O Inter: pela primeira vez, InterUnesp terá competições femininas em todas as modalidades esportivas
Considerado o maior evento universitário da América Latina, a competição incentiva o esporte, a união e a integração dentro das unidades da Unesp
Tendo em vista a demanda intelectual que o universo acadêmico exige, o fomento do esporte dentro das universidades é uma questão de suma importância, sendo um aliado fundamental durante a graduação.
E, se você é ou deseja ser unespiano, com certeza, já ouviu falar do campeonato universitário conhecido como “InterUnesp”, que hoje leva o nome de “O Inter”. Considerado o maior torneio universitário da América Latina, a competição é promovida entre os campi da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e combina competições esportivas, festas e apresentações musicais durante quatro dias. O evento é organizado pela Liga Interuniversitária de Esportes Universitários (LIEU), com membros representantes das atléticas de cada unidade da Unesp participante.
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O principal objetivo d’O Inter é promover a prática esportiva dentro das unidades, incentivando os estudantes a treinarem e praticarem regularmente as modalidades oferecidas. Os jogos são realizados em quadras cedidas pela prefeitura da cidade sede (que muda anualmente), assim como os locais de alojamento (geralmente são em escolas municipais e estaduais).
Apesar de se tratar de uma competição esportiva, fora das quadras, O Inter se caracteriza pela enorme união e integração entre os alunos da Unesp. A presidente da Atlética do campus de Araraquara Victoria Kobayashi explica como é a preparação do seu campus para o torneio:
“A Atlética Mané Garrincha oferece treinos gratuitos para mais de 20 modalidades e tem como objetivo principal fomentar o esporte dentro da universidade. Nos dividimos em diretorias, onde realizamos atividades como manutenção de equipamentos e treinos, acompanhamento de atletas e reunião com treinadores com o intuito de melhorar a prática esportiva. De uma maneira geral, nosso esforço para aproximar as relações, somado com o alto nível esportivo e de comprometimento dos atletas e treinadores, tem feito com que o morcego (mascote) voe cada vez mais alto nos jogos universitários”, destaca.
Em 2018, jogando em casa, Araraquara obteve sua melhor classificação no torneio, conquistando o quarto lugar. Para esse ano, a meta da delegação rubro-negra é conseguir entrar no pódio. Um dos diferenciais do campus n’O Inter anterior foi a equipe de futsal feminino, que chegou à final. Deixando para trás a desconfiança, o time fez frente ao campus de Presidente Prudente, que sempre chega forte na modalidade.
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Apesar de ter perdido nos pênaltis, Priscila Generoso, atleta da equipe, destacou a sensação de competir no torneio. “Jogar O Inter – e principalmente jogar uma final – é uma das maiores emoções que já senti. Especialmente quando há o barulho dos torcedores e as canções da Fúria (torcida organizada), que dão ainda mais garra. As rixas entre os campi são antigas e tornam os jogos mais disputados, mas o ambiente é sempre muito amistoso, o que torna a competição ainda mais fabulosa”, salienta.
O “Rei do InterUnesp”
O Inter abriga 23 campi da Unesp, no entanto, há uma certa hegemonia na competição. Existindo desde 2001, de lá para cá, 19 edições do torneio aconteceram e o campus de Bauru é o maior detentor de títulos, tendo conquistado o campeonato em 11 oportunidades. Não à toa, é conhecido pela delegação e torcida bauruense como o “Rei do InterUnesp”. A atleta Marcela Franco, que compete por Bauru em três modalidades (futsal, futebol e natação), destaca o sentimento de defender as cores de sua faculdade na competição:
“É muito bom ser Unesp Bauru! Mais do que vencer, eu gosto da ideia de levar o esporte para o ambiente universitário. Ver o amigo que você mora e estuda competindo não tem preço. A prática esportiva, na universidade, tem um clima diferente da de alto rendimento, é muito mais leve, rola mais descontração e a gente representa o campus inteiro. Ver a arquibancada toda gritando por Bauru é arrepiante! A primeira coisa que me vem à cabeça quando penso n’O Inter é o sentimento de união. Passamos quatro dias seguidos acordando, torcendo e nos divertindo com outras pessoas do campus, é especial”, conta.
Embora o retrospecto seja positivo, os bauruenses não levantam o troféu desde 2014 e viram o campus de Presidente Prudente ganhar as últimas quatro edições d’O Inter. Maria Eduarda Delfino, Diretora Geral de Esportes da Atlética de Bauru, fala sobre o plano de estruturação do campus para voltar a vencer a competição:
“Estamos desde o início do ano com os treinos de todas as modalidades rodando muito bem e tentando ao máximo participar de amistosos e campeonatos com nossos times. Além disso, contamos com a ajuda e parceria de profissionais da educação física, como nossos técnicos e técnicas, e com o acompanhamento de um fisioterapeuta ao longo do ano. Acreditamos que também é nosso trabalho proporcionar um ambiente de treinos agradável para todos, portanto, acompanhamos nossos times semanalmente para suprir as demandas de cada modalidade”, explica.
Igualdade no esporte
Pela primeira vez na história, todas as modalidades d’O Inter contarão com equipes masculinas e femininas. Isso só foi possível após muita luta das Atléticas da Unesp para conseguir que o futebol também tivesse representantes mulheres em campo.
O Inter é o primeiro torneio universitário do Brasil a alcançar igualdade de gênero em todas as modalidades esportivas, representando um grande avanço no meio. Ex-presidente da Atlética de Bauru, Helena Salla teve participação direta nessa conquista e comenta sobre o processo:
“A maior dificuldade durante o processo de tentar igualar todas as modalidades é o fato da Liga ser um ambiente muito masculino, apenas em 2017 pôde contar com uma presidenta. Ou seja, desde 2001 eram apenas homens, foram 16 anos para uma mulher chegar lá. É difícil evoluir nesse processo de inclusão quando as mulheres não chegam a esses locais em que as pautas estão sendo discutidas”, ela comenta.
“Se não existem mulheres nesses espaços, os outros nunca irão se incomodar com essas discussões. Quando eu comecei a bater na tecla que as modalidades femininas tinham que ter partidas com o mesmo tempo de duração das masculinas, visando igualdade, muitas mulheres talvez pensassem como eu, mas elas nunca chegaram até os locais em que isso é discutido. Acho que o fundamental é ter a presença de mulheres nesses ambientes para que essas questões sejam levantadas”, explica Helena.
Outra dificuldade que a ex-presidente pontua é o fato de as Atléticas serem muito diversas e espalhadas por todo o estado de São Paulo. “Temos campi que não participam de algumas modalidades, o de São João da Boa vista, por exemplo, conta com 44 meninas no campus inteiro, isso é o que tem hoje treinando handebol e basquete em Bauru. A realidade é muito diferente, isso atrapalha quando estamos falando de um campeonato que tem as mesmas exigências para todos, havendo apenas uma separação em primeira e segunda divisão. Além disso, vários homens causaram dificuldades no processo, visando apenas as modalidades masculinas. Para se ter um panorama do que é enfrentado no meio, quando digitamos “atleta” na barra de pesquisa, aparece um homem”.
Há muitas barreiras a serem quebradas em relação à igualdade de gênero, principalmente dentro do meio esportivo. Dessa forma, mulheres ocupando espaços historicamente preenchidos por homens, além de ser um ato revolucionário, é uma necessidade para que haja cada vez mais avanço e menos preconceito.
“Para mim, ter sido mulher e ocupado esses espaços foi muito importante. Eu fui a primeira pessoa que bati o pé e incomodei as pessoas dentro das reuniões, eu não deixava as coisas passarem em branco. Incomodava ver uma mulher no poder, falando, ocupando esse espaço. Eu sei que é uma inclusão difícil, mas, toda vez que eu chego no treino do futebol de campo e ele está cheio, eu vejo o impacto que está causando na vida das pessoas, a gente tá fazendo uma coisa que fica. O fato de estarmos ocupando esses espaços foi o que fez as conquistas chegarem. Acho que deu certo, mas, até dar certo, pareceu que eu estava louca”, enfatiza Helena Salla.
Segundo ela, a menina que chega na universidade foi incentivada a vida toda a praticar balé, ser delicada e seguir um padrão. “Então, quando ela chega no ambiente universitário, tem a possibilidade e é incentivada a praticar esporte, isso faz toda diferença. Ela vai ter a noção de que pode fazer aquilo, quebrando paradigmas”, finaliza.
Jogue como uma mulher
Ainda sobre representatividade feminina, o projeto que leva o nome de Artilheira em Foco começou, neste ano, a cobrir as modalidades femininas de futsal e futebol da Unesp de Bauru. Com intuito de retratar as mulheres no esporte sob um olhar crítico e sincero, as alunas de jornalismo Caroline Oréfice e Paula Berlim mostram o cotidiano das atletas bauruenses dentro de quadras e campos.
Visando incentivar e reconhecer a ocupação feminina em espaços historicamente preenchidos por homens, o projeto surgiu e vem ganhando forma. É possível acompanhar de perto esse trabalho em desenvolvimento pelo Instagram do Artilheira em Foco.