Atualidades Enem: Banalização das cirurgias plásticas
Dezenas de digital influencers aderiram à onda de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos para se encaixarem nos atuais padrões de beleza
Durante a quarentena, assuntos como Lipo HD ou LAD, silicone, rinoplastia e harmonização facial dominaram as redes sociais, principalmente o Instagram. Isso porque dezenas de digital influencers aderiram à onda de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos.
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E, fazendo jus às suas profissões, acabaram por influenciar seus milhões de seguidores. No Google, dispararam as buscas pelas intervenções estéticas mais divulgadas pelos famosos.
Especialistas também acreditam que o fenômeno tem interferência das chamadas de vídeo popularizadas na pandemia, no chamado “Efeito Zoom”. Com o rosto em evidência nas telas, várias pessoas passaram a notar e se incomodar com aspectos que antes passavam despercebidos.
Brasil lidera ranking de cirurgias plásticas no mundo
Em 2018, o Brasil se tornou o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, superando os Estados Unidos. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), naquele ano, foram registradas mais de 1 milhão 498 mil cirurgias plásticas estéticas e mais de 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos.
E os números continuam crescendo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2019, foram realizadas 1,7 milhão de cirurgias plásticas, sendo que a maioria delas (60%) para fins estéticos. Os dados representam um aumento de 25,2% no número de cirurgias plásticas estéticas, em comparação com o ano anterior.
No ano passado, entre as três cirurgias estéticas mais procuradas, estão aumento de mamas, lipoaspiração e abdominoplastia. Já entre os tipos de procedimentos estéticos não cirúrgicos, se destacam a aplicação de toxina botulínica e o preenchimento cutâneo.
Hoje, o Brasil também lidera o ranking de países que mais fazem cirurgias plásticas em adolescentes. Segundo a SBCP, nos últimos 10 anos, houve um aumento de 141% nos procedimentos estéticos em jovens de 13 a 18 anos.
Além do aumento de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, a busca pela aparência perfeita rende bilhões em lucros para o setor de beleza – área que segue aumentando seu faturamento ano após ano, independente de crises financeiras.
A banalização das cirurgias plásticas
As redes sociais têm influenciado diretamente no crescimento do número de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos no Brasil, sobretudo em jovens e adolescentes – faixa etária mais presente no meio virtual.
De acordo com uma pesquisa da Academia Americana de Cirurgia Facial Plástica e Reconstrutiva de 2018, 55% dos cirurgiões relataram ter visto pacientes solicitando procedimentos para “melhorar sua aparência em selfies”.
Com o boom da divulgação de procedimentos estéticos por influenciadores digitais neste ano, uma das preocupações dos especialistas da área é a banalização das cirurgias plásticas.
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Boa parte dos influenciadores realizam os procedimentos em permuta, ou seja, não pagam pelas cirurgias em troca da divulgação da clínica de estética e do médico aos seus milhões de seguidores.
Por se tratar de uma parceria ou propaganda, muitas vezes, eles não abordam sobre os riscos dos procedimentos, as dores do pós-operatório, as complicações de cicatrização, os gastos envolvidos, e outros aspectos negativos do processo.
Padrão de beleza: uma construção social
Pense numa influenciadora digital com milhões de seguidores ou numa artista famosa mundialmente. Como ela é? É provável que tenha lhe vindo à mente uma mulher branca, magra, de cabelos lisos, nariz fino, olhos claros e outros fenótipos europeus.
Essas características descrevem o atual padrão de beleza feminino. Os padrões de beleza são modelos de aparência considerados “ideais” em determinado contexto histórico e social. Eles são impostos e reforçados socialmente por meio das mídias e redes sociais, criando uma pressão estética em todos que não correspondem ao “corpo ideal”.
“O mundo globalizado vem criando um ideal de um padrão unificado, mas as variadas regionais continuam existindo. As mudanças no padrão de beleza ocorrem por diversas influências, desde hábitos de classes dominantes economicamente, influência de elementos da mídia e notoriedade de personalidades e figuras públicas”, explica Leandro Vieira, professor de filosofia e sociologia e Coordenador Pedagógico do ProEnem.
Na Antiguidade clássica, eram valorizados a harmonia e simetria dos rostos e corpos. O padrão de beleza masculino era ter músculos definidos. Já o padrão feminino era ser mais volumosa e ter a pele bem clara.
Na época Renascentista, as mulheres mais gordas eram consideradas as mais bonitas e as mais ricas. Esse padrão estético pode ser observado nas pinturas renascentistas, como no quadro Vênus e o Tocador de Alaúde, do pintor italiano Ticiano.
A magreza passa a fazer parte dos padrões estéticos do mundo ocidental no século XVI e se consolida no século XX. O padrão magro com traços europeus se mantém até hoje e ganhou novas características: corpos musculosos e ditos saudáveis.
Padrões excludentes
Os padrões de beleza impõem a chamada corponormatividade, no qual somente corpos dentro do padrão considerado “normal” ou “ideal” são vistos como bonitos e saudáveis. Já as pessoas fora do padrão são classificadas como desleixadas, não saudáveis e sujas.
Portanto, esse padrão é excludente, racista, gordofóbico, transfóbico e capacitista, pois inferioriza as pessoas negras, gordas, transexuais, com deficiência e tantas outras. As pessoas que não se encaixam no padrão acabam sendo desumanizadas e tendo seus direitos fundamentais negados.
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Beleza que machuca
Na tentativa de se encaixar num padrão de beleza “ideal”, milhões de pessoas, principalmente mulheres, recorrem a intervenções estéticas caras e perigosas. Muitos desses procedimentos podem gerar complicações e até mesmo levar à morte, principalmente quando são feitos por profissionais não especializados ou com materiais proibidos para o corpo humano.
Foi o caso da influencer baiana Sthe Matos – hoje com mais de 8 milhões de seguidores. Em março deste ano, sofrendo com pressões estéticas, ela decidiu se submeter a uma rinoplastia para melhorar a aparência de seu nariz. Entretanto, o resultado não foi o esperado e ela foi alvo de centenas de críticas nas redes sociais.
Para tentar reparar o nariz, ela realizou uma nova cirurgia pouco tempo depois. Mas, houve complicações na cicatrização e Sthe teve que entrar no centro cirúrgico novamente, desta vez para fazer enxerto no nariz. Em seu canal do Youtube, ela desabafou sobre a pressão estética que sofreu:
“Eu tinha um nariz saudável, perfeito. Eu fiz uma rinoplastia para poder me encaixar em um padrão de beleza que não existe (…) Se eu pudesse voltar no tempo eu nunca teria feito essa besteira de mexer no meu nariz que não tinha nada de mais, só por vaidade”.
A manutenção dos padrões estéticos ainda se relaciona diretamente com o aumento no número de distúrbios alimentares e psicológicos em jovens, que se comparam com personalidades famosas e buscam ser aceitos socialmente.
A situação se agrava quando se leva em conta que, nas redes sociais, é comum a manipulação de imagens e o uso de filtros para se adequar ao padrão estético. Ou seja, muitas vezes esses jovens prejudicam sua autoestima se comparando com corpos que nem existem na vida real.
A busca por um padrão de beleza que não existe e o adoecimento pelas pressões estéticas é o tema da música Pretty Hurts (A Beleza Machuca, em tradução), da cantora estadunidense Beyoncé:
“A perfeição é a doença da nação
A beleza machuca
Evidenciamos o que temos de pior
Tente reparar algo
Mas você não pode reparar o que não consegue ver
É a alma que precisa de cirurgia”
Numa perspectiva mais crítica, no livro “O Mito da Beleza”, a escritora e jornalista Naomi Wolf aponta o culto à beleza e à juventude da mulher como um mecanismo de controle social do patriarcado para evitar a conquista dos ideais feministas. “O mito da beleza está sempre prescrevendo comportamentos, não aparência”, afirma no livro.
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Pode cair no Enem?
Sim! As temáticas que se relacionam aos padrões de beleza e de estética são temas atuais e pertinentes ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Na área de Sociologia podemos esperar questões que envolvam debates estéticos presentes na mídia e nas redes sociais, questões como a criação de imagens pessoais perfeitas na internet, uso de programas de edição para fotos e distúrbios alimentares”, aponta o professor Leandro.
Já na redação do Enem, o professor de redação do ProEnem, Romulo Bolivar, enfatiza que existe sim uma expectativa de propostas que envolvam beleza e estética no exame, principalmente em temas relacionados a projetos de leis recentes.
“Apesar do tema ‘Consequências da busca por padrões de beleza idealizados’ ter sido cobrado em 2017, discussões atuais relacionadas ao bullying, a automutilação, ao suicídio e outros comportamentos representam novos tipos de abordagem para esse tema”, afirma.
O professor Romulo acredita que, entre as possíveis abordagens da redação, as propostas podem se relacionar ao bullying motivado por padrões estéticos, à tendência da modificação da autoimagem em aplicativos e questões relacionadas ao incentivo a prática do bullying, automutilação e suicídio.
Nessa temática, o professor orienta para que os estudantes tomem cuidado para não ferir os direitos humanos em seu texto e acabar tendo a redação anulada: “É importante que o candidato não assuma uma postura de julgamento das pessoas que possam sofrer de bullying, passar por processo de automutilação ou suicídio quando esses temas estão relacionados a estética”.
Para você se aprofundar mais no assunto e ganhar repertório sobre o tema, o professor Romulo indica os filmes “Linda de morrer”, “Pequena Miss Sunshine” e “Preciosa – Uma História de Esperança” e a série “The Crown”.
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