Você já parou para pensar em qual foi a semana mais polêmica da História do Brasil? Difícil dizer, não é mesmo? Mas aqui vai uma boa concorrente para o título: a Semana da Arte Moderna, que ocorreu em 1922 e gerou muitas vaias, reações exaltadas e confusão.
A Semana da Arte Moderna foi um evento que deu início ao movimento modernista no Brasil, completamente influenciado pelas novas estéticas que vieram com as vanguardas europeias do começo do século XX.
A ideia era romper com as tradições do passado e criar novos padrões estéticos e artísticos para diversos campos da arte, como a literatura, a pintura, a escultura, a música, entre outros.
Apesar de ter causado muita polêmica perante um público conservador e elitista, o evento impactou a criação artística de uma forma impressionante, criando uma nova forma de pensar a arte no Brasil, com muita mais liberdade.
Em 1922, o Brasil completou 100 anos de Independência, e diversos intelectuais paulistas viram nessa data uma boa oportunidade para criar um evento que balançaria as estruturas conservadoras artísticas do país, e que lançaria as novas tendências estéticas.
O grupo formado por Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Di Cavalcati e Mário de Andrade foi o responsável por colocar em prática essa ideia.
O evento, bancado pela aristocracia paulista do café em pleno Governo Café com Leite, contou com uma série de conferências, palestras, exposições de arte e concertos para divulgar as novas estéticas, que já estavam sendo discutidas por esses artistas há muitos anos.
Intelectuais cariocas também participaram, como Sérgio Buarque de Hollanda, Heitor Villa-Lobos e Manuel Bandeira que, apesar de não comparecer, enviou um poema que teve uma recepção muito intensa.
Nas palavras de Di Cavalcante, a Semana da Arte Moderna: “Seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”.
No dia 13 de fevereiro, a elite paulista se reuniu no grande Teatro Municipal em um evento de gala para conhecer a arte moderna. O que eles não esperavam é que se chocariam com as novas formas artísticas.
A confusão começou logo na segunda noite. Vendo que o público estava reprovando o que era apresentado, Menotti del Picchia declarou, em alto e bom som, que o público conservador queria enforcar os modernistas com o som fino do assobio de suas vaias.
Quando Ronald de Carvalho leu o poema “Os sapos”, enviado por Manuel Bandeira, o caos tomou conta do evento. Veja os trechos iniciais do poema:
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O poema nitidamente criticava os poetas do parnasianismo e sua característica de precisão na hora de compor os poemas. Bandeira os comparou a sapos. A plateia foi à loucura e houve uma recepção bastante acalorada.
Para completar a confusão, no terceiro dia, Villa-Lobos faria um conserto. Contudo, ele estava com um calo no pé e não achava nenhum sapato que fosse confortável e combinasse com o traje de gala.
A solução encontrada foi se apresentar de casaca e chinelo. O público achou que aquela era uma atitude tomada propositalmente e que era algo “futurista”. Resultado: as pessoas ficaram extremamente ofendidas.
A intenção dos modernistas da Semana da Arte Moderna era mostrar uma arte mais brasileira. A identidade brasileira deveria ser enaltecida, assim como as cenas do cotidiano.
Não haveria espaço para formalismo, e sim para a oralidade e para a liberdade de expressão e de forma.
Houve uma grande influência das estéticas das vanguardas europeias e uma fusão do que vinha da Europa com a visão tida do Brasil.
O objetivo era romper com as tradições do passado e experimentar novas formas de construção de arte. O parnasianismo foi completamente rechaçado.
Em 1922, Mário de Andrade publicou seu livro de poemas “Paulicéia desvairada”. Nele, deixa bem nítido seu desafeto pelos valores burgueses, algo que esteve tão presente na Semana da Arte Moderna.
Veja alguns trechos do poema “Ode ao burguês”:
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Em 1923, Oswald de Andrade lança o romance “Memórias sentimentais de João Miramar”. Com capítulos extremamente curtos e muitas experimentações na linguagem, Andrade conta a história de João Miramar, um rapaz burguês.
Em 1924, Manuel Bandeira lança “O ritmo dissoluto”.
Confira os maiores nomes presentes na Semana da Arte Moderna:
Duas pintoras importantes da Semana da Arte Moderna foram Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. As duas foram criticadas por sua forma completamente inovadora de apreender a realidade.
Tarsila do Amaral ficou marcada eternamente no imaginário coletivo brasileiro com a obra “Abaporu”.
O que era para ser apenas mais uma semana na História brasileira se tornou um marco que mudaria para sempre a forma de fazer arte no Brasil.
A Semana da Arte Moderna, em 1922, trouxe liberdade, uma ruptura importante com o conservadorismo, o senso de modernidade que pululava na Europa, a vontade de criar uma nova identidade para o país e uma forte crítica à elite dominante.
Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato.
Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros modernistas