Manuel Bandeira: biografia, características literárias e obras
Publicado por Laisa Ribeiro | Última atualização: 19/6/2025Índice
Introdução
Você já teve a ideia de fazer um poema sobre o porquinho-da-índia que você ganhou quando tinha 6 anos? Tarde demais... Manuel Bandeira já escreveu esse poema!
Quem foi Manuel Bandeira?
Ele foi um escritor pernambucano – mas que se mudou para o Rio de Janeiro ainda criança – da primeira fase da geração modernista. Também foi crítico de arte, historiador literário, professor e tradutor.
Ele é visto como o grande influenciador dos artistas que criaram o movimento moderno no Brasil, afinal, ele já estava criando poemas com liberdade formal e versos livres.
Biografia de Manuel Bandeira
Nascimento e infância
Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 13 de abril de 1886. Filho de um advogado e de uma professora de piano, desde cedo teve contato com a arte. Aos 10 anos de idade, Manuel perdeu o pai e foi obrigado a se mudar para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, o poeta teve contato com a cultura local, o que lhe permitiu desenvolver o seu talento para a literatura. Durante a infância, Manuel já se destacava como poeta, escrevendo poemas e compondo músicas.
Estudos
Estudou direito, mas nunca exerceu a profissão. Seus estudos se concentraram na literatura, filosofia e história, e foi influenciado pelas ideias de Nietzsche, Freud e Marx. Ele também foi professor de literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu estilo poético era marcado por imagens ricas e metáforas, além de uma profunda reflexão sobre a vida.
Carreira
Manuel Bandeira foi um poeta brasileiro reconhecido internacionalmente. Sua carreira iniciou-se em 1917, com a publicação do seu primeiro livro , "A Cinza das Horas". A partir de então, ele publicou inúmeros livros de poesia, além de diversos ensaios e crônicas. Seu trabalho foi amplamente reconhecido, tendo sido premiado com o Prêmio Machado de Assis, a Medalha de Ouro da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio Camões. Ao longo de sua carreira, Manuel Bandeira foi considerado um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
Morte
A carreira de Manuel Bandeira ficou marcada por seus problemas de saúde. Quando ainda era um jovem cursando a faculdade de arquitetura, em 1903, o autor descobriu que tinha tuberculose. Sua vida voltou-se para a cura da doença. Com isso, ele começa a se dedicar à literatura e muito do sofrimento sentido pela doença se transformou em poemas.
Características Literárias
Estilo poético
O estilo poético é uma forma de escrita que usa recursos como rima, assonância, aliteração, metáforas e outros para criar efeitos poéticos. É usado para expressar sentimentos e emoções, e para conectar profundamente com o leitor. Por meio de seu uso, os poetas também podem explorar novos temas e ideias de forma criativa. O estilo poético é uma forma de arte que permite que os escritores se expressam de maneiras únicas e inspiradoras.
Influências
As Características Literárias são influenciadas por diversos fatores. A cultura do autor, suas experiências, seu contexto histórico e social, bem como a língua em que escrevem, são fatores que influenciam o estilo literário. Além disso, outros escritores e obras também são uma grande fonte de influência, seja intencional ou não. Os escritores podem absorver técnicas de outros autores, assim como temas, estruturas, personagens e narrativas. A influência literária é uma parte importante do processo criativo.
Principais temas
Os principais temas literários são aqueles que abordam o comportamento humano, o amor, a guerra, a religião, a política, a ficção, a fantasia, a realidade, a natureza, a filosofia, a história e a ciência. Esses temas são amplamente abordados em diferentes gêneros literários, como poesia, contos, romances, ensaios, peças de teatro, biografias, entre outros. Cada gênero literário contribui para o desenvolvimento de temas e abordagens diferentes, permitindo que o leitor explore novas perspectivas e ideias.
Os sapos da Semana de Arte Moderna
Manuel Bandeira teve forte envolvimento com a Semana da Arte Moderna, mesmo sem comparecer presencialmente. Seu poema “Os Sapos” abriu o evento e chocou o público burguês com sua crítica aos parnasianos.
Veja um trecho do poema:
Os sapos (trecho do poema)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Pneumotórax
A vida em reclusão devido à tuberculose fez com que ele se tornasse um homem solitário e muito saudosista em relação ao passado. Esses temas foram muito trabalhados em sua obra poética.
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Porquinho-da-Índia
No poema a seguir, o autor fala sobre o porquinho-da-índia que tivera na infância com ternura e saudade:
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
Uma utopia: Pasárgada
Imerso em uma vida cheia de dor, Manuel Bandeira teve tempo para sonhar com um mundo utópico. Pasárgada tornou-se um dos lugares mais famosos da literatura brasileira devido ao talento de Bandeira em descrever tal local:
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Literatura
Os livros de poesia publicados por Manuel Bandeira foram:
- A Cinza das Horas (1917)
- Carnaval (1919)
- Libertinagem (1930)
- Estrela da Manhã (1936)
- Lira dos Cinquent'anos (1940)
Sua literatura, como toda obra modernista, ficou marcada por uma poética dedicada à transgressão, aos versos livres, sem formalidades, com temáticas do cotidiano e com linguagem coloquial.
Seus temas mais usados sempre foram a doença, a morte, a saudade e a infância.
Conclusão
Manuel Bandeira influenciou os modernistas mais jovens que criaram a Semana de Arte Moderna, logo, ele se tornou uma espécie de figura paternal para o movimento. Seu talento e seu lirismo delicado ao lidar com temas tão brutais faz com que, até hoje, seja muito importante e muito intenso ler seus poemas.
Exercício de fixação
Exercícios sobre Manuel Bandeira: biografia, características literárias e obras para vestibular
Enem/2011
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para: