“A Rosa do Povo” é um livro de poesias escrito por Carlos Drummond de Andrade. A obra foi publicada entre 1943 e 1945, sendo composta por 55 poemas no total e podendo ser enquadrada na escola literária do modernismo, principalmente por sua temática e sua forma de escrita.
É um livro muito importante por seu caráter social e político, muito ligado ao contexto histórico no qual Carlos Drummond estava inserido. Além disso, há uma grande reflexão sobre o fazer poético, ou seja, para que serve a poesia e qual é o efeito que ela causa nos outros.
O livro tem esse título porque a rosa é um símbolo da poesia (ou da expressão), que é usada pelas pessoas de diferentes modos e com diversas finalidades, trazendo a seguinte pergunta: pertenceria a poesia ao povo, ou seja, ao coletivo?
A obra foi escrita quando o mundo estava presenciando os horrores da Segunda Guerra Mundial, com todo o totalitarismo, as ameaças de dominação e a matança desenfreada. Nesse momento, o exército nazista já estava recuando e a maioria dos batalhões havia sido derrotada na Rússia, prenunciando a derrota da Alemanha e o final da guerra.
Já no Brasil, o autor presenciou o Estado Novo, sob a ditadura de Getúlio Vargas, e como os brasileiros queriam a volta do regime democrático e, consequentemente, o direito ao voto.
Assim, Drummond demonstra em “A Rosa do Povo” uma visão pessimista do social e do político ao mesmo tempo em que pensa no engajamento popular, fazendo relação com alguns de seus outros livros, como “ Sentimentos do Mundo” e “José”. Isso acontece porque ele e os outros artistas estavam frustrados com todas as coisas ruins que viam no Brasil e no mundo, e se questionavam como a arte e a escrita poderiam mudar isso e para quê elas serviam em meio a tudo o que estava acontecendo.
Em “A Rosa do Povo” temos oito temáticas principais, com maior destaque para as três primeiras, que apresentam a essência do livro:
Carlos Drummond de Andrade apresenta um livro repleto de temáticas variadas, mas com um foco especial para a tensão entre o engajamento popular (participação política) e uma visão pessimista (desencantada), refletida pelos sentimentos do autor em meio ao contexto histórico que ele presenciava ao seu redor.
Além disso, seus poemas são sempre cheios de metáforas, elipses e demais figuras de linguagem, além de trazer consigo alguns traços do surrealismo. Em meio a isso, o autor utiliza dois tipos de escrita: o estilo sublime e o estilo mesclado. O sublime é composto por uma linguagem culta e pouco acessível, enquanto o mesclado traz tanto uma linguagem culta quanto a linguagem coloquial.
Com isso, podemos ver um paradoxo em relação à obra, pois reflete sobre o papel da poesia na vida do povo, mas traz poemas refinados e pouco acessíveis, pois somente pessoas que liam bastante poesia ou já estavam acostumadas com um estilo poético complexo poderiam lê-la e entendê-la.
Além disso, seus poemas são escritos com versos mais longos (diferentemente de seus livros anteriores, que tinham versos curtos), com métrica irregular (verso livre) e com o uso de verso branco (ou seja, sem rimas).
Outra característica importante de seu modo de escrita é o desaparecimento do humor (muito presente em seus livros anteriores), passando a ter um tom muito sério. Além disso, o autor traz muitas situações cotidianas para mostrar a realidade e os problemas sociais.
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.
No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo,