Pelas profissões intimamente ligadas ao folclore e à cultura brasileira, já fica fácil adivinhar que a literatura do Mário de Andrade valorizava bastante a cultura e a identidade nacional. Sua presença na formação da primeira fase do modernismo foi importante para endossar esse sentimento de que o Brasil deveria ser valorizado nesse movimento literário.
Há uma gota de sangue em cada poema
A carreira literária de Mário de Andrade começou em 1917, quando ele ainda estudava música. O jovem de 24 anos escolheu um título forte para a sua obra: Há uma gota de sangue em cada poema.
Veja os primeiros versos do poema “Guilherme” presente no livro:
Ser feliz é ser grande. Imenso de alma,
inda que o corpo se lhe dobre…
É alcançar a região etérea e calma,
onde a alma viva enfim, nua e desimpedida…
Indiferentemente
ou sendo rico, ou sendo pobre,
ser feliz é encontrar no fim da vida,
de torna-viagem para a povoação,
a inflexível consciência, e encará-la de frente:
e ajoelhar para a coroação.
Paulicéia desvairada
Em 1922, com a Semana da Arte Moderna, Mário de Andrade coloca definitivamente os preceitos modernistas em sua vida. Nesse mesmo ano, ele lança Paulicéia desvairada, uma antologia de contos que ficou marcada como a primeira obra modernista brasileira.
O livro fala sobre a cidade de São Paulo de uma maneira diferente. O autor queria mostrar como a cidade estava saindo da fase rural e caminhando rapidamente para o urbanismo. Nisso, ele foi fortemente influenciado pela vanguarda europeia do futurismo ao mostrar um culto ao progresso. Contudo, ele criticava vorazmente o burguês como mostra o poema “Ode ao burguês”:
Eu insulto o burguês!
O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Amar, verbo intransitivo
Em 1927, o autor publica Amar, verbo intransitivo. O romance, com estrutura narrativa modernista, conta a história de uma professora alemã chamada Elza que foi chamada para trabalhar em uma casa da alta burguesia paulista. Ali, todos pensam que ela fora contratada para dar aula de alemão aos filhos do burguês, todavia, ela fora realmente contratada para seduzir e “ensinar” o filho mais velho, Carlos, a ter relações amorosas.
Amar, verbo intransitivo surge com o objetivo de criticar a hipocrisia da burguesia paulista.