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“O Novo Ensino Médio é mais velho do que tudo”, afirma educadora

Entenda o que muda no Novo Ensino Médio que será implementado em 2021 e veja o que dizem os especialistas da área.

Novo Ensino Médio terá menos livros e aulas teóricas e mais mão na massa.
Foto: Flickr/Abhi Sharma

O Novo Ensino Médio foi sancionado em 2017 durante o governo Temer, porém, o assunto virou pauta novamente no último dia 29, quando o Governador de São Paulo anunciou a implementação do novo currículo no estado, de maneira gradual, a partir do ano que vem. São Paulo é o primeiro estado a elaborar o documento. 

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A medida foi adotada como tentativa de reduzir a evasão escolar, questão que já era existente no Brasil e se tornou mais evidente durante a pandemia. Uma pesquisa recente, realizada pela Fundação Roberto Marinho em parceria com o Insper, mostra que 3 em cada 10 jovens pensam em não retornar às aulas após o isolamento.

O Conselho Nacional de Educação (CNE), acredita que o abandono dos estudos pode ser minimizado ao tornar a escola mais atraente, dando mais autonomia para o aluno e permitindo que ele se aprofunde em áreas de conhecimento do seu interesse. 

Henrique Braga, coordenador do Sistema Anglo de Ensino, diz que há muitos desafios pela frente, mas que o Novo Ensino Médio só tende a adicionar. “Com a ressalva de que o Brasil é um país desigual e que ele paga o preço disso em tudo, o caminho que o Novo Ensino Médio aponta para a educação, é um caminho de melhoria.” afirma. 

Por outro lado, outros especialistas como a Coordenadora do Comitê do Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Catarina de Almeida Santos, enxerga a medida como um retrocesso. 

“A gente está discutindo o Fundeb, a gente está brigando para que as escolas tenham saneamento, para que tenham laboratório, biblioteca,” explica a professora. “Nós temos dez mil escolas nesse país que não têm água potável. Então como é que a gente vai fazer esse Novo Ensino Médio?”, afirma.

Como será o Novo Ensino Médio?

Homologado em 2017, o Novo Ensino Médio apresenta um currículo mais flexível e atualizado, alinhado às diretrizes contempladas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A nova grade de ensino amplia a carga horária de 2.400 para 3.000 horas ao longo dos três anos do ciclo, das quais 1.800 são destinadas à formação básica e as outras 1.200 horas a aulas de itinerários formativos.

O documento apresentado pelo estado de São Paulo dedica um tempo ainda maior aos itinerários, 1.350 horas. Mais de 140 mil estudantes e 18 mil professores participaram do processo de elaboração do currículo. 

A previsão é que o Novo Ensino Médio passe a ser implementado aos alunos do 1º ano do ciclo a partir de janeiro do ano que vem. Em 2022, para os estudantes da 2ª série e, consequentemente, para a 3º ano em 2023. 

Quais são as disciplinas do Novo Ensino Médio?

Seguindo a proposta da BNCC, o novo currículo do Ensino Médio foi criado com o intuito de aproximar as escolas à realidade dos jovens de hoje, acompanhando as habilidades e demandas necessárias no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. 

Na formação geral básica, a grade curricular contemplará as disciplinas já conhecidas, como matemática, português, geografia e história. O restante da formação do aluno será dividida em áreas de conhecimento – linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas, e ciências da natureza –  os itinerários formativos.

Através deles, o estudante poderá aprofundar o seu conhecimento em uma ou duas áreas que tenha maior interesse ou na formação técnica e profissional (FTP). Ao invés das aulas tradicionais, o aprendizado acontecerá por meio de projetos, oficinas, núcleos de estudo e até mesmo situações de trabalho, aplicando a teoria à prática. 

Digamos que um aluno opte pela área de conhecimento geral de matemática. Com o itinerário formativo, ele poderá estudar a disciplina através da robótica ou da programação, por exemplo. 

Vale ressaltar que cada rede de ensino terá autonomia para determinar quais itinerários formativos irá ofertar, sendo obrigatório pelo menos duas opções distintas. O educador Henrique Braga explica que os itinerários são uma oportunidade de trabalhar o conhecimento em espiral. Ou seja, “um conhecimento que aparece em diferentes momentos, com diferentes graus de complexidade e em diferentes situações”.

Como funcionará o processo de escolha do itinerário formativo?

Ainda não foi informado qual data limite o aluno terá para definir as áreas de conhecimento que deseja estudar, nem em que momento ele poderá alterar essa escolha. Braga diz que esta indefinição pode prejudicar a orientação do estudante na hora de determinar os itinerários formativos. 

“Estamos em agosto de 2020, é um momento que esse aluno do nono ano deve estar pensando: ‘Quais opções serão oferecidas? Como eu posso pensar um pouco mais sobre essas opções antes de fazer a minha escolha?’ E ele está distante da escola, sobretudo na rede pública”, explica.

A professora Almeida adiciona que, além da falta de instrução, é preciso pensar sobre a infraestrutura que as instituições terão para atender as vontades dos estudantes, principalmente na rede pública de ensino.

O desafio de implementar o Novo Ensino Médio

“Elaborar a proposta foi dar um passo, agora temos que dar muitos outros passos para a implementação”, afirma Anna Helena Altenfelder, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC).

Segundo a educadora, os desafios de aplicar na prática os conceitos abordados na proposta do Novo Ensino Médio são enormes. Estes vão desde a parte estrutural das escolas, da formação de professores e de suas condições de trabalho, até o engajamento dos alunos e suas famílias. 

Altenfelder alerta que, para que a implementação seja feita de maneira equitativa, é necessário “uma grande organização da política pública” que leve em conta as diferentes condições das escolas entre estados, municípios e até bairros.

Implementando o novo currículo em um contexto de pandemia

A efetivação do Novo Ensino Médio está prevista para janeiro de 2021, em meio a um cenário conturbado da educação brasileira. A suspensão das aulas presenciais tem gerado diversas incertezas, desde a segurança para reabertura das escolas, até a qualidade de ensino ofertada aos alunos – principalmente da rede pública.

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De acordo com um estudo realizado pela organização Todo Pela Educação, o déficit das redes estaduais de ensino pode chegar a 28 bilhões neste ano. Dentro deste contexto, Altenfeldern explica que a escassez de recursos, somada a compra de materiais, a migração de alunos da rede privada para a pública e a necessidade de comprar equipamentos de seguranças, tornará o processo de implementação ainda mais desafiador. “O momento é delicado, mas acho que ele é necessário, porque a escola vai ter que se reinventar de qualquer maneira”, contrapõe.

O que os alunos dizem sobre o Novo Ensino Médio

Apesar de causar divergências entre especialistas, o Novo Ensino Médio é visto com otimismo pelos alunos. Uma pesquisa realizada pelo Porvir – plataforma focada em inovações educacionais – no ano passado, mostra que as crianças e adolescentes brasileiros são a favor da mudança no currículo. 

O estudo “Nossa escola em Re(construção)” escutou mais de 260 mil alunos da rede pública e privada de ensino, entre 11 e 21 anos de idade. Uma das descobertas é que 56% dos alunos gostariam de participar da escolha das disciplinas e atividades presentes no currículo escolar. 

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Este desejo dos alunos vai de encontro com o que é proposto no Novo Ensino Médio. De acordo com Braga, a pesquisa revela também que a expectativa dos jovens de hoje em dia não se resume apenas ao vestibular, mas sim em ferramentas que deem condições para que eles sigam suas vidas, seja ela no Ensino Superior ou no mercado de trabalho. 

Quando questionado sobre o efeito que o Novo Ensino Médio pode ter na preparação dos alunos para o vestibular, o educador acredita que o modelo a ser implementado só tende a acrescentar. Entretanto, é preciso que as escolas se preparem.

“As escolas precisam ter um pouco mais de coragem de entender que preparar para o vestibular não significa passar três anos fazendo exercícios do vestibular”, explica. “Isso não garante o melhor desempenho no Enem e nos vestibulares. A maneira como a escola entende o aprendizado está equivocada, de acreditar que o aluno aprende porque o professor falou.”

Braga lembra que, da mesma forma que o Ensino Médio se adequou à BNCC, existem regulamentações do MEC que sinalizam que o mesmo deverá ocorrer com os exames nacionais e os processos de aprovação para ingressar no Ensino Superior. A matriz atualizada para o Enem, por exemplo, deverá ser apresentada até 2022. 

Para o professor, a proposta é positiva. Além de promover mais aprendizagem, o Novo Ensino Médio dá “mais espaço para o aluno desenvolver o seu potencial e para que ele seja mais bem empregado.” 

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