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Primeira a oferecer Filosofia, Faculdade de São Bento divide prédio com mosteiro em SP

por Mathias Sallit em 27/09/19 350 visualizações

Em 1598, monges da Ordem Beneditina chegaram a São Paulo e, no dia 4 de julho, fundaram o Mosteiro de São Bento. O local faz parte do roteiro cultural no centro da capital paulista. Sua fundação se deu pouco depois da chegada dos jesuítas ao Planalto de Piratininga, em 1554, quando surgia a Vila de São Paulo.

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Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo (Divulgação/São Bento)

Ao longo dos séculos, o Mosteiro de São Bento se colocou como uma importante instituição formadora moral e intelectual para os paulistas. No início do século XX, em 1903, surgia o Colégio de São Bento. Cinco anos mais tarde, em 1905, era inaugurada a primeira faculdade livre de Filosofia do Brasil: a Faculdade São Bento.

Inicialmente, o curso era filiado à Universidade de Louvain, na Bélgica, que emitia as certificações devido à ausência de um órgão governamental responsável pelo Ensino Superior no Brasil. Depois, esteve filiada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O projeto para reconhecer o curso de Licenciatura em FIlosofia junto ao MEC foi colocado em prática em 1999 e concretizado já em 2000. Nos anos seguintes, o ministério autorizou os cursos de Bacharelado em Filosofia e em Teologia. Desde então, a faculdade ganhou mais notoriedade no cenário universitário paulistano.

“Esse processo abriu caminho para que a instituição investisse no mestrado, em um programa de pesquisa e, com isso, agregasse à larga tradição do mosteiro um curso ainda mais conhecido”, conta Rosário Antônio D’Agostino, diretor da Faculdade São Bento. “Com as novas linhas de pesquisa, pode incorporar-se um corpo docente altamente renomado à faculdade, cuja experiência auxiliou ainda mais a procura pela instituição”, completa.

Cursos atraem universitários

Por ser o primeiro curso de Filosofia do país, a Faculdade São Bento tem uma tradição em uma área de estudos milenares, mas também que se atualiza no decorrer de sua época. Segundo D'Agostino, a graduação "dá ênfase às linhas de pesquisa mais atuais, da Filosofia Contemporânea ao estudo de autores clássicos, preocupando-se com uma formação que promova o desenvolvimento do senso crítico e reflexivo".

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Fachada da Faculdade de São Bento (Divulgação/São Bento)

O curso de Teologia também é referência para a área. "[O curso] atende às exigências eclesiásticas para a formação sacerdotal, logo permite a formação qualificada de todos os cristãos, religiosos, religiosas e seminaristas", diz D'Agostino.

Os cursos são presenciais e contam com instalações físicas tradicionais, mas também adaptadas às demandas modernas que uma graduação exige. O prédio é tombado e não pode sofrer modificações na estrutura. No entanto, adaptações a portadores de necessidades especiais são realizadas para a  inclusão de alunos. Rampas de acesso e adequação do piso do teatro são algumas das melhorias na acessibilidade da instituição.

Hoje, a Faculdade de São Bento conta com cerca de 140 alunos matriculados nos cursos de graduação. A instituição deve abrir quatro novas graduações de novas áreas do conhecimento: Direito, Administração, Psicologia e Educação Física. A expectativa é que os cursos sejam regularizados junto ao MEC já em 2020.

O Patrimônio Histórico

O Mosteiro de São Bento, localizado no centro de São Paulo, também é um fator atraente para os estudantes. Sua arquitetura é imponente e chama os olhares dos milhões de paulistanos que passam pelo local. O prédio atual do mosteiro começou a ser construído no final do século XIX e inaugurado em 1903, ano de abertura do Colégio de São Bento.

Mosteiro de São Bento antigamente (Divulgação/São Bento)

"Não só o prédio em si, com todas as suas nuanças históricas, mas também o ambiente são impactantes para os alunos. Estudar no São Bento significa ter contato com uma tradição monástica propensa à tranquilidade, à reflexão e ao recolhimento interno", conta D'Agostino. 

"Portanto, frequentar esse espaço, mesmo que sem aspirações religiosas, desperta, de certa forma, a meditação e o anseio de conhecer ainda mais o meio circundante. Em outras palavras, faz a pessoa ser curiosa e ter vontade de aprender", conclui.

O Mosteiro de São Bento ainda abriga a biblioteca mais antiga de São Paulo, com mais de 400 anos de história, com um acervo de mais de 115 mil obras que datam desde o século XV. A mais famosa delas, a Bíblia de Gutenberg, datada em 1496.

A biblioteca conta com um sistema digital para consulta dos estudantes. O São Bento ainda conta com o elevador mais antigo da cidade, além de diversas peças artísticas.

Alunos notáveis

Pelos corredores do Colégio e da Faculdade de São Bento, já passaram diversos estudantes notáveis. Entre eles, D'Agostino destaca o padre Marcelo Rossi, poeta Oswald de Andrade, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o ator Raul Cortez, o poeta e tradutor Guilherme de Almeida, o ex-governador Franco Montoro, os rimãos Augusto e Haroldo de Campos, dentre outros.

D'Agostino também cita algumas curiosidades para quem visita ou passa na frente da Faculdade de São Bento, como marcas de bala na fachada lateral, deixadas em confrontos durante a Revolta Paulista de 1924, quando o Mosteiro foi atingido por tiros das tropas revolucionárias.

"Na Rua Florência de Abreu, anexo ao prédio do Mosteiro, há um casarão histórico, uma das edificações mais antigas do centro da cidade: a casa de Dona Marieta Teixeira de Carvalho. O prédio tombado é de muita importância para a cidade de São Paulo por ser o último remanescente do Século XIX na região. Construída no ano de 1878, pertenceu ao Senador Carlos Teixeira de Carvalho. Após a morte deste, sua filha Marieta Teixeira de Carvalho passou a cuidar da residência até 1975, quando faleceu com a idade de 92 anos. Hoje, a casa pertence ao Mosteiro e está passando por obras de restauro, a fim de abrigar um Centro Cultural", D'Agostino conta.

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