Você é patriota só durante a Copa do Mundo ou é patriota nível Policarpo Quaresma? Para entender melhor do que estamos falando, vem conhecer a obra do Lima Barreto!
Você é patriota só durante a Copa do Mundo ou é patriota nível Policarpo Quaresma? Para entender melhor do que estamos falando, vem conhecer a obra do Lima Barreto!
Lima Barreto foi um escritor do período pré-modernista que fez um retrato fiel dos subúrbios cariocas. Ele falou sobre as pessoas que, comumente, eram ignoradas pela elite cultural brasileira, que escrevia livros e disseminava a cultura.
Lima Barreto representou o povo. Ele escreveu sobre a classe média, os funcionários públicos, os professores, as moças que desejavam se casar...
Ele foi fortemente influenciado pelos autores russos, os quais gostava muito. De Tolstói e Dostoiévski, Lima Barreto herdou o olhar atento para a sociedade e para as grandes e elevadas emoções humanas.
Por ser negro, Lima Barreto sofreu muito preconceito e nunca deixou de denunciar, em suas obras, esse comportamento da sociedade. Ele sempre colocou questões políticas em suas obras e chegou até mesmo a colaborar com periódicos anarquistas.
Logo em seu primeiro romance, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, ele aborda o preconceito racial na vida de Caminha, um moço inteligente e idealista, que acredita na meritocracia, ou seja, que conseguirá vencer na vida por seus próprios méritos. Todavia, Caminha percebe que esta máxima acaba virando um mito quando sai do interior e chega ao Rio de Janeiro.
No centro urbano, o influente deputado – que era amigo de sua família e supostamente deveria lhe ajudar – o ignora. Sozinho, ele enfrenta uma série de dificuldades.
Apesar de todas as suas qualidades, Caminha só consegue um trabalho como repórter ao impressionar um chefe em uma noitada.
Em seu romance inacabado, “Clara dos Anjos”, o preconceito racial continua sendo uma temática muito importante. Nessa obra, o leitor conhece Clara, uma moça negra que é seduzida por um rapaz que mora no subúrbio. Após a perda de sua virgindade, a família do moço a humilha e um de seus motivos é a cor de sua pele.
Leia um trecho:
O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...
Seu romance mais famoso é “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, em que conhecemos possivelmente o homem mais nacionalista de nossa literatura.
Quaresma acredita tanto na força do Brasil que chega a acreditar que deveríamos abandonar o português e voltar ao uso do tupi.
O protagonista é um personagem idealista e extremamente sonhador. Passa seus dias estudando a fauna e a flora brasileira, pensando em formas de engrandecer a nação. Todos os veem como um louco ou motivo de piada, afinal, a atitude esperada era correr atrás de vantagens para si mesmo e não para o coletivo.
Só que há um spoiler logo no título do livro dado pelo próprio autor: seu fim será triste. Nele, ele encontrará o fim de seus sonhos e ilusões e verá que suas tentativas nacionalistas foram completamente inúteis e fracassadas.
Lima Barreto faz uma crítica à burguesia e às classes dominantes que só pensam em si mesmas e tentam tirar vantagem de qualquer situação.
O escritor era engajado socialmente e sabia muito bem acerca da desigualdade e do preconceito. Sua leitura torna-se tão importante até os dias de hoje por causa disso: infelizmente, é possível identificar o Brasil de Lima Barreto no Brasil atual.
Contudo, sua postura de empoderamento dá um ar de esperança e faz com que todos se sintam, nem que seja um pouquinho, como Policarpo Quaresma – com sede de mudança e com desejo de que o país seja um lugar mais justo para todos.
Ficou interessado na história do Quaresma? Assista à adaptação do filme para o cinema! O filme é de 1988 e está disponível no YouTube.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
(BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.)
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que