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Mário de Andrade

Literatura - Manual do Enem
Laisa Ribeiro Publicado por Laisa Ribeiro
 -  Última atualização: 28/7/2022

Índice

Introdução

“Ai! que preguiça!...”. Fácil se identificar com essa frase, não é mesmo? Mas você sabia que ela ficou consagrada na literatura brasileira?

Essas são as primeiras palavras ditas pelo protagonista do romance Macunaíma, escrito por Mário de Andrade. Ficou curioso para conhecer o autor? Vem com a gente!

Quem foi Mário de Andrade?

Ele foi um escritor paulista da primeira fase do modernismo brasileiro. Além disso, também foi crítico literário, folclorista e ativista cultural e musicólogo.

Mário de Andrade foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em 1922 e deu início ao modernismo no Brasil. Ao lado dos outros organizadores – Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Menotti del Pichia –, ele faz parte do “Grupo dos cinco” do modernismo.

Primeiras obras

Pelas profissões intimamente ligadas ao folclore e à cultura brasileira, já fica fácil adivinhar que a literatura do Mário de Andrade valorizava bastante a cultura e a identidade nacional. Sua presença na formação da primeira fase do modernismo foi importante para endossar esse sentimento de que o Brasil deveria ser valorizado nesse movimento literário.

Há uma gota de sangue em cada poema 

A carreira literária de Mário de Andrade começou em 1917, quando ele ainda estudava música. O jovem de 24 anos escolheu um título forte para a sua obra: Há uma gota de sangue em cada poema.

Veja os primeiros versos do poema “Guilherme” presente no livro:

Ser feliz é ser grande. Imenso de alma,

inda que o corpo se lhe dobre…

É alcançar a região etérea e calma,

onde a alma viva enfim, nua e desimpedida…

Indiferentemente

ou sendo rico, ou sendo pobre,

ser feliz é encontrar no fim da vida,

de torna-viagem para a povoação,

a inflexível consciência, e encará-la de frente:

e ajoelhar para a coroação.

Paulicéia desvairada

Em 1922, com a Semana da Arte Moderna, Mário de Andrade coloca definitivamente os preceitos modernistas em sua vida. Nesse mesmo ano, ele lança Paulicéia desvairada, uma antologia de contos que ficou marcada como a primeira obra modernista brasileira.

O livro fala sobre a cidade de São Paulo de uma maneira diferente. O autor queria mostrar como a cidade estava saindo da fase rural e caminhando rapidamente para o urbanismo.  Nisso, ele foi fortemente influenciado pela vanguarda europeia do futurismo ao mostrar um culto ao progresso. Contudo, ele criticava vorazmente o burguês como mostra o poema “Ode ao burguês”:

Eu insulto o burguês!

O burguês-níquel,

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Amar, verbo intransitivo

Em 1927, o autor publica Amar, verbo intransitivo. O romance, com estrutura narrativa modernista, conta a história de uma professora alemã chamada Elza que foi chamada para trabalhar em uma casa da alta burguesia paulista. Ali, todos pensam que ela fora contratada para dar aula de alemão aos filhos do burguês, todavia, ela fora realmente contratada para seduzir e “ensinar” o filho mais velho, Carlos, a ter relações amorosas.

Amar, verbo intransitivo surge com o objetivo de criticar a hipocrisia da burguesia paulista.

Macunaíma

O romance mais conhecido de Mário de Andrade é Macunaíma. Também considerado uma rapsódia, o enredo gira em torno do “herói sem nenhum caráter”, Macunaíma, indígena que perde sua muiraquitã e precisa ir até São Paulo encontrá-la. Ele é o autor da frase “Ai que preguiça!”.

Nessa aventura, ele encontra diversos seres do folclore brasileiro, ao mesmo tempo em que entra em contato com o mundo urbanizado de São Paulo que estava a todo vapor.

Macunaíma é um grande marco na literatura brasileira. Fica evidente a valorização da cultura nacional quando o escritor menciona a natureza das florestas brasileiras e os costumes, as lendas e os mitos do povo indígena no livro. Ao mesmo tempo, ele faz um relato histórico de uma época importante em que a cidade de São Paulo estava nascendo. A forma do livro é absolutamente modernista, como você poderá ver no trecho a seguir. Nele, pode-se encontrar trechos de realismo mágico na literatura de Mário de Andrade, enquanto abre um debate sobre o preconceito racial encontrado no Brasil:

Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.

Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.

Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.

Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:

— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.

Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:

— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!”

Conclusão

Mário de Andrade começou um movimento que transformaria a literatura brasileira. Seu caráter transgressor é notável em toda a sua obra, principalmente em Macunaíma, que deixou um legado muito importante para a história da teoria literária.

Para conhecer melhor a obra desse autor, uma dica é assistir ao filme Macunaíma (1969). Está disponível no YouTube!

Exercício de fixação
Passo 1 de 3
Enem/2012

Sambinha

Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.

Afobadas braços dados depressinha

Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.

As costureirinhas vão explorando perigos…

Vestido é de seda.

Roupa-branca é de morim.

Falando conversas fiadas

As duas costureirinhas passam por mim.

— Você vai?

— Não vou não!

Parece que a rua parou pra escutá-las.

Nem trilhos sapecas

Jogam mais bondes um pro outro.

E o Sol da tardinha de abril

Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.

As nuvens são vermelhas.

A tardinha cor-de-rosa.

Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas…

Fizeram-me peito batendo

Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!

Isto é…

Uma era ítalo-brasileira.

Outra era áfrico-brasileira.

Uma era branca.

Outra era preta.

ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.

Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois:

A O poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade.
B A sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas — depressinha — que, em última instância, representam um Brasil de “todas as cores”.
C O excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do poema.
D A sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”
E O eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
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