Terra Sonâmbula é um romance escrito pelo autor moçambicano Mia Couto, publicado em 1992, e que conta a história de Muidinga e Tuahir em meio ao pano de fundo da guerra civil, ocorrida em Moçambique 10 anos após a guerra anticolonial contra Portugal, que aconteceu neste mesmo país.
Assim, esta obra, por meio de um recurso onírico, misturando sonhos e realidade, nos expõe à devastação da guerra e às heranças coloniais que perduraram na Moçambique pós-independência. Além disso, a obra conta com traços do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana, buscando mostrar interposições de sonhos e trazendo uma narrativa poética e única.
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Terra Sonâmbula nos mostra a devastação causada por diversos conflitos armados ocorridos em Moçambique.
De 1965 a 1975, houve uma guerra anticolonial, contra o domínio de Portugal e pela Independência do país. Após a conquista da liberdade de Portugal, em 1975, tem-se uma guerra civil no país, com disputas internas pelo poder entre os partidos Renamo e Frelimo. Tais conflitos ocorreram de 1976 a 1992, fazendo milhares de vítimas e arrasando o país.
Assim, a obra retrata o último período dessa guerra civil, pois o livro foi publicado pela primeira vez no ano em que foi assinado o Acordo Geral de Paz entre os dois grupos.
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Em Terra Sonâmbula, nos deparamos com o menino Muidinga, que perdeu sua memória depois de ter sido envenenado ao comer uma mandioca brava, e o velho Tuahir, que decide guiar Muidinga e servir de figura paterna para este. Assim, o livro nos mostra o caminho feito por ambos para sobreviverem em meio ao cenário da guerra civil moçambicana.
Com isso, Muidinga acaba achando um carro com vários corpos carbonizados e alguns cadernos, que traziam relatos de um garoto chamado Kindzu. Aqui, o livro apresenta uma história dentro de uma história, pois em diferentes capítulos vamos ver o que acontece com Muidinga e Tuahir e em outros capítulos vamos saber da vida de Kindzu, mostrando perspectivas diferentes sobre o cenário da guerra.
Os cadernos contam a história de Kindzu, que foi mandado embora pela mãe, cuja perda de todos os filhos a fez não querer ficar com o que ela menos gostava. Assim, ele caminha sozinho na tentativa de unir-se aos guerreiros que lutam pelo país, os Naparamas.
Um certo dia, ele encontra um navio naufragado e descobre que uma mulher chamada Farida mora ali. Ao encontrar Farida, Kindzu acaba apaixonando-se por ela, que conta sua história de vida - como foi estuprada por seu pai de criação e como este estupro gerou uma criança, Gaspar, que desapareceu e que nunca mais havia sido visto pela mãe.
Kindzu promete à Farida que encontraria seu filho desaparecido, e acaba vivendo diversas aventuras e passando por várias dificuldades em meio a esta empreitada.
No final da obra, fantasia e realidade se misturam, não sendo possível diferenciá-las. Deste modo, Mia Couto constrói uma teia de acontecimentos entre Muidinga, Tuahir e Kindzu, cujos caminhos vão se encontrando e se cruzando à medida que a dupla passa por lugares diferentes, vendo a destruição e o sentimento de desespero causado pela guerra.
Personagens principais:
Mia Couto é um renomado escritor moçambicano. Seu nome completo é António Emílio Leite Couto, mas ele é conhecido pelo pseudônimo Mia Couto. Ele nasceu em 5 de julho de 1955, em Beira, Moçambique, que na época era uma colônia portuguesa.
Mia Couto é considerado um dos mais importantes escritores de língua portuguesa da atualidade. Sua obra é caracterizada pela fusão de elementos da cultura africana com a linguagem poética e experimental. Ele é conhecido por sua escrita imaginativa, repleta de metáforas e um estilo único que mistura a tradição oral africana com a prosa literária.
Suas obras exploram temas como a identidade cultural, a história de Moçambique, os conflitos pós-coloniais, a ecologia e a relação entre seres humanos e natureza. Entre seus livros mais conhecidos, destacam-se "Terra Sonâmbula", "A Varanda do Frangipani", "O Último Voo do Flamingo" e "O Bebedor de Horizontes".
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015.
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Leia o seguinte trecho da obra Terra Sonâmbula, de Mia Couto, extraído do Sexto caderno de Kindzu, subintitulado O regresso a Matimati.
Lembrei meu pai, sua palavra sempre azeda: agora, somos um povo de mendigos, nem temos onde cair vivos. Era como se ainda escutasse:
- Mas você, meu filho, não se meta a mudar os destinos.
Afinal, eu contrariava suas mandanças. Fossem os naparamas, fosse o filho de Farida: eu não estava a deixar o tempo quieto. Talvez, quem sabe, cumprisse o que sempre fora: sonhador de lembranças, inventor de verdades. Um sonâmbulo passeando entre o fogo. Um sonâmbulo como a terra em que nascera. Ou como aquelas fogueiras por entre as quais eu abria caminho no areal.
(Mia Couto, Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015, p. 104.)
Na passagem citada, a personagem Kindzu recorda os ensinamentos de seu pai diante do estado desolador em que se encontrava sua terra, assolada pela guerra, e reflete sobre a coerência de suas ações em relação a tais ensinamentos. Levando em consideração o contexto da narrativa do romance de Mia Couto, é correto afirmar que: