É uma parte da mecânica que estuda os movimentos e as forças que os causam, tendo como base as Leis de Newton.
Para analisar a dinâmica de um corpo, é fundamental fazer o diagrama de corpo livre (ou, simplesmente, diagrama de forças). Ele consiste em desenhar todas as forças que atuam sobre um corpo isolado de quaisquer outros corpos.
Exemplo: considere um bloco, de peso P, apoiado sobre uma mesa, sob a ação de uma força F e suspenso por um fio (de tração T), conforme o esquema abaixo:
O diagrama de corpo livre desse bloco seria:
Muitas vezes, se faz necessária uma decomposição de forças para aplicar as Leis de Newton após a elaboração do diagrama de corpo livre.
O pêndulo simples consiste de uma massa, geralmente uma partícula, na ponta de um fio ou de uma haste, posta a oscilar. Um relógio de pêndulo é um exemplo de pêndulo simples.
Na figura acima, está representada a oscilação de um pêndulo simples em dois instantes diferentes (correspondentes aos pontos mais altos da trajetória). É importante notar que, desprezando a dissipação de energia, o pêndulo oscila no mesmo ângulo para ambos os lados. Sua trajetória (um arco de circunferência de raio L) está representada pelo pontilhado.
Em um ponto genérico da trajetória, pode-se esboçar o seguinte diagrama de forças:
O peso foi decomposto nos eixos radial e tangencial do movimento. Como o movimento é curvilíneo, deve haver uma força centrípeta na direção radial, no sentido do centro da trajetória. Assim:
\[ T-P_{Y}=F_{CP} \]
A componente X do peso exerce o papel de força tangencial, que, pela Segunda Lei de Newton, pode ser escrita como o produto da aceleração tangencial pela massa:
\[ P_{X}=F_{t}=a_{t}\cdot m \]
Esse diagrama de forças é aplicável independentemente do móvel estar subindo ou descendo. Caso esteja descendo, estará com movimento acelerado (aceleração tangencial no mesmo sentido da velocidade); caso esteja subindo, movimento retardado (aceleração tangencial e velocidade em sentidos opostos).
Apesar da situação analisada acima ser genérica, vale a pena estudar alguns casos particulares, como o do ponto mais alto e o do ponto mais baixo.
No ponto mais alto, o móvel está invertendo o sentido do movimento e, portanto, tem velocidade nula. Como \(F_{CP}=\frac{m v^{2}}{R}\), a força centrípeta também é nula. Assim:
\[ T-P_{Y}=F_{CP}=0 \qquad \xrightarrow{}\qquad T=P_{Y}=P\cdot cos \theta \]
E, novamente: \[ P_{X}=P\cdot sen \theta = F_{t}=a_{t}\cdot m \]
No ponto mais baixo, deixa de existir a componente X do peso \((P_{Y}=P, P_{X}=0, \theta=0)\). A velocidade está na direção horizontal, seja para a direita ou para a esquerda.
Assim, no instante em que ele passa pelo ponto mais baixo, não há força tangencial. Esse instante também é o de maior tração no fio e de maior velocidade do móvel.
\[ T-P=F_{CP} \]
\[ a_{t}=0 \]
Enquanto o movimento do pêndulo simples se dá inteiramente em um plano, o pêndulo cônico se move no espaço, de maneira que o fio ou haste descreve um cone.
O móvel realiza um movimento circular uniforme em um plano paralelo ao chão, de maneira que o ângulo \(\theta\), que o fio faz com a vertical, se mantém constante.
Nessa situação, a tração é decomposta em componentes vertical e horizontal. O componente vertical deve ser igual ao peso, para manter o móvel sempre na mesma altura, enquanto a componente horizontal age como força centrípeta no MCU. O raio desse MCU será \(L \cdot sen \theta\), pela geometria do problema.
\[T_{Y}=T\cdot cos \theta=P \]
\[ T_{X}=T\cdot sen \theta = F_{CP} \qquad \xrightarrow{}\qquad T\cdot sen \theta = \frac{m v^{2}}{L \cdot sen \theta} \]
Um plano inclinado é caracterizado pelo seu ângulo \(\theta\) de inclinação com a horizontal. Nas situações que o envolvem, é conveniente decompor o peso em componentes tangencial e normal ao plano.
\[ F_{N}=P_{Y}=P\cdot cos \theta \]
\[ P_{X}=P\cdot sen \theta =F_{R}=m\cdot a \]
Assim, o bloco descerá acelerado ao longo da superfície do plano inclinado, a não ser que haja uma força na direção x que possa segurá-lo - por exemplo, uma força de atrito.
Nesse caso, para o equilíbrio:
\[ F_{N}=P_{Y}=P\cdot cos \theta \]
\[ P_{X} = F_{at} \]
Assim, com a força resultante nula, o bloco pode estar em repouso ou em MRU (tanto para cima como para baixo).
Exemplo: Um bloco se encontra sobre um plano inclinado que faz 30° com a horizontal, e está na iminência do deslizamento. Sabendo que a força de atrito máxima vale 30 N, determine a massa do bloco. (g=10 m/s2)
Solução: Equilíbrio de forças na direção tangencial ao plano:
\[ P_{X}= F_{at} \qquad \xrightarrow{}\qquad m \cdot g \cdot sen 30° = 30 \]
\[ 10 \cdot m \cdot \frac{1}{2} = 30 \qquad \xrightarrow{}\qquad 5m=30 \]
\[ m= \qquad kg \]
OBS: quando um bloco se encontra na iminência do deslizamento em um plano inclinado com atrito, a tangente do ângulo de inclinação com a horizontal é igual ao coeficiente de atrito estático.
\[ tg \theta = \mu \]
Demonstração:
\[ P_{X}= F_{at} \qquad \xrightarrow{}\qquad m \cdot g \cdot sen \theta = F_{N} \cdot \mu \]
\[ \mu = \frac{mg\cdot sen \theta}{F_{N}} \]
Mas, como \(F_{N}=mg\cdot cos \theta\):
\[ \mu = \frac{mg\cdot sen \theta}{mg\cdot cos \theta} \qquad \xrightarrow{}\qquad \mu=tg \theta \]
Polias, também chamadas de roldanas, são componentes mecânicos que se destinam a mudar a direção em que um cabo ou fio é tracionado e, frequentemente, a reduzir a força necessária para mover certa massa. Uma aplicação comum de polias é em aparelhos de academias de ginástica.
A polia ideal, que é o caso estudado, apresenta massa desprezível e não gera nenhuma perda de energia por atrito com o fio. Além disso, seu raio não é considerado para soluções de problemas.
Na prática, é necessário diferenciar uma polia fixa de uma polia móvel:
A polia fixa é o exemplo mais simples. Ela sempre se encontra presa a alguma superfície e, por ela, passa um fio tracionado por um peso e por uma força exercida do outro lado.
Percebe-se que, nessa situação, a força exercida no fio deve ser igual ao peso do objeto para que haja o equilíbrio.
Já na polia móvel, a massa a ser levantada está ligada não ao fio, mas à própria polia, e uma extremidade do fio é fixada em alguma superfície.
A grande vantagem da polia móvel é a redução da força necessária ao equilíbrio. Como o fio é dobrado ao redor da polia, a tração do fio acaba atuando duas vezes, na direção vertical para cima. No exemplo da figura, apesar do peso do bloco ser de 100 N, basta uma força de 50 N no fio para equilibrar o sistema.
Ou seja, a tração do fio que passa pela polia móvel é sempre a metade do seu peso! Caso sejam associadas n polias móveis, com ou sem polias fixas intermediando, a tração necessária será \(\frac{P}{2^{n}}\) .
OBS: Apesar de haver a vantagem mecânica da redução da força necessária, a polia móvel apresenta uma desvantagem. Caso o objetivo seja elevar o objeto a uma altura H, terá que ser puxado um comprimento 2H de fio. Isso ocorre porque o fio, inextensível, está dobrado ao redor da polia, mas também pode-se explicar esse fenômeno utilizando os conceitos de trabalho e de conservação de energia.
É interessante estudar a dinâmica de situações em que blocos se encontram ligados por fios inextensíveis, com ou sem polias. Nessas situações, é essencial seguir as seguintes etapas:
Tal condição da aceleração ocorre pelo fato do fio ser inextensível, então o conjunto se move como um corpo só. Pode-se aplicar essas ideias nos seguintes exemplos:
Considerar g=10 m/s2
Exemplo 1: O bloco 1 tem massa de 3 kg, enquanto o bloco 2 tem 2 kg, e estão dispostos conforme a figura. Uma vez que os blocos são abandonados dessa posição, determine a aceleração adquirida por cada um dos blocos.
Solução: Ao ser abandonado, o sistema tende a ir para o lado do bloco mais pesado, para a direita. Assim, o bloco 1 estará acelerado para baixo, e o bloco 2 acelerado para cima.
\[ F_{R1}=P_{1} - T = m_{1} \cdot a \qquad \xrightarrow{}\qquad a=\frac{30 - T}{3} \]
\[ F_{R2}= T - P_{2} = m_{2} \cdot a \qquad \xrightarrow{}\qquad a=\frac{T - 20}{2} \]
Como o conjunto tem a mesma aceleração, pode-se igualar as expressões acima:
\[ a=\frac{30 - T}{3}=\frac{T - 20}{2} \qquad \xrightarrow{}\qquad 60 - 2T=3T - 60 \]
\[ 5T=120 \qquad \xrightarrow{}\qquad T=24 \qquad N \]
Uma vez encontrada a tração, basta substituir em qualquer uma das expressões para encontrar a aceleração:
\[ a=\frac{30 - T}{3} = \frac{30 - 24}{3} \qquad \xrightarrow{}\qquad a=2 \qquad m/s^{2} \]
Exemplo 2: Os blocos 1 e 2 têm massas 4kg e 2kg, respectivamente. Determine o coeficiente de atrito entre a superfície de apoio e o bloco 1 para que o conjunto desça com velocidade constante.
Solução: A força resultante em cada bloco será:
\[ F_{R1}= T - F_{at} \qquad F_{R2}=P_{2} - T \]
Como é solicitado que cada bloco tenha velocidade constante, a força resultante em cada um deve ser nula. Então:
\[ F_{R2}=20 - T = 0 \qquad \xrightarrow{}\qquad T=20 \qquad N \]
\[ F_{R1}=20 - F_{at} = 0 \qquad \xrightarrow{}\qquad F_{at}=20 \qquad N \]
Como \(F_{at}= F_{N} \cdot \mu\), e a força normal no bloco 1 é igual ao peso:
\[ 20 = 40 \cdot \mu \qquad \xrightarrow{}\qquad \mu = 0,5 \]
Exemplo 3: Considere os blocos 1 e 2, ligados por um fio e de massas 8kg e 6kg, respectivamente. Os blocos estão apoiados em uma superfície horizontal sem atritos. Sobre o bloco 1 age uma força de 14 N, conforme a figura. Determine a tração no fio.
Nessa situação, em vez de isolar os corpos para fazer o diagrama de forças, é mais conveniente juntá-los: tratar o conjunto como uma só massa, de 8+6=14kg, submetida a uma força externa de 14 N. Portanto:
\[ F_{R} = (M+m)\cdot a\qquad \xrightarrow{}\qquad 14 = 14 \cdot a \]
\[ a= 1 \qquad m/s^{2} \]
Essa aceleração é comum a ambos blocos, que se movem juntos. Agora, sim, separando os blocos:
\[ F_{R2} = T = m_{2} \cdot a \qquad \xrightarrow{}\qquad T= 6 \cdot 1 \]
\[ T = 6 \qquad N \]
Uma invenção que significou um grande avanço tecnológico na Antiguidade, a polia composta ou a associação de polias, é atribuída a Arquimedes (287 a.C. a 212 a.C.). O aparato consiste em associar uma série de polias móveis a uma polia fixa. A figura exemplifica um arranjo possível para esse aparato. É relatado que Arquimedes teria demonstrado para o rei Hierão um outro arranjo desse aparato, movendo sozinho, sobre a areia da praia, um navio repleto de passageiros e cargas, algo que seria impossível sem a participação de muitos homens. Suponha que a massa do navio era de 3000 kg, que o coeficiente de atrito estático entre o navio e a areia era de 0,8 e que Arquimedes tenha puxado o navio com uma força F, paralela à direção do movimento e de módulo igual a 400 N. Considere os fios e as polias ideais, a aceleração da gravidade igual a 10 m/s2 e que a superfície da praia é perfeitamente horizontal.
O número mínimo de polias móveis usadas, nessa situação, por Arquimedes, foi