografias, entre outros. Cada gênero literário contribui para o desenvolvimento de temas e abordagens diferentes, permitindo que o leitor explore novas perspectivas e ideias.
Manuel Bandeira teve forte envolvimento com a Semana da Arte Moderna, mesmo sem comparecer presencialmente. Seu poema “Os Sapos” abriu o evento e chocou o público burguês com sua crítica aos parnasianos.
Veja um trecho do poema:
Os sapos (trecho do poema)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
A vida em reclusão devido à tuberculose fez com que ele se tornasse um homem solitário e muito saudosista em relação ao passado. Esses temas foram muito trabalhados em sua obra poética.
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
No poema a seguir, o autor fala sobre o porquinho-da-índia que tivera na infância com ternura e saudade:
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
Imerso em uma vida cheia de dor, Manuel Bandeira teve tempo para sonhar com um mundo utópico. Pasárgada tornou-se um dos lugares mais famosos da literatura brasileira devido ao talento de Bandeira em descrever tal local:
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Os livros de poesia publicados por Manuel Bandeira foram:
Sua literatura, como toda obra modernista, ficou marcada por uma poética dedicada à transgressão, aos versos livres, sem formalidades, com temáticas do cotidiano e com linguagem coloquial.
Seus temas mais usados sempre foram a doença, a morte, a saudade e a infância.
Manuel Bandeira influenciou os modernistas mais jovens que criaram a Semana de Arte Moderna, logo, ele se tornou uma espécie de figura paternal para o movimento. Seu talento e seu lirismo delicado ao lidar com temas tão brutais faz com que, até hoje, seja muito importante e muito intenso ler seus poemas.
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para: