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Violência contra as mulheres na universidade: o que deve ser feito?

Casos de denúncias de assédio sexual e estupro mostram que a violência contra as mulheres na universidade é uma realidade recorrente; veja a opinião de alunas sobre como combater o problema

“Eu estava usando uma saia um pouco acima do joelho e fui altamente assediada”. “Sofri agressão por ser chefe mulher e o servidor não aceitar” Busquei a coordenação do curso, disseram que o profissional tinha esse histórico (de assédio), porém era um grande profissional”

Essas são algumas das frases ditas por entrevistadas na pesquisa “Violência contra as mulheres na universidade: uma análise nas instituições de ensino superior no Amazonas”, feita pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e coordenado pela professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Milena Barroso. Entretanto, esse cenário está longe de ser um caso isolado de uma região do Brasil.

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Recentemente, outros dois casos de violência contra a mulher ocorridos dentro de instituições de ensino superior ganharam destaque na mídia: o do professor acusado de assédio sexual contra alunas na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a denúncia de estupro por uma estudante na Universidade de Brasília (UnB). 

Assim, diante dessa inquietante realidade no ensino superior, cabe o questionamento: o que pode ser feito para combater a violência contra as mulheres nos espaços acadêmicos? E mais: como tornar as universidades locais mais seguros para as estudantes, professores e colaboradoras? 

Confira abaixo a opinião de alunas e profissionais sobre a questão e veja quais medidas já estão sendo tomadas.

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Matheus Veloso/Metrópoles
violência contra mulheres na universidade
Manifestações na UnB reivindicam mais segurança às mulheres e repudiam a violência na instituição

Qual o cenário da violência contra a mulher nas universidades?

As ocorrências mencionadas acima apresentam dois fatores em comum: o fato das vítimas serem mulheres e estarem dentro da universidade, local onde supostamente deveriam se sentir seguras para estudar e se desenvolver na profissão que escolheram. Contudo, os dados revelam que os atos de violência contra a mulher são muito recorrentes no meio universitário

A pesquisa coordenada pela professora Milena Barroso contou com a participação de mais de 1.100 pessoas das instituições de ensino do estado do Amazonas, como o Instituto Federal do Amazonas (Ifam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e revelou que 38% já foram vítimas de algum tipo de violência na faculdade nos últimos cinco anos

Além disso, 83% avaliaram que ocorrência de algum tipo de violência na universidade durante os próximos seis meses seja provável. Os tipos de registros de violência mais frequentes vão desde assédio moral, sexual e estupro a discriminação social, racismo, xenofobia, homofobia, lesbofobia e transfobia. 

“As violências são múltiplas na universidade, desde as mais diretas até outras que, de tão naturalizadas, se confundem com a própria instituição. Nesse sentido, nossa pesquisa é uma contribuição para as universidades pensarem em políticas de segurança e proteção às mulheres e à comunidade acadêmica no geral. A sensação de insegurança e a violência são alarmantes e se colocam como impeditivos importantes para o sucesso nos projetos e carreiras acadêmicas e profissionais”, afirmou a coordenadora.

Já existem medidas que discutem a violência contra a mulher na universidade?

As estudantes Iara Marinho, Beatriz Calderon, Danielly Oliveira e Letícia Chagas são representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de São Paulo (USP) e contam que o tema da violência contra as mulheres no meio universitário é um dos tópicos que vem sendo discutido pela gestão da qual fazem parte, denominada “Tudo pra ontem”. 

Atualmente, a universidade conta com o projeto USP Mulheres, site integrado à Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, que se coloca como um espaço diverso, funcionando como um ambiente de denúncia e rede de apoio e também como espaço de discussão das questões de gênero, onde são realizados eventos e divulgações de trabalhos acadêmicos que abordam o tema. 

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Entretanto, conforme explica o DCE, embora a iniciativa seja muito importante, na prática, ela não pertence ao cotidiano universitário das mulheres, muitas vezes apenas permanecendo na parte teórica e burocrática da questão. 

Dessa forma, existem nos campi da universidade coletivos anti-opressão relacionados a centros acadêmicos e faculdades que buscam ser espaços seguros de denúncias, desabafos e até mesmo de incentivo a estudos sobre o tema, mas que muitas vezes não conseguem promover mudanças efetivas, que precisam do respaldo institucional. 

“De modo geral, podemos dizer que as medidas que buscam a segurança de mulheres nos campi estão mais relacionadas às medidas e discussões no espaço universitário que problematizam a desigualdade de gênero, sendo que aquelas que partem da reitoria acabam recaindo sobre um silêncio prático, e aquelas que estão sendo mobilizadas pelos coletivos acabam inviabilizadas”, afirma a gestão.

A estudante Clara Freitas, vice-presidente do DCE da Universidade Federal do ABC (UFABC), relata que foram relatos de assédio no entorno dos campi e estupros em festas da universidade que motivaram a Coletiva, coletivo de mulheres presente na instituição, na criação de uma comissão de segurança compostas por mulheres, destinada ao aumento da segurança das estudantes e colaboradoras nas festas, trotes e também dentro da própria universidade. 

Clara conta que, apesar da atual gestão do DCE ser recente, em uma pesquisa que fizeram sobre segurança nas dependências e entorno dos campi da universidade, eles se surpreenderam com o número de relatos de assédio recebidos, o que demonstra a urgência nas ações a serem tomadas.

“Hoje a maior insegurança pra nós, mulheres da UFABC, é a falta de segurança no entorno dos campi. Vamos construir no próximo mês um Seminário de Segurança Pública da UFABC com atores regionais, especialistas e comunidade acadêmica para debater a melhor medida a ser tomada. Também prevemos no nosso programa de gestão a implementação do Programa Vizinhança Solidária na região em que os nossos campi estão inseridos”, pontua.

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Segurança das mulheres na universidade: qual a visão das alunas?

Na opinião das alunas e representantes do DCE da USP, elas não se sentem seguras na universidade. Elas destacam que muitas vezes já ficaram sabendo de casos que atentaram contra a segurança das estudantes e que, inclusive, as ameaças às mulheres também se dão de formas mais subjetivas, como aquelas relacionadas à inferiorização intelectual ou no que se refere à divisão do trabalho por gênero.

“O ambiente da USP pode ser muito hostil em diferentes aspectos (…) Posso dizer que existe uma dificuldade absurda de se sentir segura dentro de um ambiente que, para além das opressões estruturais que nos acompanham dentro e fora da universidade, também reproduz as violências de gênero”, relatam.

Por sua vez, a estudante Clara comenta que, graças ao apoio das comissões de segurança existentes e das organizações Coletiva e Coletivo Marielle Franco (formado por mulheres negras), ela agora se sente mais segura dentro do campus.

Mas, ainda assim, conta que as ações contra qualquer violência devem continuar sendo discutidas e trabalhadas, sobretudo pelas autoridades docentes: “A permanência das mulheres nas universidades dependem também que as reitorias e gestões das universidades se responsabilizem por resolver os casos”, reitera.

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 O machismo tem relação com a violência contra a mulher na universidade?

Para ambas representantes dos DCEs, o machismo está diretamente relacionado com a violência contra a mulher nos espaços universitários, uma vez que ele é um elemento estrutural da sociedade na qual estamos inseridos e o espaço da universidade reproduz tal esquema social em diversas formas de violência, desde aqueles mais explícitas até aquelas mais veladas.

“Toda essa situação

[do machismo], quando não bem exposta e questionada pelas instituições vigentes, como a reitoria, que nas ações práticas e orgânicas se ausenta completamente, se reproduz e se mantém ocasionando uma série de problemas e violências”, afirmam as representantes dos DCEs

Na opinião de Clara Freitas, que também é a Diretora de Universidades Públicas da União Estadual dos Estudantes de SP (UEE SP), é inegável que o machismo é uma ferramenta de opressão das mulheres, que vem se perpetuando e se reproduz dentro das instituições superiores. 

Contudo, o problema vai além e abrange outras fases da vida das mulheres, que passam por violências antes mesmo de chegar na faculdade. Ela compartilha a sua própria história como exemplo:

“Eu já fui estuprada dentro da escola em que eu estudava, em Santo André. Esse ano completam 10 anos. Não aconteceu nada com os dois meninos que me estupraram. A escola e o Estado não se responsabilizaram com o meu caso. O compartilho porque é uma demonstração de como o machismo está presente nas ações individuais dos homens que violentam as mulheres, mas também em toda a nossa estrutura social”, revela.

O que deve ser feito para combater a violência contra as mulheres na faculdade?

Matheus Veloso/Metrópoles
Estudante na manifestação da UnB contra a violência contra as mulheres na universidade

Após a denúncia de estupro, a UnB informou que vai instalar 20 totens de segurança que serão distribuídos pelos 4 campi. Dois equipamentos de teste serão colocados em pontos considerados sensíveis e no totem terá um botão de emergência e quem se sentir ameaçado poderá acionar a segurança, que irá ao local para socorrer a vítima.

A Unesp, que também havia sido alvo de manifestações dos estudantes, afastou de forma preliminar, por 180 dias, o professor Marcelo Magalhães Bulhões, acusado por alunas de cometer assédio sexual na instituição. Em nota, a universidade afirmou que “toda e qualquer prática de assédio não é tolerada”, e ressaltou que vítimas de violência do tipo devem procurar a Ouvidoria da Unesp para formalizar as denúncias.

Entretanto, apesar de ser muito importante aumentar os recursos de segurança e punir aqueles que cometeram tais crimes, as ações de combate à violência contra as mulheres nas universidades não devem ser tomadas após ocorrer casos como estes, mas de forma preventiva, ou seja, evitando que as violências sejam cometidas.  

Segundo as representantes do DCE da USP, para entender como agir, primeiro deve-se entender sobre o que agir. Conhecer de fato as demandas e questões dos estudantes, e quais as as lutas e inseguranças que enfrentam no espaço universitário, possibilita atuar de forma certeira e efetiva para a diminuição e fim de todos os tipos de discriminações e violências, especialmente contra as mulheres.

“A ação que deve preceder é justamente um reconhecimento de como a situação de apresenta, e sobre isso pensar uma mobilização dos diferentes coletivos, para, formalmente, reivindicar pelas pautas nos espaços institucionais, como coordenação e reitoria da universidade”, explicam. 

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